domingo, 26 de junho de 2011

100 anos da Assembléia de Deus no Brasil

Biblicamente não creio nem estou convencido que o culto cristão genuíno seja pentecostal. Se os 100 anos da Igreja Assembléia de Deus (AD) devem ser parabenizados, certamente tal denominação deverá ser parabenizada por seus feitos sociais polinizadores e ações sociais em geral, mas a bandeira do pentecostalismo em seu cerne é uma coletânea de erros doutrinários. A começar pela ênfase em supostos dons espiritual fundamentados em experiências. Sem falar do legalismo de uso e costumes. Tais coisas estranhas não honram o equilíbrio da sã doutrina.

Apesar de algumas mudanças positivas hoje, como por exemplo, uma maior preocupação da linha editorial de sua casa publicadora, as Assembléias de Deus, na prática, ainda são inventoras ativas de novas tradições humanas, em nome de uma “espiritualidade” e “unção”, e todo movimento contrário é taxado de frio e não-espiritual.

Muitas dessas igrejas não sobrevivem sem aquecer a lareira das pregações e cânticos triunfalistas. Nos cultos, há muito holofote para cantores, teatros, corais, testemunhos pessoais, profecias particulares e honras floridas às personalidades e autoridades presentes. Ou seja, princípio regulador de culto é algo desprezado e desconhecido.

A produção musical é pobre de doutrina apostólica e demasiadamente antropocêntrica. E muitos chamam tais movimentos de avivamentos e bênçãos. Pastores “intocáveis e ungidos” determinam o que é verdade e se blindam num tipo de imunidade em nome de Deus.

É certo que muitos irmãos dentro da AD estão inconformados com certos moveres anti-bíblicos, e estes merecem honra pelo esforço e batalha. Tais irmãos, que ao serem zelosos em erguer a bandeira da herança reformada, são perseguidos e classificados de hereges pelas lideranças da denominação, continuam inconformistas e realmente estão plantando uma semente de um novo mover de Deus genuíno.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Cântico dos Salmos, Exclusivamente!

O afastamento de diversas denominações presbiterianas do cântico exclusivo dos salmos (i.e, do culto bíblico) deveu-se basicamente a três razões.

(1) Diversas igrejas presbiterianas perderam o entendimento bíblico do princípio regulador do culto e por isso só o aplicavam ao ato de culto público. Reuniões “particulares”, culto familiar e particular eram consideradas áreas da vida que estavam fora alcance do rígido parâmetro da aprovação divina. Praticamente todas as inovações dos séculos dezoito e dezenove penetraram nas igrejas através de práticas que foram arbitrariamente colocadas para fora da “sola scriptura” (e.g., culto familiar, Escola Dominical, reuniões de avivamento, etc.).

(2) Muitos presbiterianos foram influenciados pelo sentimentalismo do reavivamento pietista que varreu as colônias durante o século dezoito. Ao longo desse período várias famílias e pastores começaram a usar a “Imitação dos Salmos de Davi” [Psalms of David Imitated, 1719] de Isaac Watts, em lugar do saltério (1650) cuidadosamente traduzido e empregado pelos presbiterianos daqueles dias. A versão dos salmos de Watts era um afastamento radical do cântico exclusivo de salmos, sendo muito mais que uma paráfrase dos salmos. Em muitas ocorrências equivalia a hinos não-inspirados vagamente baseado nos Salmos. Não se deve esquecer jamais que Isaac Watts, no prefácio de seu Hymns and Spiritual Songs [Hinos e Canções Espirituais, 1707], admitia abertamente que considerava os Salmos de Davi como falhos, “contrários ao evangelho” e capazes de fazer os crentes “falarem falsamente a Deus”. A versão dos Salmos de Watts foi aceita por muitas famílias e diversos ministros, e foi uma pedra de passagem para a clamorosa hinologia do hinário de Watts.

(3) As inovações do século dezoito não teriam se enraizado se os presbitérios das colônias tivessem feito seu trabalho e disciplinado os ministros que haviam corrompido o culto a Deus e se apartado da Escritura e dos Padrões de Westminster. Havia uma certa indisposição em fazer da pureza do culto uma questão de disciplina. Ocorreram várias disputas a respeito da versão de Watts de 1752 até 1780. O resultado, entretanto, era sempre o mesmo. O presbitério ou sínodo envolvido recusava tomar atitudes decisivas, permitindo, dessa forma, que as imitações de Watts permanecessem. Como resultado, os que não desejavam se contaminar separaram-se em grupos presbiterianos bíblicos menores. O declínio foi codificado em 1788 quando se adotou um novo diretório para o culto que modificava a declaração de “cântico de salmos” do diretório de 1644 para “por cântico de salmos e hinos”.


Brian M. Schwertley é Mestre em Divindade pelo Reformed Episcopal Seminary, Philadelphia, USA. Bacharel em Artes, com honras, pela Universidade Temple (Concentração em História), Philadelphia, USA. Pastor da Chalcedon Christian Church da Igreja Presbiteriana Reformada dos E.U.A., MI. Trabalhou como plantador de igrejas na Reformation Fellowship (RPCNA) Mission Church, Lansing, MI, de 1995 a 2000. Foi também palestrante no Simpósio Os Puritanos, em Junho de 2001, no Recife, e na Conferência sobre Adoração do Greenville Seminary (onde debateu sobre a Salmodia Exclusiva), em Março de 2003. Autor de vários artigos e livros teológicos, entre eles: “O Modernismo e a Inerrância Bíblica”; “O Movimento Carismático e as Novas Revelações do Espírito” e “Sola Scriptura e o Princípio Regulador do Culto”. Brian é casado com Andrea há 21 anos e têm cinco filhos, todos educados em sistema de homeschool (ensino doméstico).

E-mail: mbschertley@athena.com

Home page: http://www.reformedonline.com/

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Avalie o preço

Será que um homem que ama o seu Senhor estaria disposto a ver Jesus vestindo uma coroa de espinhos, enquanto ele mesmo almeja uma coroa de louros? Haveria Jesus de ascender ao trono por meio da cruz, enquanto nós esperamos ser conduzidos para lá nos ombros das multidões, em meio a aplausos? Não seja tão fútil em sua imaginação. Avalie o preço; e, se você não estiver disposto a carregar a cruz de Cristo, volte à sua fazenda ou ao seu negócio e tire deles o máximo que puder, mas permita-me sussurrar em seus ouvidos: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”
Charles Haddon Spurgeon

quinta-feira, 18 de março de 2010

Gola clerical

O uso de vestes especiais por parte dos oficiais da igreja serve para representar o seu ministério entre o povo. Entre estas vestes especiais se destaca o colarinho clerical. Este é normalmente o colarinho de uma camisa ou colete com uma aba branca destacável frente. Originalmente era feito de algodão ou linho, mas normalmente é feito hoje de plástico. Às vezes (especialmente na prática católica romana) a aba é fixa com um colarinho que cobre quase completamente, deixando um quadrado branco pequeno à base da garganta. Em muitas igrejas e em muitos locais, por não saberem da origem e do significado, não se aceita o uso de colarinho clerical. Com a devida orientação os cristãos passarão a entender a conveniência e a oportunidade do seu uso.

Origem e uso
O colarinho clerical é uma invenção bastante moderna (é provável que tenha sido inventado em 1827). Aparentemente, foi inventado pelo Rev. Dr. Donald McLeod, pastor anglicano. Foi desenvolvido para ser usado no trabalho cotidiano do ministro (mais prático que a batina). Hoje é usado por pastores nas diversas denominações Cristãs como presbiteriana (é dito que o colarinho clerical se originou na Escócia), luterana, metodista, pentecostais e, também, por ministros Cristãos não denominacionais.
Os católicos romanos passaram a usá-lo a partir do Concilio Vaticano II, em substituição a batina, em situações especiais, essa adoção deve-se aos padres Jesuítas. É usado por todos os graus de clero: bispos, presbiteros (padres) e diaconos, e também por seminaristas. Na tradição Oriental, às vezes, os subdiacono e leitores também o usam.

Significado
O colarinho clerical simboliza que quem o usa é um servo, pois este colarinho estava ao redor do pescoço dos escravos no mundo antigo. As pessoas que o usam servem como Ministros de sua Palavra. Toda a igreja tem compromisso com o testemunho de Cristo no mundo, no entanto, o pastor compromete-se de modo específico com o Ministério da Palavra. Assim, o colarinho clerical simboliza esse compromisso pastoral com o anúncio do Evangelho. O colarinho branco sobre fundo preto envolvendo a garganta é simbólico da Palavra de Deus proclamada.

Relevância
O uso de símbolos é um sinal e um testemunho vivo de Deus no mundo secularizado. Pois uma das características do movimento de secularização o desprezo por sinais e símbolos religiosos. Para as pessoas o fato de ver um ministro com o colarinho clerical já é um testemunho de fé. Assim como vendo um militar lembramos-nos da Lei, e vendo um enfermeiro (a) com seu uniforme branco lembramos o hospital. Igualmente é válido para os pastores que freqüentam lugares públicos usar o colarinho clerical.

Conclusão
O Revmº. Robinson Cavalcanti, Bispo anglicano, testemunha: “Sempre viajo, e me dirijo a eventos públicos, vestido de colarinho clerical (clergyman), sem vergonha de ser cristão e de ser ministro do Evangelho. Se pouquíssimas vezes fui por isso hostilizado na Universidade, perdi a conta das centenas de oportunidades para testemunhar de Cristo, a partir desse aspecto visual”. Em nosso mundo dessacralizado, os símbolos não podem ser esquecidos. Não podemos nos conformar com o século. O colarinho clerical é um símbolo importante. Sacraliza visivelmente o mundo sinalizando a dedicação ao ministério.

Recebi este texto através de e-mail pelo Rev. Jaziel Cunha, Igreja Presbiteriana Conservadora.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Presbiterato e vestes talares

Um presbítero da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil me mandou, recentemente, um scrap no Orkut, perguntando o seguinte:

Quanto às vestes talares de pastores e leigos, lembro-me (se não me falha a memória) que você indicou um "link" onde mostrava modelos das vestes. Minha pergunta é justamente o que foi discutido na comunidade "Liturgia" a respeito das vestes e o uso pelos Presbíteros, já que a vestimenta está associada ao título de quem a veste, ou seja, Reitor, Reverendo, Juiz, etc. e se para o presbítero poderia haver uma toga que diferenciasse das demais. Desde já, agradeço.



Bom, vamos por partes. O costume cristão bi-milenar é de que todos quantos tenham uma participação na condução do culto estejam trajados de modo a identificá-los como servos consagrados para essas tarefas. É por isso que em igrejas católicas romanas, ortodoxas orientais, anglicanas e luteranas, tanto os ministros como também o coro e os auxiliares (acólitos, ou "coroinhas") sempre tenham uniformes que os identifiquem como tal.

Para mim, isso não é clericalismo, ou uma negação do sacerdócio universal de todos os santos; é apenas um uniforme que identifica quem vai fazer o quê. Isso nivela os participantes, que não serão mais vistos ou identificados por seu gosto (bom ou mau) para roupas, ou pior, pelo seu nível social, perceptível nas marcas que se usa. Eu fiquei extremamente desconfortável na minha adolescência, quando participava do conjunto musical dos jovens, quando alguém da igreja comentou que parecia que só podia subir à frente e participar do conjunto quem vestisse roupas de griffe. E, se parecia, era porque era isso mesmo que se via; tirando eu, que, adolescente desleixado, só vestia calça jeans e camiseta Hering, o resto do povo (especialmente as meninas) parecia pronto para ir desfilar no shopping (que acontecia com freqüência depois do culto). Mas o que importa é que ninguém está ali para se mostrar, ou para ostentar seus gostos e posses pessoais. Por isso, o uniforme ajuda.

Mas tornemos à pergunta do amigo presbítero. Tecidas essas considerações sobre os uniformes dos servos que lideram o culto, isso fica ainda mais patente quanto aos presbíteros. Na minha infância, era comum que todos os presbíteros vestissem terno e gravata para a Santa Ceia. Até os anos 80, era uma coisa uniforme. Mas dos anos 90 para frente, quando mudou a moda no corte dos ternos, ficava aquela coisa ridícula (clique nas palavras para ver do que estou falando): ternos xadrez, quadriculados, gravatas berrantes que eram curtas demais ou compridas demais, com aquelas lapelas que chegavam nos ombros... Enfim, os presbíteros viraram motivo de riso, porque, fora de moda como estavam, pareciam palhaços! E por conta disso, abandonou-se completamente o uso do terno por eles, em todas as igrejas que eu conheço! O efeito disso é fazer parecer que os sacramentos não são mais tão importantes assim, pois para participar da sua ministração, eles estão vindo vestidos casualmente. Um presbítero (atualmente, pastor) que eu conheço, muito gente boa e cuja filha eu já paquerei (hehe), chegou ao ponto de ir de camisa havaiana florida. "Anunciais a morte do Senhor até que ele venha" passou longe desse dia...

Na minha opinião, é interessante que haja um uniforme também para os presbíteros regentes, que reflita que os sacramentos e ritos sacramentais dos quais eles participam (Sagrado Batismo, Sagrada Eucaristia, Profissão de Fé, Ordenação e, em alguns casos, a Unção dos Enfermos) são, em primeiro lugar, atos importantes na vida cristã e, em segundo lugar, atos da Igreja de Cristo (que têm o poder de ligar na terra e no céu, e desligar na terra e no céu).

Mas qual uniforme?

A toga preta no corte de Genebra tem sido reservada, como o amigo consulente mencionou, para aqueles que desempenham o papel de presidência: Reitores, Juízes e Ministros do Evangelho. Em algumas igrejas (sobretudo anglicanas reformadas), os Mestres-de-Capela, embora não sejam sempre ordenados, também a usam. Mas não tenho notícia de presbíteros regentes usando-a.

Vamos, então, nos voltar para a Igreja Cristã bi-milenar.

Na igreja dos primeiros séculos, criou-se o costume dos recém-batizados trajarem-se usando um talar branco, de mangas justas e gola redonda. Essa era a roupa mais formal em uso no Império Romano; em geral, usava-se togas mais curtas, às vezes mesmo sem mangas, como já cansamos de ver nos filmes. Essa túnica talar era especialmente formal, para uso em ocasiões especiais. Por isso, seu uso pelos recém-batizados: eles acabavam de ser incorporados à Igreja de Cristo, e isso, naqueles tempos de perseguição, parecia ter um significado bem mais forte do que hoje infelizmente se vê.

Esse traje foi uma das coisas que a Igreja Católica Romana conservou, apesar das mudanças da moda que as invasões bárbaras ocasionaram (uso de calças e calçados fechados, por exemplo...). É, ainda hoje, vestido nas igrejas (católicas e protestantes, indistintamente) que conservam a tradição cristã ocidental. É a chamada alba, ou alva (foto abaixo).



Ela não é de uso exclusivo de ministros ordenados, mas pode ser usada por todos aqueles que foram batizados em nome da SS. Trindade. Ela é, ainda hoje, usada como a primeira camada de pano dos padres católico-romanos, anglo-católicos e luteranos de high-church, e fica por baixo da casula, como eu já disse no primeiro post do blog.

Então eu creio que a alba é uma boa pedida para ser a base do uniforme dos presbíteros regentes. Mas não só ela.

Como a alba é de uso comum por todos os batizados (e eu acho curioso notar que, de todos os não-conformistas, justamente os batistas conservem o seu uso original, como roupa batismal!), talvez seja interessante adicionar um elemento distintivo, que indique à primeira vista qual a função do servo que a está usando.

Aqui, eu sou a favor do uso da estola de presbítero. Explico-me.

Na tradição da igreja ocidental, geralmente se reconhecem dois ofícios ordenados (diácono e presbítero) e um ofício consagrado (bispo hierárquico). Cada um deles tem a alba como vestimenta-base, mas cada um tem, também, acessórios que permitem identificar prontamente quem é o quê.

O bispo, por exemplo, por cima da alba veste casula e copa (uma espécie de capa), usa um chapéu conhecido como mitra e carrega na mão um cajado chamado báculo. Abaixo, uma foto do Bispo Diocesano de Paisley, na Inglaterra, e seu filho, que é deão da mesma catedral (obviamente, na Igreja Anglicana).


O diácono, por cima da alba veste a sua estola, que tem um design próprio, pendendo de um dos ombros e presa à ponta do lado oposto. Usada deste jeito, ela representa o serviço, lembrando a toalha de que o Senhor Jesus se cingiu para lavar os pés dos Apóstolos (foto abaixo).


Já a estola do presbítero (até a Reforma Protestante, não existia a diferenciação entre presbítero docente e regente) pende livremente, pendurada pelo pescoço. Ela representa o jugo do Senhor Jesus, que é suave (relembrando que "jugo" é sinônimo de canga, a peça que prende o boi para puxar o carro ou o arado). Serve também para lembrar o seu usuário de que ele é servo, e não senhor. Por isso, também prefiro as estolas simples, de tecido liso e bordado discreto, aos festivais de fios de ouro e brocados que se viam na Idade Média.

Interesante notar que, mesmo na conservadoríssima Presbyterian Church of America, muitos ministros têm trocado a toga genebrina pela alba, mantendo a estola. Abaixo, foto de dois ministros da PCA (no púlpito, o Rev. Jeff Meyers, de cujo site tenho tirado muita, mas muita coisa boa, confiram!).


Pois a minha proposta, para os presbíteros que estão a fim de adotar um uniforme, tanto para destacar a natureza eclesiástica da sua função (não é um casamento de cartório, não é uma audiência no fórum, para se usar terno e gravata) como para ressaltar a sua importância (porque não se vai de calça jeans e camiseta pólo para nada importante), é justamente essa: a alba com estola. Não está invadindo a prerrogativa exclusiva de ninguém (como seria se eles resolvessem vestir a toga de Genebra) e ainda respeita 2000 anos de tradição cristã!

Fonte: http://liturgiareformada.blogspot.com/2008/07/presbiterato-e-vestes-talares.html

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A subutilização do Evangelho gera o arminianismo e o pentecostalismo (Parte II)

Infelizmente as velhas e novas heresias são atraentes pelo seu poder em priorizar as questões de “poderes, cura e mercado”. A formação lobo-pastoral prioriza a “inovação” como um ingrediente vital para o sucesso de uma igreja, como se fosse um negócio. Se o povo está sedento por “milagres econômicos” ou curas, os lobos identificam a oportunidade e realizam uma estratégia de marketing religioso. Se uma igreja consegue lotar galpões de “fiéis”, outros lobos analisam o “produto” da concorrência e propõe novos “produtos” para captar mais fiéis. E assim vira uma bola de neve, sem trocadilho. Tal mentalidade eclesiástica é fundamental para lidar com a concorrência religiosa. Sob este viés a igreja é pensada como uma estratégia empresarial. Agem como cães que não temem o que está escrito em Gálatas 6.7: Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.

Seguindo o planejamento estratégico diabólico de crescimento de “igreja-negócio” a oportunidade atual identificada para explorar os fiéis é o neopentecostalismo , o pentecostalismo e o arminianismo, alguns são mais fervorosos que outros, mas todos, em certa medida, não fazem bom uso da prudência cristã bíblico-doutrinária e detêm a verdade. -- Ó homens, até quando tornareis a minha glória em vexame, e amareis a vaidade, e buscareis a mentira? (Salmos 4:2).

A teologia contemporânea acabou com as confissões de fé, com os cânones, com a boa exegese, com a interpretação histórico-gramatical, com o Princípio Regulador de Culto, os valores tradicionais bíblicos, a teologia clássica e perene. O que vale é a “teologia de liquefação”, instantânea fusão, efêmera, mutante, customizada ao sabor dos infiéis. As igrejas querem ser agradáveis a todo custo, tornam-se personalizadas, cada um crê de um jeito diferente e ao seu modo e gosto. Tudo é válido e espirituoso. É muito provável que, Deus, segundo os exemplos da história da Igreja, manifeste uma reação à altura dessa inquietação efêmera revertendo todo esse cenário para a Sua glória. Oremos por um avivamento genuíno! -- Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento? (Provérbios 1:22).

Deus certamente acabará com os excessos e o “algo mais” dessa geração incrédula. Sua poderosa mão abolirá os ruídos e interferência de Sua majestosa Palavra. Deus pode e varrerá essa instabilidade, porque a boca do SENHOR o disse. Saberemos quando entrarmos num verdadeiro avivamento quando o SENHOR varrer o arminianismo, pentecostalismo e neo-pentecostalismo da face da terra, pois, [Deus] destróis os que proferem mentira (Salmos 5:6).

O certo é que a igreja Atual passa por um momento sem precedentes na sua história devido a pluralidade e o caos das teologias. Mas graças ao Eterno que essa “sujeira evangélica” não encobriu a visão de toda igreja, -- Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal (Romanos 11:4), -- há pregadores, teólogos, escritores e irmãos multiplicadores que não se deixaram contaminar ao ponto de perder o foco da mensagem que impacta e muda a vida dos eleitos. Os propagadores da boa teologia e do bom caminho, antes de tudo, são formadores de conceitos e opiniões.

Faz parte da competência da boa teologia, reconhecer e combater os modismos, as tendências antibíblicas, comparar os pontos de vista histórico, cultural e social das gerações. As velhas heresias vão ganhando novas roupagens, e a atual geração de evangélicos vêm reproduzindo formas de misticismos e arminianismo, que sem dúvida prevalecem. Hoje em dia, raramente se busca produzir pregações e estudos bem estruturados exegeticamente, ricos em doutrinas fundamentais da fé cristã, “tal coisa é trivial”, pensa a massa evangélica. O que eles não sabem é que estão apenas reproduzindo heresias já condenadas por cânones bíblicos. A teologia pós-moderna não passa de rebelião, negando a Suficiência das Escrituras. Nesse momento, a teologia sólida e perene passa a ser ignorada como algo estranho e transforma-se em interpretações aleatórias e independentes, porém ao mesmo tempo dependente do repertório e do gosto da massa evangélica confiante. Tais não ouvem Jeremias 7.4 que diz: Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este.

A Igreja não precisa de uma teologia baseada na desordem, na irracionalidade e falta de coerência, ele não precisa de pastores psicólogos que pregam de forma intuitiva e comunicam somente amenidades aos ouvintes. Deus requer de seus profetas que quebrem muitos paradigmas CONTRA O MUNDO e não que inovem em sua Palavra. Não precisamos de um novo Evangelho. O respeito, a reverência e o temor ao estudar e propagar o Evangelho é a marca característica dos genuínos pregadores.



Frases para meditar:

“Tão grande é a depravação do homem não-regenerado que, embora não
haja nada que ele necessite mais do que o evangelho,
não há nada que ele deseje menos”.
R. B. Kuiper



“Se você crê somente no que gosta do evangelho e rejeita o que não gosta,
não é no evangelho que você crê, mas, sim, em si mesmo”.
Agostinho

A subutilização do Evangelho gera o arminianismo e o pentecostalismo (Parte I)

Assim diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos.
(Jeremias 6:16)

Não esperamos nenhum novo mundo em nossa astronomia nem nenhuma nova Bíblia em nossa teologia.
Augustus H. Strong


O cenário evangélico atual é algo bem distinto da herança da Reforma Protestante. Hoje se fala muito em “poder, cura, batalha espiritual e vitória financeira”, mas na verdade é ínfimo o potencial que se está utilizando das Escrituras nas igrejas contemporâneas, em sua maioria. Quase toda pregação no presente é subjetiva, superficial e ilusória, mas não por isso impopular. Pelo contrário, de tão pop influencia as igrejas antes tradicionais -- presbiterianas, congregacionais e batistas. -- O arminianismo e o pentecostalismo com seus tentáculos midiáticos e seu forte sectarismo abraçam praticamente todos os pontos de pregação. O que muitos não atentam é que nem sempre foi assim e que é preciso retornar às antigas veredas em busca de obediência e temor.

Não precisa ir muito longe para captar bons exemplos de igrejas. Décadas atrás a sistematização doutrinária pregada nos púlpitos era mais harmoniosa doutrinariamente, simples e prática. Porém a condição pós-moderna impôs uma convivência com a pluralidade, a fragmentação, a heterogeneidade e contradições sem igual. De tempos em tempos nasce um novo modismo, transitório como fogo de palha. Muitos pregadores que seguiram ou seguem este “fogo estranho” exalam sua fumaça presentemente, e os “adoradores” em “carne e em mentira” amam aspirá-la.

A variedade de estilos das manifestações doutrinárias mina a harmonia doutrinária ortodoxa e confessional do protestantismo histórico. A bandeira evangélica contemporânea para um observador externo é complexa, cheia de contradições, incertezas e simulações inquietantes. Os evangélicos ironizam e rejeitam suas próprias raízes. As premissas sólidas são simplesmente jogadas no lixo como algo não prioritário. O espírito antidogmático reina e todos adormecem na sonolência da irracionalidade. Doutrinas apostólicas perenes e universais são consideradas heresias pelos seguidores de “novos apóstolos” e suas seitas. Há quase 500 anos Lutero já dizia: “Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”, hoje se diz o inverso e com “autoridade”.

Nunca foi tão válida a expressão “os fins justificam os meios”, a igreja pós-moderna focaliza-se nos modos e meios de representações que provêm das experiências subjetivas dos evangélicos e fazem disso sua formação “doutrinária”. A teologia de hoje não tem uma estrutura sólida e bem construída, ela é muito mais uma “demolidora irresponsável” e desconstrucionista. A identidade evangélica é fluida, plural, paródia e fragmentação dos antigos cristãos, apoiada em fundamento de areia das novas roupagens das velhas heresias. O protestantismo histórico deve retomar seu protesto contra tais coisas pensando na Igreja da próxima geração, como frisou Francis Schaeffer: “Se não tornarmos clara nossa posição, com palavras e obras, em favor da verdade e contra as falsas doutrinas, estaremos edificando um muro entre a próxima geração e o evangelho”.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal


Por Rev. Brian Schwertley


Traduzido por Rogério Portella


O Princípio Regulador do Culto possui implicações claras para quem deseja promover a celebração do Natal. Ele obriga quem deseja comemorar essa data a provar, a partir das Escrituras, que Deus a autorizou. Isso, na verdade, é impossível. Além do mais, a celebração do Natal viola outros princípios bíblicos.


O Natal é um monumento à idolatria passada e presente


O dia em que o Natal é celebrado (25 de dezembro) e quase todos os costumes associados a ele têm origem na adoração pagã de ídolos. “Muitos habitantes da Terra eram adoradores do Sol porque o curso de sua vida dependia da rotação desse astro nos céus, e festas eram celebradas para auxiliá-lo no retorno de viagens distantes. No sul da Europa, no Egito e na Pérsia, as divindades representantes do Sol eram adoradas com cerimônias elaboradas no solstício de inverno —como o tempo adequado para render tributo ao deus benigno da fartura—, enquanto em Roma as saturnais duravam uma semana. Nas terras do norte, o tempo exato era por volta do dia 15 do mês de dezembro, pois os dias se tornavam mais curtos e o Sol estava fraco e distante. Dessa forma, esses povos antigos festejavam no mesmo período em que o Natal é observado hoje.”a Durante o solstício de inverno os babilônios adoravam Tamuz,b os gregos e romanos adoravam Júpiter, Mitra, Saturno, Hércules, Baco e Adônis; os egípcios adoravam Osíris e Hórus; os escandinavos adoravam Odim (ou Vodã). “Entre as tribos germânicas e celtas o solstício de inverno era considerado um importante ponto do ano, e eles celebravam o festival de Yul —o mais importante— para comemorar o retorno da ‘roda flamejante’. O azevinho, o visco, a fogueira de Yule e os filós são relíquias de eras pré-cristãs.”


O Natal nunca foi celebrado pela igreja apostólica. Tampouco foi festejado durante os primeiros três séculos da Igreja. Por volta de 245 d.C., Orígenes (na Oitava Homilia sobre Levítico) repudiou a idéia da celebração do nascimento de Cristo “como se ele fosse um faraó”.d Em meados do século IV, várias igrejas ocidentais de língua latina passaram a celebrar o Natal. Durante o século V, essa festividade se tornou um dia santo da Igreja Católica Romana incipiente. No ano 534, o Natal foi reconhecido feriado oficial pelo Estado romano.


A razão para o Natal ter se tornado um dia santo não diz respeito à Bíblia. A Escritura não explicita a data do nascimento de Cristo. Em nenhum lugar da Bíblia somos incentivados a celebrar o nascimento de Jesus. O Natal (bem como outras práticas pagãs) foi adotado pela Igreja de Roma como estratégia missionária.


A fusão com o paganismo como estratégia missionária foi claramente revelada pelas instruções do papa Gregório Magno aos missionários no ano 601: “Pelo fato de eles [ospagãos] sacrificarem bois a demônios, alguma celebração deve lhes ser dada em troca dessa [...] eles devem celebrar uma festa religiosa e adorar a Deus mediante sua celebração, de forma a manterem os prazeres externos e poderem, rapidamente, receber alegrias espirituais”.


Esse sincretismo explica a razão dos costumes do Natal serem completamente pagãos. A árvore de Natal era usada porque árvores sagradas tinham um papel importante na adoração pagã durante o solstício de inverno. Na Babilônia, a sempre-verde representava Ninrode voltando à vida como Tamuz, supostamente nascido de uma virgem, Semíramis. Em Roma, decoravam-se pinheiros com frutinhas vermelhas para celebrar as saturnais.f Os escandinavos colocavam pinheiros em suas casas em honra ao deus Odim. “Quando os pagãos do norte da Europa se tornaram cristãos, transformaram suas sempre-verdes sagradas em parte da festividade cristã, e decoravam árvores com nozes douradas, velas (remanescente da adoração ao Sol) e maçãs para representar as estrelas, a Lua e o Sol.”

O acendimento de fogueiras especiais e de velas em 24 e 25 de dezembro origina-se no culto ao Sol. O uso de fogueiras tem sua origem provável no culto prestado a ele pelos druidas. Não se permitia que a madeira fosse totalmente queimada, parte dela seria usada para iniciar o fogo do ano seguinte (possivelmente, símbolo do renascimento do astro). “Os romanos ornamentavam seus templos e suas casas com galhos verdes e flores para as saturnais, a estação do contentamento e da troca de presentes; os druidas juntavam visco com uma grande cerimônia e o penduravam em suas casas; os saxões faziam uso do azevinho, da hera e de louros.”
O fato de o Natal estar repleto de práticas pagãs é universalmente reconhecido: “Contudo, muitos cristãos alegam que essas práticas não mais possuem conotações pagãs, e crêem que a celebração do Natal oferece uma oportunidade para culto e testemunho”. Os cristãos dizem não adorar a árvore de Natal, e que as origens pagãs jazem no passado remoto e tornaram-se inofensivas. Entretanto, esse conceito, apesar de comum em nossos dias, demonstra a total desconsideração do ensino bíblico concernente aos ídolos, à parafernália associada à idolatria, e aos monumentos idolátricos.


Deus odeia tanto a idolatria que Israel não foi ordenado apenas a evitar o culto aos ídolos. Ordenou-se especificamente que Israel destruísse todas as coisas associadas com a idolatria.

Totalmente destruireis todos os lugares, onde as nações que possuireis serviram os seus deuses, sobre as altas montanhas, e sobre os outeiros, e debaixo de toda árvore frondosa; e derrubareis os seus altares, e quebrareis as suas estátuas, e os seus bosques queimareis a fogo, e destruireis as imagens esculpidas dos seus deuses, e apagareis o seu nome daquele lugar. [...] e que não perguntes acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram essas nações os seus deuses, do mesmo modo também farei eu. Assim não farás ao SENHOR teu Deus… (Dt 12.2-4,30,31).


Quando Jacó saiu para purificar o campo (i.e., sua casa e seus serviçais) os brincos foram retirados bem como seus deuses estrangeiros (Gn 35.4), porque os brincos deles estavam associados com seus falsos deuses. Eles eram sinais de superstição. Quando Elias foi oferecer seu sacrifício, em uma disputa com os profetas de Baal, ele não usou o altar pagão, algo criado para os ídolos (p.ex., as saturnais), e tentou santificá-lo para o serviço de Deus (p.ex., Natal); em vez disso, ele reconstruiu o altar do Senhor. Os cristãos não deveriam tomar emprestado o festival pagão de Yule ou as saturnais e vesti-los com roupagem cristã; deveriam, em vez disso, santificar o dia do Senhor como fizeram os apóstolos. Quando Jeú se levantou contra os adoradores de Baal e seu templo, ele porventura poupou o templo e o separou para Deus? Não! Ele matou os adoradores de Baal: “Também quebraram a estátua de Baal; e derrubaram a casa de Baal, e fizeram dela latrinas, até ao dia de hoje” (2Rs 10.27).


Além disso, temos o exemplo do bom Josias (2Rs 23), porque ele não apenas destruiu as casas e os altos de Baal, mas também seus utensílios, bosque e altares; sim, os cavalos e os carros dados ao sol. Também o exemplo do penitente Manassés, que não apenas destruiu os deuses estrangeiros, mas também seus altares (2Cr 23.15). E de Moisés, o homem de Deus, que não se contentou apenas em executar vingança contra os israelitas idólatras, a menos que ele pudesse também destruir totalmente o monumento de sua idolatria.
Deus não deseja que sua Igreja use festividades e cerimônias pagãs e papistas, além de sua parafernália, e as separe para o uso cristão. Ele nos ordena de forma direta a extinguilas totalmente da face da terra, para sempre. Talvez você não se ofenda com a fogueira, a árvore de Natal, o visco, as frutinhas vermelhas e a escolha de uma data pagã para celebrar o nascimento de Cristo, mas Deus se ofende. Ele ordena que evitemos qualquer contato com os monumentos e com a parafernália do paganismo.


Caso sua mulher tivesse levado uma vida promíscua antes de você se casar com ela, você se ofenderia se ela mantivesse fotos de seus ex-namorados em sua penteadeira? Você se incomodaria se ela celebrasse os diversos aniversários relativos aos relacionamentos do passado? Você se ofenderia se ela guardasse e demonstrasse apreço por anéis, jóias e presentinhos dados a ela por seus antigos namorados? Logicamente você se ofenderia! O Senhor Deus é infinitamente mais zeloso de sua honra que você: ele é o Deus zeloso. Israel poderia usar os dias festivos de Baal, Astarote, Dagom e Moloque para agradar a Deus? De forma nenhuma! A Bíblia deixa muito claro quais reis de Judá agradaram mais a Deus. Ele é servido quando ídolos, seus templos, suas vestes religiosas, brincos, casas consagradas, árvores sagradas, postes, ornamentos, ritos, nomes e dias são eliminados da face da terra, para nunca mais serem restaurados. Deus deseja que sua noiva elimine para sempre os monumentos, dias, a parafernália e as recordações da idolatria: “Não aprendais o caminho dos gentios, nem vos espanteis dos sinais dos céus; porque com eles se atemorizam as nações. Porque os costumes dos povos são vaidade” (Jr 10.2,3). “Assim não farás ao SENHOR teu Deus; porque tudo o que é abominável ao SENHOR, e que o aborrece, fizeram eles a seus deuses” (Dt 12.31).


Os cristãos não devem se desvencilhar apenas dos monumentos idolátricos do passado, mas também de todas as coisas associadas à idolatria presente. O Natal é o dia santo mais importante do catolicismo romano. O nome Natal* provém do romanismo: Christmass — a “missa de Cristo”. O nome christmas [Natal] une o título de nosso glorioso Deus e Salvador com a idolátrica e blasfema missa do papado. Dessa forma, o Natal [christmas] é uma mistura de idolatria pagã e invenções papistas.


A Igreja Católica Romana odeia o Evangelho de Jesus Cristo. Ela se vale de artifícios humanos, como o Natal, para manter milhões de pessoas em trevas. O fato de muitos milhares de protestantes que dizem crer na Bíblia observarem o dia santo católico romano —sem qualquer mandamento explícito da Palavra de Deus— revela o triste estado do evangelicalismo moderno. “Não podemos nos conformar, comungar e nos identificar com os papistas idólatras, ao usar os mesmos [símbolos], sem nos tornarmos a nós mesmos idólatras mediante nossa participação.” Nossa atitude deve ser a do reformador protestante Martin Bucer, que disse:


Desejo do fundo do meu coração que todos os dias santos, com exceção do dia do Senhor, sejam abolidos. O zelo com o qual foram inventados, sem qualquer garantia da Palavra, e seguidos pela razão corrompida, certamente para eliminar os dias santos dos pagãos… Esses dias santos foram tão conspurcados pelas superstições que me espanto pelo fato de não estremecermos por ouvir-lhes o nome.


A objeção comum contrária ao argumento da abolição desses monumentos pagãos é que esses fatos ocorreram há tanto tempo que se tornaram inofensíveis para nós. Todavia, essa alegação é totalmente falsa. Não existe apenas a idolatria do catolicismo romano, há também o ressurgimento das antigas religiões pagãs tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. O movimento feminista radical revive no presente as deusas da fertilidade e do Oriente Próximo. A Lei-Palavra de Deus nos diz para tomarmos cuidado com os monumentos idolátricos. A lei de Deus não perde sua força com o passar do tempo.


O Natal desonra o dia de Cristo


O dia que Deus separou para sua Igreja celebrar em comunidade a pessoa e obra de Cristo é o “dia” denominado “do Senhor”, o primeiro dia da semana, o sábado cristão. O primeiro dia da semana é o dia em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos. É o dia da vitória de Cristo sobre o pecado, Satanás e a morte. A humilhação de Jesus e sua morte sacrificial foram completadas. Ele ressuscitou e será exaltado nos céus para sempre como Senhor do céu e da terra. “… Ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo” (2Co 5.16). “O dia do Senhor nos foi dado em memória de toda a obra da redenção”. A idéia de honrar a vida de alguém de modo gradual (este acontecimento, aquele acontecimento) não procede da Bíblia, mas da adoração pagã ao imperador. De fato, as únicas celebrações de aniversário registradas em toda a Bíblia são as do faraó (Gn 40.20) e do rei Herodes (Mt 14.6; Mc 6.21). As duas festas de aniversário terminaram com assassinatos: a de Herodes com morte de João Batista.


Deus foi muito generoso para com seu povo, concedendo-lhe 52 dias santos por ano. Quando os homens adicionam outros dias (p.ex., Natal, Páscoa etc.), eles tiram algo, maculam ou até deixam de lado o dia do Senhor. As pessoas preferem e dão mais atenção ao Natal que ao dia do Senhor. Muitos cristãos passam quase todo o mês de dezembro se preparando para o Natal, decorando suas casas, escritórios e igrejas, comprando presentes, assando tortas e bolos, ensaiando e memorizando cantigas, peças teatrais, recitais de música etc. Muitas pessoas que raramente entram em uma igreja vão ao culto de Natal. As pessoas normalmente nem piscam por violar o dia do descanso, fornicar, adulterar e se embriagar; mas consideram fanáticos alucinados os cristãos que não celebram o Natal.


O que Jesus deseja de nós não é a observância de algo que ele não mandou, mas sim do que ele ordenou: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.19,20). Isto é o que os apóstolos fizeram. Eles ensinaram todo o conselho de Deus (At 20.27), o que não incluía o Natal, a sexta-feira santa ou a Páscoa, porque essas não eram parte das coisas ordenadas por Cristo. Portanto, aquele que entende “o verdadeiro significado do Natal” (ou da sexta-feira santa ou da Páscoa) é precisamente quem percebe que essas datas são invenções humanas. E para honrar a Cristo como único Rei e cabeça da Igreja, essa pessoa não observará essas adições feitas por seres humanos ao que nosso Senhor ordenou. Tal pessoa deverá evitar esse costume bastante popular. O mais importante é que ela estará ao lado de Cristo e dos apóstolos.
O único dia autorizado por Deus como dia santo é o dia do Senhor. Se a Igreja deseja agradar a Jesus Cristo e honrá-lo, deverá fazê-lo guardando seu dia e sendo exemplo para o mundo não-cristão. Quando os cristãos tornam o Natal mais especial que o dia do Senhor, desobedecem aos ensinos de Cristo e desonram seu dia.
O Natal é uma mentira


O cristianismo é a religião da verdade. Deus não pode mentir. Toda a verdade e todo o conhecimento procedem de Deus. Jesus Cristo é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). O Espírito Santo é chamado “o Espírito da verdade” (Jo 16.13). O Evangelho é chamado “a palavra da verdade” (Ef 1.13). Deus ordena: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.16). Paulo nos diz para “segui[r] a verdade em amor” (Ef 4.15), deixar a mentira e falar a verdade com o próximo para não entristecermos o Espírito Santo (Ef 4.25,30). Jesus Cristo nos diz que “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24). Os cristãos devem ser sal e luz do mundo (Mt 5.13,16); devem testemunhar ao mundo falando e vivendo a verdade. A celebração do Natal é compatível com nossa responsabilidade de falar e viver a verdade perante o mundo? Não, porque o Natal é uma mentira.


A data usada para celebrar o nascimento do Cristo, 25 de dezembro, é uma mentira. Segundo a Bíblia, Jesus não nasceu nesse dia: “Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho” (Lc 2.8). É de conhecimento público que os pastores na Palestina voltavam dos campos antes do inverno. A estação chuvosa na Judéia começa no fim de outubro ou no início de novembro. Os pastores já teriam voltado com seus rebanhos para as aldeias antes do início da estação de chuvas. Portanto, Jesus nasceu antes da primeira semana de novembro.


É evidente que Cristo não nasceu no meio da estação do inverno. Mas, as Escrituras nos dizem em que estação do ano ele nasceu? Sim, as Escrituras indicam que ele nasceu no outono. O ministério público de nosso Senhor durou três anos e meio (Dn 9.27). Seu ministério teve fim no tempo da Páscoa (Jo 18.39), que ocorre durante a primavera. Portanto, três anos e meio antes marcariam o início do ministério no outono daquele ano. Quando Jesus começou seu ministério, ele contava 30 anos de idade (Lv 3.23). Esta era a idade para o sacerdote começar a exercer seu ministério sob o Antigo Testamento (Nm 4.3).


Se os cristãos estão desejosos de celebrar uma mentira e lotar o falso dia do aniversário de Cristo com mitologia papista e pagã (p.ex., papai-noel, árvore de Natal, visco, fogueira, sempre-verde etc.), por que, então, o mundo deveria acreditar na Igreja quando ela realmente diz a verdade? Se você mente a respeito do nascimento de Cristo e faz vistas grossa em relação à mitologia pagã, quando você disser a seu vizinho sobre a ressurreição de Jesus, por que ele deveria acreditar em você? Ao celebrar o Natal, você põe uma pedra de tropeço diante de seu vizinho incrédulo. Ele poderia raciocinar com toda a razão: visto que você fala e vive uma mentira acerca do nascimento de Cristo, você não é confiável para falar sobre a ressurreição dele. Alguns intelectuais já me disseram, depois de ter argumentado com eles a respeito da morte e ressurreição de Cristo, que essas doutrinas eram mitos propagados por pessoas simples da mesma forma que o papai-noel e o coelhinho da Páscoa (é claro que a mentira sobre o Natal dura há tanto tempo que a maior parte das pessoas a aceita como verdade). A Igreja deve parar de macular a Palavra de Deus inspirada e infalível ao posicionar fantasias humanas ao lado da revelação divina. O Natal contradiz a narrativa bíblica do nascimento de Jesus.


O mundo ama o Natal


“… Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4).
“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há” (1Jo 2.15).


Quem é o verdadeiro guia? Não deve a Igreja do Senhor Jesus Cristo servir de exemplo para o mundo? Não é ela o sal e a luz das nações? É correto que ela siga o modelo pagão? O Natal não se origina na Bíblia nem na igreja apostólica; é totalmente pagão. O dia, a árvore, a troca de presentes, o visco, as frutas vermelhas sagradas — tudo isso tem origem nas festividades pagãs idolátricas do solstício de inverno. A Igreja de Roma comprometida e apostatada tomou as práticas pagãs e tentou cristianizá-las. Todos os transgressores da lei, as pessoas que odeiam a Cristo, os adoradores de ídolos e incrédulos pagãos amam o Natal. Por quê? Porque o Natal não é bíblico, não procede de Deus, é uma mentira. Satanás, seu mestre, é o pai da mentira. Ateus, homossexuais, feministas, políticos ímpios, assassinos, molestadores de crianças e idólatras —todos— amam o Natal. Se essa fosse uma data bíblica, e sua observância uma ordenança, o mundo o amaria? Com toda certeza: não! O mundo odiaria o Natal. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura” (1Co 2.14). Por acaso o mundo ama o dia do Senhor, o sábado cristão? Claro que não. O mundo o odeia. O mundo ama e obedece ao Rei dos reis e Senhor dos senhores ressurreto? Não! O mundo odeia Jesus. O mundo é capaz de amar um bebezinho de plástico ou de barro em uma manjedoura. Um bebezinho de plástico não é muito ameaçador. Entretanto, Jesus não é mais um bebezinho. Ele é o rei glorificado que se assenta à destra do Pai. “… Ainda que também tenhamos onhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo” (2Co 5.16).


A Bíblia ensina que “a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (1Co 3.19). “Assim diz o SENHOR: Não aprendais o caminho dos gentios… Porque os costumes dos povos são vaidade” (Jr 10.2,3). O apóstolo Paulo tinha em mente uma aplicação bem mais ampla que apenas ao casamento quando disse, “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? [...] Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei” (2Co 6.14-17). Quando a Igreja possui algo em comum relacionado à adoração e à religião com o mundo pagão incrédulo, ela, nessa área, jaz sob o mesmo jugo que os incrédulos. A Igreja não deve celebrar um feriado pagão com o mundo pagão. Quanta hipocrisia e impiedade!


Não seja enganado


Paulo nos adverte que “Satanás se transfigura em anjo de luz” (2Co 11.14). Essa é a razão pela qual os festivais pagãos em todo o mundo são dias de diversão, dias de comidas especiais, festas, desfiles, reuniões familiares e de troca de presentes. O objetivo de Satanás não é simplesmente escravizar indivíduos, mas também controlar instituições, culturas e nações. O calendário pagão de “dias santos”, nos quais os festivais pagãos são celebrados no tempo exato a cada ano, é um recurso inspirado por Satanás para envolver culturas inteiras na rebelião contra a aliança divina. Ele deseja que pessoas e países sejam escravizados por rituais pagãos e pelas trevas. Uma cultura está saturada de satanismo quando festivais, ritos e cerimônias pagãs se tornam tão naturais que não são mais questionados em determinada sociedade.


Como puderam os cristãos ser enganados a ponto de celebrar um dia festivo pagão? O dia foi transformado de um período de trevas em um dia de luz. Como isso aconteceu? É muito simples: a primeira coisa a ser feita é mentir. Ensine que esse dia é o aniversário de Cristo. O fato de Jesus não ter nascido nesse dia não importa. Pouquíssimas pessoas averiguarão os fatos. E quem o fizer será considerado fanático, pessoas indesejadas como Scrooges* modernos. A seguir, transforme a data em um dia de reunião familiar, com presença obrigatória de todos. Que coisa maravilhosa: um dia para a família toda jantar junta e apreciar seus valores. Faça-o também um dia de presentes e de caridade, um dia de se preocupar com o próximo e de partilhar. Quem se oporia a isso? A seguir, dedique-o a todas as crianças do mundo, um dia repleto de lembranças agradáveis. É um dia de sentimentalismo intenso. Não corre uma pequena lágrima de seu olho quando você pensa em pais e irmãos reunidos perto da árvore? Certifique-se de que todas as cidades (independentemente do tamanho) estejam decoradas a caráter. Mantenha a indústria do entretenimento a todo o vapor com artigos especiais, filmes, espetáculos e recitais. Exerça pressão em sua comunidade, local de trabalho, igreja e família sobre quem não celebra o dia para que seja considerado perversor da verdade ou desconectado da realidade.


Essa estratégia tem sido efetiva? Sim, e muito. Houve um tempo quando presbiterianos e congregacionais disciplinavam irmãos pela celebração do Natal. Para os protestantes da ala calvinista da Reforma, a celebração desse dia foi impensável durante quase 300 anos. Agora se você for presbiteriano e não celebrar o Natal, irmãos da mesma denominação pensarão que você é fanático. Os protestantes têm sido enganados, iludidos, ludibriados e tapeados por terem esquecido o Princípio Regulador do Culto a Deus: “Toda a Palavra de Deus é pura: escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Pv 30.5,6). Haveria apenas uma razão aceitável para o cristão celebrar o Natal, e ela seria uma ordem direta da Palavra de Deus para assim proceder. Visto que não há uma instrução implícita ou explícita para agir dessa forma, sua celebração é proibida.


Fonte: http://www.iphr.org.br/2008/09/o-natal/

Natal - Nascimento do centro comercial

Uma coisa que é engraçado, mas que nunca entendi bem é como é que no Brasil se caracteriza o Pai Natal como roupas quentes, longas barbas, com frio, renas neve etc, e depois se anda com 30 graus na rua, de t-shirt hehe; deve ser confuso.

Aqui em Lisboa na época do natal não Neva, mas faz muito frio, mas com sorte talvez tenhamos alguma. É que natal com neve é mais bonito.

Outra característica, esta bem menos agradável, é o facto de à semelhança com todo o mundo ocidental, o natal está a passar de festa religiosa Cristã, para uma festa pagã, do consumo. Celebra-se não o nascimento de Jesus, mas o centro comercial, é vergonhoso. Isto é uma pequena parte, vontade das pessoas, que preferem o apelo ao consumo que a festa Cristã, mas é na sua esmagadora maior parte, culpa dos comerciantes, que não tem qualquer problema em transformar as tradições das pessoas no que lhes dá jeito. Fazendo uso de uma publicidade nojenta, agressiva e em dose industrial alteram tudo. Quem é que na televisão fala de Jesus? Fala-se é de prendas, cultiva-se a imagem do pai natal em detrimento de Jesus (claro, é o pai natal que dá lucro), ou seja, tudo em nome do lucro. Até a páscoa, que tem resistido melhor à ganância dos comerciantes, está a sucumbir. Estamos a passar da ressurreição de Cristo, para a festa das amêndoas, coelhos de pelúcia (claro, interessa aos comerciantes isso, pois a ressurreição de Jesus não dá lucro). Enfim, é com tristeza que assisto a isto impotente. A ganância dos comerciantes que não respeitam nada e alteram tudo. Não se coíbem de alterar os valores da nossa sociedade em busca de lucro e mais lucro.

Deveríamos fazer uma coisa. Fazer um presépio gigante e deitar na manjedoura, um centro comercial e uma nota de 500 euros; é isso que celebramos e não Jesus.

Boas Festas!

Autor: Luan Marçal

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O que Seria Necessário para Provar Eleição e Reprovação?



Rev. Angus Stewart

Algumas pessoas perguntam se a Bíblia ensina a predestinação absoluta: a eleição incondicional de Deus de alguns pecadores para a salvação eterna em Jesus Cristo e Sua reprovação incondicional dos outros pecadores para destruição eterna no caminho de seus pecados.

O que seria necessário para provar isto? E se Deus em Sua Palavra nos contasse de meninos gémeos no ventre de sua mãe, e dissesse que eles eram antes mesmo de nascerem - e, portanto, antes que eles pudessem crer ou não crer, ou fazer boas obras ou más obras – que um era o objecto do amor de Deus e eleição, enquanto o outro era odiado?

E se um apóstolo, antecipando objecções a isto, negasse enfaticamente que Deus é injusto ao fazê-lo, e citou Antigo Testamento para provar a soberania absoluta da misericórdia e compaixão de Deus, e afirmasse que a salvação não é do livre arbítrio do homem ou dos esforços do homem mas unicamente da misericórdia divina?

E se o Espírito Santo, sabendo muito bem as objecções do homem caído a este ensino, passasse a dar um conhecido exemplo do Antigo Testamento de um homem a quem Deus endureceu e destruiu a fim de mostrar a força do seu nome glorioso? E se Ele, então, afirmasse a soberania absoluta do endurecimento divino e, repreendendo aqueles que acham falhas nos caminhos de Deus, ensinasse que Deus é o grande oleiro que pode fazer o que Ele quer com os vasos Ele faz, destruindo alguns e trazendo outros à glória?

Este é exactamente o que nós temos em Romanos 9:10-24. Se alguém quer saber se a Bíblia ensina a eleição incondicional e reprovação incondicional, deveriam olhar e ler esta passagem.


http://soberanagraca.blogspot.com

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Gangrena Preterista - Parte I (Martyn McGeown)


Conteúdo:
I. Introdução
II. Diagnóstico: Gangrena!
III. Prognóstico
IV. Cura
V. Conclusão

I. Introdução
O Apóstolo Paulo alerta em II Timóteo 2:17-18 acerca de dois falsos mestres na igreja em Éfeso. Estes dois heréticos, Himeneu e Fileto, eram preteristas. Eles ensinavam que o grande evento escatológico da ressurreição dos mortos já tinha acontecido. Ao fazer isto eles perverteram a fé de alguns na igreja (v. 18). Paulo avisa Timóteo que a heresia, e esta heresia preterista em particular, iria roer “como um canker” (v. 17). A palavra "canker" significa gangrena. O aviso é claro. A heresia alastra-se. Alastra-se como uma gangrena, a morte de tecidos mortos resultando em carne negra, putrefacta e mal-cheirosa. A gangrena sem tratamento espalha-se ao longo do membro afectado e leva à morte do corpo. Normalmente o único remédio é o amputar da área morta.

O preterismo é a heresia que sustenta que grande parte ou todos os eventos escatológicos profetizados na Escritura foram já realizados no passado. Pós-milenistas, que vislumbram uma "Era Dourada" para a Igreja na qual o mundo é Cristianizado, relegam as profecias do Novo Testamento a respeito da Grande Tribulação e perseguição da Igreja, a ameaçadora e generalizada apostasia da verdade, e o aparecimento do Anticristo ao passado. Estes eventos foram cumpridos, dizem os pós-milenistas, em 70 dc, quando Jerusalém e o Templo foram destruídos pelos romanos. Alguns são preteristas moderados, parciais e inconsistentes. Completos, extremistas, consistentes ou hiper-preteristas relegam não só aquelas profecias ao passado, mas também ensinam que todas as profecias do Novo Testamento, incluindo a ressurreição dos mortos (que eles, como Himeneu e Fileto, espiritualizam), o julgamento final e até a Segundo Advento de Jesus Cristo ocorreu em 70 DC. Não há portanto nenhuma futura vinda de Cristo no fim do mundo. Nós estamos já nos novos céus e na nova terra na qual os justos habitam (2 Pedro 3:13). Este mundo irá provavelmente existir para sempre, ou, se não durar eternamente, a Bíblia não tem nada a nos dizer acerca do futuro.

Como o preterismo e a gangrena estão relacionados? Este texto irá expor o preterismo dos modernos pós-milenistas, especialmente os reconstrucionistas. Vamos concentrar nossa atenção no movimento Reconstrucionista porque os homens desse movimento são os autores mais prolíficos no campo do Pós-milenismo e os maiores opositores do Amilenismo Reformado, que eles ridicularizam como escatologia pessimista ou "pessimilenialismo". Figuras representativas nesse movimento são Gary North, Gary DeMar, Kenneth L. Gentry, Jr., e David Chilton. Este artigo vai argumentar que o seu preterismo está se espalhando como uma gangrena através do corpo da verdade Reformada, devorando doutrinas vitais e textos-chave, levando eventualmente e, inexoravelmente, a um explosivo hiper-preterismo. Por agora os pós-milenistas modernos estão resistindo ao hiper-preterismo, mas este texto irá defender que eventualmente o seu sistema deve entrar em colapso sob a sua própria inconsistência. Ele deve sucumbir à gangrena da heresia de Fileto e Himeneu.

domingo, 1 de novembro de 2009

Mais 10 objeções contra 10 razões do testemunho do convertimento de Dave Armstrong ao catolicismo romano. (Continua na próxima postagem)

Baseado no artigo “150 RAZÕES PORQUE ME TORNEI UM CATÓLICO, Testemunho de Conversão de Dave Armstrong”.

O artigo inicia assim:

Depois de se enveredar na busca pela verdade, Dave Armstrong é recebido na Igreja Católica, em 1992 junto com sua esposa Judy. Eis alguns motivos porque deixou o protestantismo.

CONTINUAÇÃO de 11 a 20:


11. O Catolicismo rejeita a “Igreja Estatal” que conduziu os governos a dominar politicamente o Cristianismo.

Objeção 11. Não existe igreja mais estatal em essência do que a Igreja Romana, o Vaticano é uma cidade-estado. Os papas reinavam sobre a maioria dos Estados da Europa. Enquanto as Igrejas Nacionais Protestantes (consideradas estatais) sempre lutaram pela conservação de independência da Igreja perante a política. O Estado Laico foi defendido por muitos protestantes.

O capítulo 23, seção 3, da Confissão de Fé de Westminster, afirma:

Os magistrados civis não podem tomar sobre si a administração da palavra e dos sacramentos ou o poder das chaves do Reino do Céu, nem de modo algum intervir em matéria de fé; contudo, como pais solícitos, devem proteger a Igreja do nosso comum Senhor, sem dar preferência a qualquer denominação cristã sobre as outras, para que todos os eclesiásticos sem distinção gozem plena, livre e indisputada liberdade de cumprir todas as partes das suas sagradas funções, sem violência ou perigo. Como Jesus Cristo constituiu em sua Igreja um governo regular e uma disciplina, nenhuma lei de qualquer Estado deve proibir, impedir ou embaraçar o seu devido exercício entre os membros voluntários de qualquer denominação cristã, segundo a profissão e crença de cada uma. E é dever dos magistrados civis proteger a pessoa e o bom nome de cada um dos seus jurisdicionados, de modo que a ninguém seja permitido, sob pretexto de religião ou de incredulidade, ofender, perseguir, maltratar ou injuriar qualquer outra pessoa; e bem assim providenciar para que todas as assembléias religiosas e eclesiásticas possam reunir-se sem ser perturbadas ou molestadas.
Heb. 5:4; II Cron. 26:18; Mat. 16:19; I Cor. 4:1-2; João 15:36; At. 5:29; Ef. 4:11-12; Isa. 49:23; Sal. 105:15; 11 Sam.23:3


12. Protestantes de Igrejas Estatais influenciaram a elevação do nacionalismo que mitigou contra a igualdade e o Cristianismo universal.

Objeção 12. As Igrejas Estatais tornaram-se uma forma imediata de salvaguardar as doutrinas fundamentais da Reforma Protestante, pois de outro modo as Igrejas Protestantes seriam esmagadas pelo poder político-religioso da Igreja Romana, assim como perseguiram e exterminaram os Valdenses, Albigenses, Hussitas, Huguenotes e outros antes das Igrejas Estatais.

A sangrenta Guerra dos 30 Anos (1618-1648) é prova que os territórios divididos entre católicos romanos e protestantes necessitavam tornar-se estatais. Com o passar do tempo e com uma maior liberdade religiosa (conquistada pelos protestantes) o erro em considerar todo cidadão de um Estado um membro da Igreja de Cristo foi sendo corrigido por muitos grupos protestantes, a exemplo dos Puritanos não-conformistas na Inglaterra.

O Cristianismo Universal é concretizado pela crença em Jesus Cristo através do Sola Scriptura, não através da Igreja como uma “grande arca”. A Palavra de Deus está acima da Igreja.



13. A Cristandade católica unificada – antes do século XVI não tinha sido infestada pelas trágicas guerras religiosas.

Objeção 13. Obviamente seu poder era maior e seu foco era as Cruzadas contra os Muçulmanos. Qualquer um dentro da “arca da igreja romana” que se atrevesse a dizer a verdade bíblica era imediatamente sufocado, caso de John Huss, Tomas Cramer, John Wycliffe, Latimer e outros anônimos martirizados. O Massacre de São Bartolomeu em 1572 fora fruto de uma traição maquinada por Católicos Romanos, o que poderiam fazer os Huguenotes (calvinistas franceses) sobreviventes a não ser buscar refúgio em igrejas protestantes protegidas por Estados?


14. O Catolicismo retém os elementos do mistério, do sobrenatural e do sagrado no Cristianismo, se opondo assim à secularização onde a esfera do religioso em vida se torna muito limitada.

Objeção 14. O Protestantismo Ortodoxo perde seu significado se retirar o sobrenatural e o sagrado do Cristianismo. Se tirarmos o sobrenatural do Cristianismo este se desfaz. O cristianismo liberal fez uma tentativa de eliminar a intervenção sobrenatural da religião cristã por influência do Iluminismo, mas NUNCA o protestantismo histórico! Sem o sobrenatural o cristianismo morre, pois a centralidade da mensagem apostólica está na morte e no milagre da ressurreição de Cristo.

Quanto ao sagrado, o conceito teológico de dicotomia sagrado-secular é antibíblico. Os reformadores derrubaram a noção de que sacerdotes romanos exerciam um trabalho mais santo do que um trabalhador comum. Todos os aspectos da vida são de Deus. “A ação de um pastor em guardar ovelhas... é um trabalho tão bom diante de Deus como a ação de um juiz ao sentenciar, ou um magistrado ao regulamentar, ou de um ministro ao pregar”. (William Perkins)

O Protestantismo Ortodoxo reconhece Deus no mundo, deve haver um desejo de servir Deus no mundo, em cada posição da vida.


15. O individualismo protestante conduziu à privatização do Cristianismo, por meio do que é pouco respeitado em vida de sociedade e política, deixando o “quadro público” estéril de influência Cristã.

Objeção 15. Sem o Protestantismo o livre desenvolvimento das nações, como visto na Europa e América do Norte, teria sido impedido. A velha hierarquia romanista não foi páreo para o reavivamento da ciência e da arte promovido pelo Protestantismo da Europa Ocidental. A influência Calvinista produziu filantropia e engrandeceu os valores morais na sociedade e na política do Ocidente.

O Protestantismo Calvinista influenciou poderosamente a civilização Ocidental. A fundamentação dos estados liberais modernos que sustentam a economia mundial é derivada do Protestantismo. O princípio da autoridade estatal descentralizada, educação pública gratuita, governo representativo e economia capitalista de livre mercado.

O pensamento calvinista é também uma das bases do estilo de vida pós-medieval. Valorização do trabalho, modelo de organização com poder descentralizado, valores cristãos e sacerdotais na vida comum, valorização do indivíduo e políticas anti-clericais são encontradas em seu pensamento e estão muito presentes no estilo ocidental moderno e atual. [http://cowboypopgun.web.br.com/2009/07/07/joao-calvino-500-anos/]

No cenário de formação do Novo Mundo, o Calvinismo é responsável pela fundação dos EUA, um país que foi construído essencialmente por calvinistas.
O calvinismo também é conhecido pela ênfase na educação. A Genebra influenciada por Calvino foi pioneira em iniciativas de educação universal. Calvino foi fundador da Universidade de Genebra e os calvinistas pelo mundo fundaram muitas outras universidades de prestígio, entre elas a Universidade de Princeton, a Universidade de Harvard e a Universidade de Yale.



16. A falsa dicotomia secular protestante conduziu cristãos a se comprometerem, em geral, com políticas vazias. O Catolicismo oferece um vigamento no qual chega a responsabilidade estatal e cívica.

Objeção 16. Responsabilidade estatal e cívica não é privilégio nem exclusividade do Catolicismo Romano. O Protestantismo Ortodoxo exalta a Liberdade Cristã e a Liberdade de Consciência. Isto implica em dizer o que assevera a Confissão de Fé de Westminster (cap. 20, § 2,4):

Só Deus é senhor da consciência, e ele deixou livre das doutrinas e mandamentos humanos que em qualquer coisa, sejam contrários à sua palavra ou que, em matéria de fé ou de culto estejam fora dela. Assim crer tais doutrinas ou obedecer a tais mandamentos como coisa de consciência é trair a verdadeira liberdade de consciência; e requerer para elas fé implícita e obediência cega e absoluta é destruir a liberdade de consciência e a mesma razão.
Rom. 14:4, 10; Tiago 4:12; At. 4:19, e 5:29; Mat. 28:8-10; Col. 2:20-23; Gal. 1: 10, e 2:4-5, e 4:9-10, e 5: 1;. Rom, 14:23; At. 17:11; João 4:22; Jer. 8:9; I Ped. 3: 15.

Visto que os poderes que Deus ordenou, e a liberdade que Cristo comprou, não foram por Deus designados para destruir, mas para que mutuamente nos apoiemos e preservemos uns aos outros, resistem à ordenança de Deus os que, sob pretexto de liberdade cristã, se opõem a qualquer poder legítimo, civil ou religioso, ou ao exercício dele. Se publicarem opiniões ou mantiverem práticas contrárias à luz da natureza ou aos reconhecidos princípios do Cristianismo concernentes à fé, ao culto ou ao procedimento; se publicarem opiniões, ou mantiverem práticas contrárias ao poder da piedade ou que, por sua própria natureza ou pelo modo de publicá-las e mantê-las, são destrutivas da paz externa da Igreja e da ordem que Cristo estabeleceu nela, podem, de justiça ser processados e visitados com as censuras eclesiásticas.
I Ped. 2:13-16; Heb. 13:17; Mat. 18:15-17; II Tess.3:14; Tito3:10; I Cor. 5:11-13; Rom. 16:17; II Tess. 3:6.



17. O Protestantismo se apóia muito em meras tradições de homens (toda denominação origina da visão de um fundador. Assim que dois ou mais destes se contradizem um ao outro, o erro está presente).

Objeção 17. Por princípio o Protestantismo não apoia-se em meras tradições de homens. A autoridade deriva das Escrituras e não depende nem de homens nem da Igreja, assim observa a CFW, cap. 1, § 4, 10:

A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus.

II Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.

X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.
Mat. 22:29, 3 1; At. 28:25; Gal. 1: 10.


18. Igrejas protestantes, de um modo geral, são culpadas em colocar os pastores num pedestal muito alto. Por causa disso, congregações evangélicas experimentam uma severa crise, dividindo-se em outras quando um pastor vai embora, provando-se que suas filosofias e doutrinas são centradas no homem, em lugar de Deus.

Objeção 18. Não há pedestal mais alto do que o do Papa da igreja romana. O endeusamento do homem é um erro condenado pelo Protestantismo Ortodoxo. A Ética Protestante não apoia a exaltação de pastores, e sim a humildade do serviço e toda glória somente a Deus.


19. O Protestantismo, devido à falta da real autoridade e estrutura dogmática, vem se diluindo a cada dia, surgindo então milhares e milhares de denominações. Existem hoje, 33.800 denominações religiosas, cada uma ensinando coisas opostas às outras.

Objeção 19. Este é o preço da liberdade do livre-exame. A Igreja não só é uma instituição, mas como assevera a CFW cap. 25, § 1:

I. A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas.
Ef. 1: 10, 22-23; Col. 1: 18.

Nem todas as chamadas igrejas cristãs são de Cristo, pois a verdadeira Igreja tem suas marcas características, que são: a pregação fiel da Palavra, a correta ministração dos sacramentos e a disciplina eclesiástica. Este é o dogma da Igreja visível.

Como tal, a Igreja se apresenta sobre a terra como Congregações Locais de Crentes; grupos de Confessores vivendo em obediência a Cristo e não ao Papa, usurpador dos atributos de Cristo.



20. O Catolicismo retém a Sucessão Apostólica, necessária para saber o que é a verdadeira Tradição Apostólica. Era o critério da verdade usado pelos primeiros Cristãos.

Objeção 20. A Igreja Católica Romana não pode apoderar-se do que chama de verdadeira Tradição Apostólica quando a sua doutrina está crivada de erros grosseiros. Não há Primazia de Pedro como Papa, isto é um erro exegético primário. Pedro nunca foi Papa, nem este é o representante de Cristo na terra.

CFW, 25.6. Não há outro Cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo; em sentido algum pode ser o Papa de Roma o cabeça dela, mas ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus.
Col. 1:18; Ef. 1:22; Mat. 23:8-10; I Ped. 5:2-4; II Tess. 2:3-4.


Por Raniere Menezes

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Deus odeia o pecado, mas ama ao pecador! É isso mesmo?

Postado por Solano Portela

Podemos aceitar que existe um sentido genérico do amor de Deus. Ele demonstra e fala de amor ao mundo, à humanidade, à sua criação. Como calvinista, não tenho nenhuma dificuldade em aceitar isso. Temos que entender, porém, que no sentido salvífico (a salvação eterna da perdição e condenação do pecado) o amor de Deus é derramado exclusivamente sobre o seu povo e, individualmente, sobre os que ele eficazmente chama para si. Sobre aqueles que responderão, ao chamado eficaz, abraçando a Cristo como único e suficiente Salvador.
A frase "Deus odeia o pecado, mas ama ao pecador", entretanto, por mais que seja proferida e repetida, é uma forma simplista de expressar uma situação complexa, pois realmente é impossível separar o pecado do pecador, como se o pecado fosse uma entidade com vida independente, que apenas se utiliza do corpo e da mente do praticante.Tiago (1.12-15) nos ensina que o pecado é gerado dentro das pessoas, partindo da própria concupiscência, externando sua prática em um relacionamento "simbiótico" (de dependência mútua) com o praticante. Sem barreiras e controles, enfim, sem a redenção, leva à morte.
O pecado é algo odioso em suas manifestações. Estas são verificáveis nas pessoas, pecadoras, sem as quais ele é indescritível e amorfo.
Em Romanos 9.11-18 a Bíblia fala do "aborrecimento" (ódio) de Deus contra Esaú, contrastando com o amor derramado sobre Jacó. Mas a Palavra de Deus expressa em outras ocasiões (além desse caso específico, de Esaú e Jacó) o ódio ("aborrecimento") de Deus a pecadores. Isso ocorre, porque ele é tanto JUSTIÇA como AMOR.Por exemplo, no Salmo 11.5, lemos "O Senhor prova o justo e o ímpio; a sua alma odeia ao que ama a violência". Veja que ele não odeia somente a violência (inexistente, sem o praticante), mas "ao que ama a violência" - uma pessoa, o pecador.
Em Pv. 6.16-18 lemos sobre sete coisas que o senhor abomina (odeia): olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contenda entre irmãos. Quando lemos essa descrição das "coisas" que o Senhor odeia, vemos que elas não são especificamente "coisas", mas são pessoas que realizam certas ações; a descrição é a de pessoas que Deus abomina. Isso fica bem claro nas duas últimas "coisas" - uma pessoa, ou outra, que é: "testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos".
Não resta dúvida, portanto, que pelo menos nessas instâncias específicas Deus odeia pecadores. Consequentemente, isso deve nos fazer cautelosos de dar uma declaração genérica e abrangente de que ele não odeia pecadores, pois esse ensinamento não pode ser atribuído, dessa maneira, à Bíblia e carece de inúmeras qualificações.

Solano Portela

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

BABEL E PENTECOSTES


Uma questão que incomoda muitos cristãos mundo afora é a das “línguas estranhas”, defendidas pelos pentecostais como sinal, como evidência exterior do batismo com o Espírito Santo.

Esse incômodo advém do fato de que é impossível negar a experiência do “falar em línguas”, comum à milhões de pessoas rotuladas de evangélicas e espalhadas pelo planeta.

Diante disso, o cerne do problema reside não na negação da realidade atual de algum fenômeno atinente às “línguas”, mas, com efeito, no ser essas “línguas”, ou não, as mesmas encontradas nas páginas do Novo Testamento.

Uma resposta bíblica definitiva para a problemática apresentada deve passar, creio, pela determinação da natureza e função das “línguas” neotestamentárias, assim como pelo estabelecimento escriturístico do conceito do batismo com o Espírito Santo. Assim procedido, o fenômeno da glossolalia atual pode ser julgado à luz das Escrituras.

BABEL – A ORIGEM DA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA HUMANA

A revelação do Deus Altíssimo, a Escritura Sagrada, mostra-nos que a origem da diversidade linguística se encontra vinculada à construção da torre de Babel, um monumento à glória, ao poder e à autonomia humanas. Além disso, tal construção tinha como fim o não espalhamento humano sobre a terra, contrariamente ao mandato divino de que o homem se multiplicasse e a subjugasse. Eis a revelação infalível da verdade:

1 Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar. 2Sucedeu que, partindo eles do Oriente, deram com uma planície na terra de Sinar; e habitaram ali. 3 E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem. Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa. 4 Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gênesis 11:1-4 RA).

Salienta-se de maneira explícita a unidade de linguagem a essa altura do desenvolvimento humano: “... em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar”. Também, evidencia-se o desejo pela glória humana e a flagrante desobediência aos mandatos da Criação, o da multiplicação da espécie humana e o da subjugação de toda a terra: “... edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra”.

Certamente, o propósito (ou propósitos) humano acima especificado entrava em conflito com o desígnio divino de ter o seu reino espalhado sobre toda a superfície da terra. Aliás, visando isso é que Deus deliberara criar e, de fato, criara o homem: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gênesis 1:26 RA).

Tendo em vista a concretização desse seu desígnio, de que seu domínio através da instrumentalidade humana se espraiasse sobre toda a terra, Deus deu mandatos bem específicos à humanidade: “27 Criou Deus (…) o homem à sua imagem (...). 28 E (…) os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a...” (Gênesis 1:27-28 RA).

Logo, a intenção humana demonstrada na construção da cidade e da torre em Babel colidia diretamente com o propósito divino de que seu reino, seu domínio, exercido através do homem, estivesse difundido sobre todo o planeta criado.

Por tal motivo, Deus deliberou, assim como na criação do homem, impedir o progresso da empresa humana contrária à sua vontade revelada, e fez isso confundindo a linguagem dos homens envolvidos no “projeto Babel”, originando a multiplicidade de línguas, e, assim também, de nações, conforme, igualmente, a revelação infalível da verdade:

5 Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam; 6 e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. 7 Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro. 8 Destarte, o SENHOR os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade. 9 Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o SENHOR a linguagem de toda a terra e dali o SENHOR os dispersou por toda a superfície dela” (Gênesis 11:5-9 RA).

Destaque-se que Deus viu que “... o povo é um...” e que tinham “... todos (…) a mesma linguagem...”. Então, Yahweh decidiu confundi-los, de modo que cada um não entendesse a linguagem do outro, e assim a construção da cidade e da torre fosse interrompida, e os homens fossem dispersos pela superfície da terra: Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o SENHOR a linguagem de toda a terra e dali o SENHOR os dispersou por toda a superfície dela”.

Deus pôs fim, portanto, ao reino humano absolutamente unificado, e com a dispersão dos homens por toda a superfície da terra manteve vivo o seu desígnio de ter um povo e seu reino estabelecido em todos os cantos do planeta.

Porém, homens pecadores não redimidos não poderiam fazer parte do reino de Deus, nem dominar a terra e sujeitá-la em nome de Yahweh. Essa realidade levou Deus a revelar um pouco mais do seu propósito redentivo, tendo em vista o estabelecimento, ou restabelecimento, de seu reino conforme originalmente pretendido com a criação do homem. A solução do problema, portanto, deveria passar pela redenção dos homens espalhados pela terra e organizados em nações distintas.

O ANÚNCIO DA CONVERGÊNCIA DAS NAÇÕES EM UM SÓ CORPO

Chamou Deus, então, a Abraão e estabeleceu uma aliança redentora com ele, na qual lhe fez a seguinte promessa: “... de ti farei uma grande nação (...); em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:2-3 RA).

De forma mais explícita, Yahweh demonstrou que a aliança estabelecida com Abraão era redentora porque tinha a finalidade da restauração da comunhão de homens pecadores com Ele: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência” (Gênesis 17:7 RA). Ser o Deus de Abraão e da descendência deste era o fim da aliança.

Deus já deu claras indicações que a descendência de Abraão, a nação que dele brotaria, seria um tronco no qual seriam enxertadas as nações (as famílias da terra). A junção desse tronco com as nações formaria a grande e verdadeira nação da qual Abraão seria o pai.

Na instituição da circuncisão, Deus revelou que mesmo os que não fossem da estirpe de Abraão poderiam fazer parte do povo, desde que recebessem o “sinal da aliança”, que Paulo chamou de “... selo da justiça da fé...” (Romanos 4:11 RA): “O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua” (Gênesis 17:12-13 RA).

Sendo a circuncisão o “selo da justiça da fé”, pois, ela era o selo da própria redenção, e simbolizava esta, indicando que até mesmo os estrangeiros seriam aceitos na família de Abraão, em seu povo, pela demonstração de fé de serem incluídos no pacto, por representação, no caso dos infantes, ou pela demonstração de arrependimento e fé, no caso dos adultos, expressos pelo corte no prepúcio da sua carne, que indicava o recebimento do Deus de Abraão como o seu Deus.

Desse modo, a circuncisão além de simbolizar e selar a redenção servia como sinal exterior de pertinência à descendência prometida à Abraão. Porém, não se pode olvidar que, por natureza, a circuncisão era “selo da justiça da fé”, o que implica que ela era o selo exterior de uma obra interior do Espírito Santo no coração do homem pecador, do homem incrédulo, impenitente, “incircunciso”.

Ao contrário do que muita gente pensa, pois, a circuncisão era um rito que exigia prévio arrependimento e fé. Não era um simples corte com o intuito da dar identidades étnica, religiosa e nacional.

Logo, desde o início, Deus não deixou de revelar que a descendência verdadeira de Abraão seria uma descendência piedosa, redimida, regenerada pelo Espírito Santo, e que esses redimidos seriam compostos tanto dos descendentes biológicos do pai da fé quanto de pessoas oriundas das demais nações da terra.

A posterior revelação do Antigo Testamento é a expansão, a progressão da revelação da aliança abraâmica, e, nesse sentido, foi erigida em cima do fundamento acima exposto. Por exemplo, ainda na Lei, no Pentateuco, na instituição da páscoa, quando da libertação de Israel do Egito, foi dito por Moisés ao povo, como ordenança do Senhor:

43 Disse mais o SENHOR a Moisés e a Arão: Esta é a ordenança da Páscoa: nenhum estrangeiro comerá dela. 44 Porém todo escravo comprado por dinheiro, depois de o teres circuncidado, comerá dela. 45 O estrangeiro e o assalariado não comerão dela.46 O cordeiro há de ser comido numa só casa; da sua carne não levareis fora da casa, nem lhe quebrareis osso nenhum. 47 Toda a congregação de Israel o fará. 48 Porém, se algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser celebrar a Páscoa do SENHOR, seja-lhe circuncidado todo macho; e, então, se chegará, e a observará, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela. 49 A mesma lei haja para o natural e para o forasteiro que peregrinar entre vós” (Êxodo 12:43-49 RA).

Como se vê, há uma proibição de que qualquer estrangeiro participasse da celebração da páscoa, contudo, se tal estrangeiro recebesse o sacramento da circuncisão, que, como vimos, exigia prévia regeneração, prévio arrependimento e fé, poderia participar da páscoa, como “... o natural da terra...”. Nesse caso, o estrangeiro participava da mesma redenção gozada por Israel, simbolizada pela páscoa.

Nos Salmos também encontramos referências à conversão das nações ao Deus de Israel. Neles é dito a respeito do Messias: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão” (Salmos 2:8 RA). Também é preconizada a conversão dos gentios a Yahweh: “Lembrar-se-ão do SENHOR e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias das nações” (Salmos 22:27 RA).

Os profetas, igualmente, falaram do que até aqui foi exposto a respeito do propósito divino de integrar no tronco criado a partir de Abraão, Israel, as nações. Por exemplo, no profeta Oséias isso é dito de maneira inequívoca: “Semearei Israel para mim na terra e compadecer-me-ei da Desfavorecida; e a Não-Meu-Povo direi: Tu és o meu povo! Ele dirá: Tu és o meu Deus!” (Oséias 2:23 RA).

Diante de tudo isso, resta claro que Deus revelou, desde os primórdios de sua igreja na terra, que à nação estabelecida na “... terra de Canaã...” (Gênesis 17:8 RA), que falava a “... língua de Canaã...” (Isaías 19:18 RA), seriam enxertadas muitas outras nações, que falavam muitas outras línguas.

A INCOMPREENSÃO JUDAICA DO PROPÓSITO REDENTOR UNIVERSAL DE YAHWEH

Não obstante toda essa revelação do Antigo Testamento sobre a inclusão das gentes no tronco Israel, os judeus, os descendentes segundo a carne de Abraão, não a compreenderam, e desenvolveram um nacionalismo extremado, de forma que se julgavam os únicos objetos do amor, eletivo/redentivo, divino.

Grande parte da energia do labor apostólico foi gasta em derrubar esse nacionalismo judaico. As Escrituras inspiradas do Novo Testamento dedicam uma grande parte dos seus escritos na explicação do propósito divino que incluía os gentios em seu plano redentor.

O prólogo do evangelho de João é um golpe mortal no nacionalismo judaico. Nele, João afiança a divindade de Cristo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus” (João 1:1-2 RA). Após isso, João assevera ser Cristo o Mediador de toda a Criação: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. (…) O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu” (João 1:3;10 RA).

Somente após fincar esse fundamento é que o apóstolo expôs a essência do evangelho: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16 RA).

Por que João teria todo esse trabalho de destruir o nacionalismo dos judeus, se esses não fossem absolutamente preconceituosos, julgando-se serem os únicos alvos da redenção do Deus altíssimo?

Paulo, outro judeu, e também apóstolo, enfrentou o mesmo problema. Teve que argumentar muitas vezes para convencer os preconceituosos judeus de que os gentios faziam parte do plano redentor de Deus, e isso segundo as Escrituras do Antigo Testamento. Por exemplo, o apóstolo teve de indagar claramente, e responder também claramente: “É, porventura, Deus somente dos judeus? Não o é também dos gentios? Sim, também dos gentios” (Romanos 3:29 RA).

O desprezo dos judeus pelos gentios era tanto que alcançava até seus vizinhos mais próximos, os samaritanos, pelo fato destes serem oriundos de miscigenação entre judeus e gentios que habitavam a região de Samaria.

Vê-se claramente isso na conversa de Jesus com a mulher samaritana: “Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)?” (João 4:9 RA)

Os judeus, procurando desacreditar e ofender Jesus, disseram a respeito Dele: “... Porventura, não temos razão em dizer que és samaritano e tens demônio?” (João 8:48 RA)

Mesmo os discípulos de Cristo não escapavam desse tipo de preconceito. Pedro, para exemplificar, precisou ser convencido por Deus a ir à casa do gentio Cornélio. A visão dada ao apóstolo de um lençol contendo toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu, e ainda a ordenação de uma voz para que ele comesse essas coisas, ao que ele resistiu por três vezes, dizendo que jamais comera coisa alguma comum e imunda, foi uma preparação para o encontro dele com Cornélio, pois comuns e imundos eram como os gentios eram considerados pelos judeus (cf. Atos 10:12-33).

Somente após tudo isso é que Pedro pôde exclamar: “Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas” (Atos 10:34 RA). Não obstante, algum tempo depois teve de ser repreendido por Paulo, por haver se afastado dos gentios, ocasião em que comia com eles, porque temeu os judeus que andavam com Tiago (cf. Gálatas 2:11-14).

Muito mais poderia ser escrito, mas creio que o que escrevi é suficiente para dar uma ideia da mentalidade judaica a respeito do preconceito que os descendentes biológicos de Abraão nutriam em relação às nações, aos não-judeus.

Tudo isso demonstra o quão equivocados estavam os intérpretes judeus das Escrituras a respeito da revelação divina do Antigo Testamento. Não é sem razão que Jesus lhes disse: “... Errais, não conhecendo as Escrituras...” (Mateus 22:29 RA).

Todas essas coisas, tanto o propósito de Deus de ter seu povo e seu reino estabelecidos em toda a terra, bem como o errôneo entendimento judaico de seu exclusivismo redentivo não podem ser desprezados no tratamento bíblico do fenômeno glossolálico ocorrido a partir do pentecostes.

Como, então, Deus faria para que os preconceituosos judeus, o tronco do seu povo, compreendessem que os gentios também faziam parte de seu plano redentivo? O evento de pentecostes e o seu posterior desdobramento nos dão a resposta.

PENTECOSTES – CUMPRIMENTO PROFÉTICO

Lucas, em seu segundo livro dirigido a Teófilo, Atos dos Apóstolos, narrou, após acurada investigação histórica, e isso é o que se infere de seu primeiro livro, o segundo evangelho, que Jesus, após a sua ressurreição, aos seus apóstolos “... se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus” (Atos 1:3 RA).

Durante esse período de aparição aos seus apóstolos, Lucas nos diz que Jesus lhes deu “... mandamentos por intermédio do Espírito Santo...” (Atos 1:2 RA). Entre esses mandamentos, certamente, estava este: “E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes” (Atos 1:4 RA).

Por promessa do Pai, referia-se Jesus ao derramamento do Espírito Santo, conforme Lucas esclarece imediatamente à frente: “Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (Atos 1:5 RA).

Qualquer mente honesta não deixará de perceber a vinculação, feita pelo próprio João Batista nos evangelhos, que há entre o batismo com o Espírito Santo e o batismo com água, indicando ser este último um símbolo/selo externo do primeiro. Doutro modo, não haveria nenhum sentido nessas palavras de João, o Batista: “Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mateus 3:11 RA). Em outras palavras, é como se João estivesse dizendo: “eu vos aplico o símbolo, o quem vem após mim vos aplicará a realidade”.

Mas Lucas foi além, e registrou que esse batismo com o Espírito Santo se atava, inexoravelmente, à pregação do evangelho à todas as nações, em cumprimento ao propósito universalista (em contraposição ao nacionalismo judaico) de Yahweh, já discutido acima: “... recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8 RA). Seja qual for o significado do batismo com o Espírito Santo, que discutiremos mais abaixo, até aqui já há indícios de que ele também tem a ver com a unidade de Jerusalém, e Judeia, e Samaria, e confins da terra.

Em busca de resposta à nossa indagação, de como Deus demonstraria aos judeus a inclusão dos gentios em seu povo, continuemos na narração lucana a respeito do derramamento do Espírito Santo, o que ocorreu no dia de Pentecostes:

1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; 2 de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. 3 E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. 4 Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem. 5Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu. 6 Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. 7Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? 8 E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? 9 Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, 10 da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, 11 tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus? 12 Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer?” (Atos 2:1-12 RA).

Tem-se que se extrair coisas importantes, fundamentais dessa passagem. Primeiramente, é-nos dito que “... estavam todos reunidos no mesmo lugar...”. Depois, que esses tais, todos, “.... ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” [και επλησθησαν παντες πνευματος αγιου και ηρξαντο λαλειν ετεραις γλωσσαις καθως το πνευμα εδιδου αποφθεγγεσθαι αυτοις (Atos, WH 2:4)] .

A expressão grega “ετεραις γλωσσαις” (heterais glossais), “outras línguas”, indica que lhes foi concedida a faculdade, o poder, de falar, sem prévio aprendizado, em idiomas humanos distintos daquele que era a língua materna deles. O vocábulo grego “γλωσσα” (glossa) tem o significado de “língua como membro do corpo, órgão da fala; língua, idioma ou dialeto usado por um grupo particular de pessoas, diferente dos usados por outras nações” (Léxico de Strongs). E o termo “ετερος” (heteros) traduz-se por “o outro, próximo, diferente” (Strongs). Tratando-se da qualidade de uma coisa, essa palavra significa “outro: isto é, alguém que não é da mesma natureza, forma, classe, tipo” (Strongs).

Logo, as línguas faladas em Pentecostes foram idiomas humanos, concedidos pelo Espírito aos discípulos de Cristo de forma sobrenatural, ou seja, sem que eles tivessem aprendido tais idiomas.

Outra coisa importante que se deve extrair do derramamento do Espírito, e que se conecta estreitamente ao que acabei de expor, é o fato de que a audiência dos discípulos de Cristo foi constituída de homens de todas as nações da terra, de todas as províncias do império romano, do chamado “mundo habitado”: “Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu”. Lucas os descreve como sendo “... partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos (…), tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios”.

Esses homens, judeus e prosélitos dessas nações, ficaram admirados com o que presenciaram, e indagaram: “... Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? (…) Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?”

Eles perceberam que, apesar de os discípulos de Cristo serem todos galileus, como disseram, os ouviam falar em suas “próprias línguas as grandezas de Deus” (“ακουομεν λαλουντων αυτων ταις ημετεραις γλωσσαις τα μεγαλεια του θεου”).

As línguas que ouviram foram, segundo disseram, “nossas próprias línguas” (“ημετεραις γλωσσαις”), e o conteúdo ouvido nessas línguas foi: “as grandezas de Deus” (“τα μεγαλεια του θεου”). Embora muitas línguas fossem faladas, ouviram a mesma mensagem.

Qualquer bom observador não deixará de notar as correlações e contrastes desse evento com o de Babel. Neste, os homens buscaram fazer célebre a grandeza humana: “... tornemos célebre o nosso nome...”. No Pentecostes, o próprio Espírito procurou fazer célebre o nome de Deus, proclamando “as grandezas de Deus”.

Em Babel, os homens estavam todos em um mesmo lugar, e falavam a mesma língua. Em Pentecostes, havia homens representando todas as nações, e os discípulos de Cristo, que falavam a mesma língua, estavam todos reunidos no mesmo lugar.

Deus, em Babel, de forma supernatural, distribuiu línguas distintas aos que não a aprenderam tendo em vista frustrá-los em seus propósitos de autoglorificação, tornando impossível a comunicação entre eles. Em Pentecostes, o Cristo exaltado distribuiu línguas aos Seus discípulos, que também não as aprenderam, colimando a exaltação do Deus Altíssimo, fazendo com que homens de diversas nações e idiomas entendessem a mesma mensagem. Em suma, em Babel as línguas foram para juízo, confusão e divisão; em Pentecostes, foram para a graça, ordem e união.

Sem sombra de dúvida, Deus esperava que os judeus, depositários da revelação divina do Antigo Testamento, fossem capazes de relacionar Pentecostes a Babel, e entender as distinções entre cada acontecimento.

Desse modo, as línguas em Pentecostes serviram como sinal do propósito universalista de Deus, de ter um povo, cumprindo a Sua promessa a Abraão, dentre todas as famílias da terra.

Contudo, a audiência dos discípulos de Cristo ficou atônita e perplexa, ao ponto de indagar: ”... Que quer isto dizer?”

Pedro respondeu a essa indagação fazendo uma exposição das Escrituras e afirmando a ressurreição e a exaltação de Jesus como o Messias prometido a Israel. Referiu-se também o apóstolo à profecia de Joel:

16 Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: 17 E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; 18 até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. 19 Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. 20 O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor. 21 E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Atos 2:16-21 RA).

O apóstolo, inspirado pelo Espírito, compreendeu que os últimos dias falados pelo profeta Joel haviam chegado e que o derramamento do Espírito marcava a inauguração desses dias. Também, compreendeu que esse derramamento viria acompanhado de dons espetaculares: “... vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos...”. Com certeza Pedro aplicou as palavras de Joel, o qual utilizou os dons que conhecia em sua época, ligados ao ministério profético (profetizar, sonhar e ter visões), ao fenômeno das línguas que ocorreram naquele dia, ainda mais que elas foram instrumentos de proclamação das grandezas de Deus, transmitindo conhecimento Dele, sendo colocadas diretamente por Ele na boca de seus servos, e entendidas por todos os que as ouviram, o que indica claramente a natureza revelacional desse fenômeno.

Além disso, ao aplicar toda a profecia de Joel ao evento Pedro utilizou uma linguagem típica de juízo: Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor”. Isso é indicativo de que as línguas também serviram de sinal de juízo.

O ápice, porém, da aplicação da profecia de Joel por parte de Pedro ao evento de Pentecostes é que tudo o que ele explanara convergia para a salvação de pecadores de qualquer nacionalidade, conforme as suas próprias afirmações: “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Toda aquela manifestação visível do Espírito colimava a salvação de almas de todas as nacionalidades. Um pouco mais à frente em seu discurso, Pedro deixou isso mais explícito: “… para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos 2:39 RA).

Como resultado da revelação inspirada, tanto das línguas concedidas pelo Espírito, como da pregação apostólica de Pedro, houve uma conversão em massa naquele dia, que a Escritura chama de acréscimo à igreja que acabara de receber o batismo com o Espírito: “Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas” (Atos 2:41 RA).

O evento de Pentecostes criara uma igreja unida no Espírito, e a essa igreja o Cristo exaltado batizou (enxertou) cerca de três mil pessoas de várias nações da terra em um só dia, as quais passaram a fazer parte da igreja visível pelo recebimento do batismo com água.

Para quem trata a Escritura com a devida seriedade, não resta nenhuma dúvida a respeito da função sinalizadora, inclusive de cumprimento profético, das línguas ocorridas no dia de Pentecostes.

PENTECOSTES E SEUS DESDOBRAMENTOS

Com o intuito de deixar bem claras as posições até aqui defendidas, analisarei, ainda no livro de Atos dos Apóstolos, três outros acontecimentos vinculados ao derramamento do Espírito Santo.

O primeiro deles está no contexto da obra evangelística entre os samaritanos. Deixou-nos relatado o médico Lucas que “Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo” (Atos 8:5 RA). Informou-nos também o mesmo escritor que “Quando (…) deram crédito a Filipe, que os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, assim homens como mulheres” (Atos 8:12 RA).

É interessante observar que o conteúdo da pregação de Filipe era Cristo e o reino de Deus, e os que foram batizados o foram porque creram nessa mensagem do evangelista. Por si só, isso já indica que o batismo em água tem o significado de inclusão no corpo de Cristo, a igreja, além do perdão dos pecados e da obra interior do Espírito.

Contudo, apesar de os samaritanos já haverem recebido o evangelho, demonstrando a fé pelo recebimento do sacramento do batismo, ao saberem desse fato os apóstolos, que estavam em Jerusalém, enviaram Pedro e João a Samaria:

14 Ouvindo os apóstolos, que estavam em Jerusalém, que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João; 15 os quais, descendo para lá, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo; 16 porquanto não havia ainda descido sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em o nome do Senhor Jesus. 17 Então, lhes impunham as mãos, e recebiam estes o Espírito Santo” (Atos 8:14-17 RA).

Mister se faz relembrar que no derramamento do Espírito em Pentecostes não estão relacionados os samaritanos, e aqui é uma situação totalmente nova, e que se vincula ao que já afirmei acima: “Seja qual for o significado do batismo com o Espírito Santo (…) já há indícios de que ele também tem a ver com a unidade de Jerusalém, e Judeia, e Samaria, e confins da terra”.

Isso explica o fato de que, apesar de já haverem recebido o batismo em nome de Cristo, que, conforme já adiantei é símbolo/selo do batismo com o Espírito, ainda não haviam recebido o Espírito Santo. Então, houve a necessidade do envio de dois apóstolos para Samaria, a fim de que, ao orarem e imporem aos mãos sobre os samaritanos estes recebessem o Espírito Santo de forma visível, como ocorrera no dia do Pentecostes.

Que esse recebimento veio de forma visível, identificável externamente, é comprovado pelo depoimento de Lucas sobre Simão, o mágico: “ Vendo, porém, Simão que, pelo fato de imporem os apóstolos as mãos, era concedido o Espírito [Santo] , ofereceu-lhes dinheiro, propondo: Concedei-me também a mim este poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo” (Atos 8:18-19 RA).

A única explicação para que o derramamento do Espírito tenha sido retardado entre os samaritanos até à chegada dos apóstolos é a de que eles, como fundamentos da igreja, necessitavam legitimar a obra do Espírito entre os Samaritanos, e dessa forma o nacionalismo judaico fosse pouco a pouco sendo destruído pela pregação do evangelho universalista de Cristo.

De forma clara e sucinta, na medida em que o evangelho saiu de Jerusalém e Judeia para Samaria foi necessária a autoridade apostólica para atestar a obra regeneradora do Espírito, aplicando a redenção de Cristo entre os não-judeus. Visto por outro prisma, na verdade, foi o Espírito quem corroborou a autoridade apostólica, fazendo deles, como já disse, o fundamento da igreja, testemunhando sobre a autoridade que Cristo lhes delegou, e somente a eles, através dos sinais e milagres que através deles operava, como nos legou o autor da carta aos Hebreus: “dando Deus testemunho juntamente com eles (os apóstolos), por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade” (Hebreus 2:4 RA).

O segundo evento que pretendo tratar sobre o derramamento do Espírito é o ocorrido na casa do gentio Cornélio.

Após ser convencido por Deus a ir à casa do centurião, conforme já fiz alusão, Pedro expõe a Palavra de Deus, enfatizando a ressurreição de Cristo, e termina com essas palavras: “Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” (Atos 10:43 RA).

Então, o que ocorreu na ocasião dessa pregação de Pedro? Que a própria Palavra de Deus nos diga:

44 Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. 45 E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; 46 pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro: 47 Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? 48 E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então, lhe pediram que permanecesse com eles por alguns dias” (Atos 10:44-48 RA).

Houve, nessa ocasião, um visível derramamento do Espírito sobre os gentios. E como se prova isso? Pelo fato de que os judeus, “os fiéis que eram da circuncisão”, “... admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus”.

Os judeus reconheceram que os gentios haviam recebido o Espírito Santo porque “... os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus”. Assim como no dia de Pentecostes, o derramamento do Espírito sobre os gentios veio acompanhado de um sinal visível, as línguas, e isso atestava a inclusão dos gentios no povo de Deus, pois foi por isso que os judeus reconheceram que aos gentios também foi concedido o dom do Espírito. Mais uma comprovação de que as línguas serviram como sinal de graça, de inclusão das nações no tronco que é Israel, fazendo-as participantes da benção de Abraão. Também como em pentecostes, os judeus ouviram línguas e a compreenderam e o conteúdo da mensagem era: “as grandezas de Deus”, pois ouviam os gentios “falando em línguas e engrandecendo a Deus”.

Então, Pedro argumentou com seus consortes judeus: “Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo”? O apóstolo estava arrazoando com seus companheiros: podemos recusar o símbolo àqueles que já receberam a realidade? Podemos negar a inclusão dos gentios à igreja visível, se o próprio Deus já os inclui na igreja invisível? Incontinenti, Pedro “... ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo...”. Agora os gentios faziam parte da igreja de Cristo, tanto invisível quanto visível, pelo recebimento do batismo. As línguas serviram de sinal dessa inclusão, e como o conteúdo delas foram as grandezas de Deus, seu conhecimento, há clara indicação de seu caráter revelacional.

Todavia, ainda foi preciso Pedro fazer uma defesa dessa inclusão dos gentios no povo de Deus perante os apóstolos e irmãos que se encontravam na Judeia. Eis o final da sua defesa:

15 Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. 16 Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. 17Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?” (Atos 11:15-17 RA)

Nessa sua defesa Pedro vincula o batismo com o Espírito Santo com o batismo com água, ao lembrar-se das palavras de Jesus: “... João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo”.

Então, termina sua explanação da seguinte forma: “Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus”? O argumento de Pedro é muito claro: se Deus havia dado a realidade, o batismo com o Espírito Santo, a regeneração, o perdão dos pecados, a inclusão dos gentios no povo de Deus, na igreja invisível, quem era ele para resistir a Deus e não batizá-los com água, haja vista que eles receberam o Espírito, fato corroborado pelas línguas que falaram? A vinculação do batismo com água, mais uma vez, ao batismo com o Espírito Santo desmente a tese pentecostal de ser este uma segunda bênção, e claramente a Escritura do Novo Testamento ensina ser tal batismo o início da experiência cristã.

Deve-se perceber que em todos esses casos até aqui tratados o batismo com o Espírito está sempre relacionado com a salvação, com o perdão dos pecados e com a inclusão de pessoas no corpo de Cristo, na igreja de Deus. Em relação aos gentios não foi diferente, pois foi exatamente assim que os judeus entenderam: “E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida” (Atos 11:18 RA).

Tanto os demais apóstolos quanto os outros discípulos que ficaram na Judeia entenderam que “... também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida”. Compreenderam que o derramamento do Espírito foi uma obra salvadora de Deus, que causou arrependimento e fé no evangelho. As línguas, pois, foram apenas um sinal visível da inclusão dos não-judeus no povo de Deus, um meio visível para quebrar o preconceito dos judeus.

Por fim, tratarei do terceiro caso, o do derramamento do Espírito sobre os discípulos de João Batista em Éfeso, pela imposição de mãos de Paulo:

1 Aconteceu que, estando Apolo em Corinto, Paulo, tendo passado pelas regiões mais altas, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos, 2 perguntou-lhes: Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes? Ao que lhe responderam: Pelo contrário, nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo. 3 Então, Paulo perguntou: Em que, pois, fostes batizados? Responderam: No batismo de João. 4Disse-lhes Paulo: João realizou batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que vinha depois dele, a saber, em Jesus. 5 Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus. 6 E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam” (Atos 19:1-6 RA).

Destaca-se, nesse acontecimento, de imediato, o fato de que o padrão para o recebimento do Espírito é simultâneo à obra da regeneração, de produção de fé e arrependimento: “Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes?”

Embora a indagação paulina acima seja, no grego, a seguinte, ειπεν τε προς αυτους ει πνευμα αγιον ελαβετε πιστευσαντες, em que o verbo receber está no 2 aoristo ativo do indicativo, ελαβετε, e o particípio πιστευσαντες é um aoristo ativo, o que poderia indicar uma ação de crer anterior ao recebimento do Espírito, todavia o particípio aoristo pode e é usado no Novo Testamento para indicar uma ação concomitante com a do verbo principal, que faz parte da ação do verbo principal, segundo lição de William D. Mounce:

“O grego coinê frequentemente emprega o particípio para expressar ação que faz parte da ação de um verbo finito aoristo, e esse é claramente o caso na pergunta de Paulo. Crer e receber o Espírito Santo fazem parte de uma só experiência” (Fundamentos do Grego Bíblico, São Paulo: Editora Vida, 2009, p. 309).

Ainda sobre a questão do tempo do particípio aoristo em relação ao verbo principal, o mesmo autor citado, na mesma obra, afirma:

“Enquanto o particípio presente indica uma ação que ocorre ao mesmo tempo que o verbo principal, o particípio aoristo geralmente indica uma ação que ocorre antes do tempo do verbo principal. Existem, no entanto, muitas exceções a essa regra geral. (É por isso que é apenas uma regra geral). Por exemplo, muitos particípios aoristos indicam uma ação que acontece no mesmo tempo que o do verbo principal” (p. 321).

Na minha opinião, julgo não ser impossível que o uso do particípio aoristo em um caso como o acima tratado tenha a intenção de apenas indicar uma precedência lógica, e não temporal, tendo-se em vista a experiência subjetiva do pecador, do crer em relação ao receber o Espírito Santo. Digo isso com base no ensino geral da Escritura sobre o assunto, que certamente preconiza serem essas ações simultâneas.

Algo que não pode ser olvidado no relato de Lucas sobre o evento envolvendo essas pessoas em Éfeso é que elas responderam a Paulo que nem sequer ouviram falar que existia o Espírito Santo, apesar de haverem sido batizadas no batismo de João Batista, o qual pregava que após ele viria aquele que batizaria com o Espírito Santo.

Mas, no que consiste a promessa do evangelho, conforme Pedro já expusera aos judeus no dia de Pentecostes? Deixemo-lo falar por si mesmo:

36 Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. 37 Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? 38 Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. 39 Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos 2:36-39 RA).

Após ouvirem a pregação de Pedro, os judeus ficaram com os corações compungidos, e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: “Que faremos, irmãos?” À isso Pedro respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” .

Vejamos que a promessa do evangelho, para os judeus (“para vós outros”) e para os gentios (“os que ainda estão longe”) é o perdão dos pecados e o dom do Espírito Santo. A pregação do evangelho não pode separar essas duas coisas, pois elas são intrinsecamente ligadas, e simbolizadas pelo batismo com água.

Não é de admirar, pois, que as pessoas em Éfeso nem fossem ainda convertidas, pois ainda não conheciam esta mensagem, havendo a necessidade de que Paulo as ensinasse que o batismo de João foi um batismo de arrependimento, mas que esse arrependimento deveria levar à fé naquele que haveria de vir. Somente após entenderem isso é que foram batizadas em Cristo e receberam o Espírito Santo: “Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam”.

Mais uma vez aqui a concessão do Espírito, de forma visível, acompanhada de línguas, está ligada à pregação do evangelho e ao ministério apostólico, nesse caso específico o de Paulo, que se tornara, já nessa ocasião, o apóstolo aos gentios, haja vista o conflito que ocorre entre ele e Barnabé e os judeus em Antioquia: “Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios” (Atos 13:46 RA).

O derramamento do Espírito sobre esses discípulos em Éfeso veio acompanhado de línguas como confirmação do ministério apostólico de Paulo entre os gentios, certamente. Ademais, ainda corroborando o indício do qual falei de serem as línguas de natureza revelacional, é-nos ditos que os discípulos em Éfeso “... tanto falavam em línguas como profetizavam”.

Convém-me, pois, sumariar as conclusões até aqui tiradas a respeito do derramamento do Espírito em Pentecostes e seus desdobramentos posteriores, narrados no livro de Atos.

BREVE SUMÁRIO

O dom do Espírito em Pentecostes veio acompanhado de glossolalia, isto é, do fenômeno de outras línguas humanas como sinal de inclusão das nações no tronco do povo de Deus, Israel. Tal fato contrasta com o evento ocorrido em Babel, quando a glossolalia visou a desunião humana, enquanto em Pentecostes visou a unidade da raça no Espírito.

Esse derramar do Espírito sempre esteve vinculado à obra redentora de Cristo, à obra da salvação, em nenhum lugar indicando ser algo distinto da obra salvadora de Deus em Cristo, contrariando a doutrina carismática da “segunda bênção”, do “revestimento”.

As línguas, nesse contexto, apenas serviram de sinal de bênção e maldição. Benção para as nações, que agora, ao contrário de Babel, estavam sendo enxertadas no povo de Deus, Israel, e, para o Israel incrédulo, sinal de maldição, haja vista que estava sendo rejeitado como nação, por não haver dado crédito ao Messias que lhe havia sido enviado.

A mensagem que acompanhou as línguas sempre foi a das “grandezas de Deus”, ou seja, a de sempre revelar os seus atributos, a sua obra, o seu conhecimento, demonstrando serem elas de natureza revelacional.

Em todas as vezes o fenômeno glossolálico esteve inexoravelmente vinculado ao ministério apostólico, corroborando o fato de que as línguas serviram mesmo de sinal de expansão do Reino de Deus entre as nações, haja vista que os apóstolos constituem os fundamentos da igreja, assim como os doze filhos de Jacó constituíram o fundamento das tribos de Israel.

As línguas só serviram de sinal exterior do batismo com o Espírito Santo na medida em que esse significa a própria obra da regeneração, a inclusão de pecadores mortos em seus delitos e pecados no corpo de Cristo, na igreja. Nesse sentido, o batismo com o Espírito Santo tem um significado que vai desde o perdão dos pecados até à pertinência ao povo de Deus. Envolve, pois, justificação, perdão, arrependimento, fé e inclusão no corpo místico de Jesus Cristo. Todas essas coisas sobre o batismo com o Espírito podem ser ditas pela simples vinculação, que a Escritura faz, dele com o batismo com água, estabelecendo entre eles uma relação, respectivamente, de realidade e símbolo.

Porém, pela simples evidência de ser o livro de Atos um livro histórico, necessário se faz a comprovação de todas essas conclusões pela exposição doutrinária apostólica, que buscarei nas cartas paulinas.

SOBRE O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO

Sobre a inclusão dos gentios no povo de Deus há farta literatura paulina, mostrando o seu pensamento sobre esse evento, sobre esse desígnio redentor de Deus.

Por exemplo, na carta aos Efésios Paulo nos deixou escrito:

11 Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas,12 naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. 13Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. 14 Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, 15 aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, 16 e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. 17 E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; 18 porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. 19 Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus,20 edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Efésios 2:11-20 RA).

Paulo expõe aos crentes da cidade de Éfeso que antes da conversão deles eles estavam “sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa...”. Porém, eles, que antes estavam longe, foram “... aproximados pelo sangue de Cristo...”.

Essa aproximação fez com que ele dissesse aos efésios que eles já não eram mais “... estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, (...) da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”.

A obra de Cristo, assim, incluíra os gentios no povo de Deus, fazendo-os parte da “família de Deus”. Porém, essa obra foi uma reconciliação não somente dos gentios com Deus, mas também dos próprios judeus, pois ela, a obra de Cristo, reconciliou “... ambos (judeus e gentios) em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade”.

Justamente porque judeus e gentios, por causa da obra expiatória de Cristo, estavam reconciliados com Deus, Paulo pôde escrever aos efésios: “E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito”. O Espírito, pois, é o elemento, se que assim podemos falar, que dá a unidade do corpo e que torna possível o acesso ao Pai de judeus e gentios. A obra expiatória de Cristo é o fundamento dessa unidade, mas a sua concretização é realizada pelo Espírito.

E fica mais fácil entender o que Paulo quer dizer com isso ao lembrarmos das suas palavras em outra carta, dirigindo-se aos crentes de Roma: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Romanos 8:9 RA). Ter o Espírito de Cristo faz de alguém participante de seu corpo, independentemente de ser judeu ou gentio, haja vista que o mesmo Paulo afiançou:

26 Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; 27 porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. 28 Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. 29 E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3:26-29 RA).

Para Paulo, qualquer um, judeu ou gentio, que houvesse sido batizado em Cristo, de Cristo havia sido revestido, a ele pertencia, e assim era descendente de Abraão e herdeiro segundo a promessa. Obviamente, à luz do que ele escreveu e que transcrevi acima, essa unidade judaico-gentílica era dada pelo Espírito Santo, que congregava todos, judeu, grego, escravo, liberto, homem e mulher, em um só corpo.

E em nenhum lugar, creio, Paulo deixou esse seu pensamento mais claro do que na primeira epístola aos Coríntios:

12 Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. 13 Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1 Coríntios 12:12-13 RA).

Tal afirmação de Paulo está no contexto de seu ensino sobre a variedade de dons e ministérios na igreja. A respeito disso, dessa diversidade, Paulo acabara de afirmar: “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente” (1 Coríntios 12:11 RA).

Contudo, ele vai além da operação do Espírito distribuindo individualmente dons. O apóstolo apela, em seu argumento, para o fato de que todos, judeus ou gregos, escravos ou livres, foram batizados em um corpo, sendo-lhes “... dado beber de um só Espírito”.

Resta mais do que óbvio, pois, que o batismo com o Espírito Santo é a própria obra pela qual Deus introduz cada membro, seja quem for, no corpo de Cristo, e assim une cada um ao outro pela pertinência a esse corpo.

Não resta lugar para a crença pentecostal para o batismo com o Espírito Santo como uma segunda bênção, pois é ensinado claramente nas Escrituras ser ele a experiência inicial da fé cristã. Como escreveu John Stott, “... o dom do Espírito Santo é uma experiência cristã universal, por ser uma experiência crista inicial. Todos os cristãos recebem o Espírito no momento em que começam as suas vidas cristãs” (Batismo e Plenitude do Espírito Santo, São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 38). Destaque-se que para Stott, dom do Espírito Santo e batismo com o Espírito Santo são a mesma coisa, conforme suas próprias palavras: “... será que este “dom” do Espírito prometido é a mesma coisa que o “batismo” do Espírito Santo? [...] Esta é a minha convicção...” (Op.cit. p. 23).

Não sendo o batismo com o Espírito Santo uma segunda bênção, segue-se que também as línguas não podem ser um sinal externo perene dessa benção, conforme igualmente advoga a equivocada teologia pentecostal.

O CARÁTER REVELACIONAL DAS LÍNGUAS NEOTESTAMENTÁRIAS

Após um capítulo explanatório sobre o amor, Paulo passou a expor sobre o dom de profecia e línguas, e fez isso escrevendo aos coríntios da seguinte forma:

1 Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis. 2 Pois quem fala em outra língua (ο γαρ λαλων γλωσση) não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios (πνευματι δε λαλει μυστηρια). 3 Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando. 4 O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja. 5 Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação” (1 Coríntios 14:1-5 RA).

Desejo evocar à lembrança que, no livro de Atos, todas as abordagens sobre o conteúdo da mensagem das línguas nos mostraram ser ele a mesma e única coisa, tratando-se das “grandezas de Deus”, e isso eu apontei como indício do caráter revelacional das línguas, haja vista que traziam conhecimento de Deus, e amplio para dizer que este conhecimento era controlado pelo Espírito, de modo que este conhecimento era absolutamente verdadeiro, ou seja, equivalente ao conhecimento inspirado, profético.

Ao tratar da questão na igreja coríntia, Paulo também assumiu o caráter revelacional das línguas, posto que disse aos membros dessa igreja: “Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios” [ο γαρ λαλων γλωσση ουκ ανθρωποις λαλει αλλα θεω ουδεις γαρ ακουει πνευματι δε λαλει μυστηρια].

O apóstolo disse que o que fala em língua fala em mistérios, e isso dá ocasião para os pentecostais afirmarem que as línguas de que Paulo trata são línguas incompreensíveis, idiomas não humanos, são línguas dos anjos, etc. Todavia, basta um simples estudo do uso das palavras gregas γλωσσα (glossa) e μυστηριον (musterion) no Novo Testamento para se derrubar a tese pentecostal.

Concernentemente à palavra γλωσσα (glossa) não há necessidade de repetirmos o que já estabelecemos alhures, indicando se tratar, semanticamente, de idiomas humanos. Na passagem em questão de 1 Coríntios, haja vista não haver nenhum qualificativo para o termo que leve à outra conclusão, reafirmamos o que foi dito em relação ao vocábulo também utilizado em Atos dos Apóstolos. Se alguma diferença há aqui é a falta de um qualificativo para o vocábulo γλωσσα, visto que até mesmo a expressão “Pois quem fala em outra língua…”, que começa o versículo 2, por exemplo, a qual traduz a frase grega “ο γαρ λαλων γλωσση…” (que literalmente se traduz “o, pois, que fala em língua…”), mostra-nos que o termo “outra” foi introduzido na tradução portuguesa, não fazendo parte do original grego. Seria de se esperar que o Espírito ao inspirar um apóstolo a escrever para a igreja de todos os tempos o tivesse movido a qualificar o termo de modo que as gerações futuras entendessem que essas línguas faziam parte de uma categoria especial, e eram distintas dos idiomas humanos.

Continuando a argumentação, agora em relação à palavra μυστηριον (misterion), Jesus, por exemplo, elevou-se em louvor ao Pai pela sua soberana escolha de revelar o evangelho àqueles que não eram sábios aos olhos do mundo, enquanto o ocultava dos sábios e entendidos: “Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Mateus 11:25-26 RA).

Após escutarem a parábola do semeador, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram por que falava por parábolas, “Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido” [ο δε αποκριθεις ειπεν οτι υμιν δεδοται γνωναι τα μυστηρια της βασιλειας των ουρανων εκεινοις δε ου δεδοται] (Mateus 13:11).

Não é difícil chegar à conclusão de que os “mistérios do reino dos céus” (τα μυστηρια της βασιλειας των ουρανων) são exatamente as coisas ocultadas aos sábios e instruídos e reveladas aos pequeninos (discípulos). A palavra “mistério” é usada por Jesus, portanto, como sinônima da vontade revelada de Deus, e não como significando algo incompreensível, ininteligível, a não ser para aqueles a quem Deus continua ocultando deles, não porque elas não estejam agora reveladas, mas porque a eles não foi concedido conhecer (compreender) esses mistérios.

No mesmo sentido Paulo também utilizou a palavra “mistério” (gr. μυστηριον). Na carta aos Efésios, Paulo escreveu que Deus predestinou seus eleitos para serem filhos de adoção por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito da sua vontade, para louvor da sua graça, que Ele derramou abundantemente sobre eles (os eleitos), “desvendando-nos o mistério da sua vontade [το μυστηριον του θεληματος αυτου], segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo” (Efésios 1:9 RA).

Como se vê, aqui também a palavra “mistério” está vinculada com aquilo que antes era desconhecido e agora estava revelado, manifesto, dado a conhecer. A graça de Deus havia sido derramada pela revelação do seu propósito antes oculto, mas agora dado a conhecer em Cristo.

Na carta que escreveu aos romanos Paulo disse: “ Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações” (Romanos 16:25-26 RA).

Aqui também o “mistério” é o que esteve “... guardado em silêncio nos tempos eternos, e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas...”.

Em vão há de se procurar outro sentido da palavra μυστηριον no Novo Testamento. Por pura questão de extensão me contentarei apenas com os poucos exemplos que transcrevi. Mas, como escreveu O. Palmer Robertson, “O termo ‘mistério’ é usado vinte e oito vezes no Novo Testamento. Se descartarmos por um instante a ocorrência em 1 Coríntios 14, presentemente em consideração, vinte e sete casos falam do ‘mistério’ como sendo algo que outrora esteve oculto, mas que agora foi revelado” (Línguas Hoje? www.monergismo.com/textos/pentecostalismo/Palmer_Linguas_Hoje.pdf>acessado em 11.10.2009).

Por que apenas na passagem de 1 Co 14:2 o termo “mistério” haveria de adquirir outra significação, distinta de todo o Novo Testamento, sem nenhum fundamento para isso? Os pentecostais preferem satisfazer seus próprios caprichos a dar ouvidos à voz da Escritura.

Se levarmos em conta que o conteúdo das línguas, segundo o livro de Atos, eram as grandezas de Deus, e o fato de que as línguas faladas eram idiomas distintos do que aqueles que falam estavam acostumados a falar, não há nenhuma dificuldade em entender porque o que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus, porque no Espírito ele fala das grandezas de Deus, e por nenhum dos presentes é entendido, senão pelo próprio Deus.

Mas Paulo estabeleceu, no contexto, uma relação mais clara e direta entre as línguas e seu caráter revelacional: “Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação”.

Nessa passagem específica, Paulo iguala as línguas interpretadas à profecia, haja vista que nesse caso há edificação de toda a igreja, pois há comunicação da revelação divina de modo compreensível a todos, e é essa revelação que traz edificação. O motivo porque o profeta era considerado por Paulo superior ao que falava em línguas não interpretadas é que este demonstrava uma imaturidade espiritual, buscando apenas o seu próprio proveito, e não o de todos. Isso é entendido à luz do que o apóstolo escrevera sobre o amor, o qual “... não procura os seus interesses...” (1 Coríntios 13:5 RA). O que busca o interesse da congregação, a sua edificação, dá clara demonstração de estar amplamente dotado do dom supremo, o amor, pois apesar de restar a fé, a esperança e o amor, este último é o maior de todos, e os que seguem o seu caminho se mostram superiores aos demais, que buscam apenas a sua própria satisfação.

Mas resta, ainda, uma complicação nessa passagem. Como alguém que não interpretava as línguas poderia ser edificado por elas? Será se tal pessoa, mesmo sem interpretá-las, compreendia o que falava?

Creio não haver como negar que mesmo sem interpretação aquele que falava as línguas compreendia a mensagem que elas lhe transmitiam, sofrendo com isso edificação. Porém, se compreendia, por que simplesmente não repassava à congregação aquilo que entendeu? É justamente por causa do caráter revelacional das línguas. A profecia sempre foi a comunicação inspirada de Deus, e Paulo igualou as línguas interpretadas à profecia. Isso quer dizer que a interpretação cuidava da “qualidade” da mensagem, isto é, garantia, por obra sobrenatural do Espírito que a mensagem tinha origem divina e era a Palavra de Deus revelada e normativa para aquele tempo em que o cânon do Novo Testamento não estava acabado. À parte do dom interpretativo, não haveria nenhuma garantia de que a Palavra de Deus, ligada à comunicação do mistério do evangelho, estivesse sendo corretamente transmitida à congregação.

Logo, era necessária a operação sobrenatural do Espírito, através do dom da interpretação, para que as línguas se igualassem à profecia, no sentido de comunicação da revelação de forma segura e verdadeira, pois, de outra forma, as línguas sempre traziam revelação, nem sempre inteligíveis quando não pudessem ser interpretadas.

AS LÍNGUAS COMO SINAL DE MALDIÇÃO

Creio ser desnecessário rediscutir o papel das línguas como sinal de inclusão das nações no tronco do povo de Deus, Israel, fenômeno espiritual distinto do ocorrido em Babel, haja vista que foi suficientemente tratado acima, quando da exposição de passagens do livro de Atos dos Apóstolos.

Não obstante, naquela ocasião também aludi serem as línguas sinal de juízo, inclusive citando o fato de que Pedro usou toda a linguagem do profeta Joel ao evento do Pentecostes: Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor”.

Segundo o evangelista Mateus, João Batista pregava: “Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível” (Mateus 3:11-12 RA).

João demonstrava, assim, que a obra do Messias seria dupla: batismo com o Espírito Santo e batismo com fogo. Usando do paralelismo típico do pensamento hebraico, João, o Batista, explicava que a obra do Messias do batismo com o Espírito Santo corresponderia ao recolher o trigo no celeiro, enquanto que o batismo com fogo consistiria em queimar a palha em fogo inextinguível.

Ao contrário do que muitos pensam, essa obra do Messias ocorreria de forma simultânea, pois ao mesmo tempo em que daria vida aos seus escolhidos e revelaria o Pai a eles, deixaria os demais na morte espiritual e ignorantes a respeito daquele que lhe havia enviado. Grande parte de Israel seria rejeitada e endurecida. Este é o batismo com fogo. Outra parte seria atraída a Cristo. Este é o batismo com o Espírito Santo.

Na explicação da parábola do semeador, Jesus fez alusão ao endurecimento de parte de Israel, ao citar as Escrituras do Antigo Testamento: “... A vós outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles” (Marcos 4:11-12 RA).

Desse modo, as parábolas serviam de instrumento de revelação para uns, mas de ocultação para outros. Para estes últimos, pois, as parábolas eram um claro sinal de juízo, de Deus estar ocultando de parte de Israel o seu desígnio redentor, de modo que não viessem “.. a converter-se...”, e houvesse “... perdão para eles”.

De igual forma funcionaram as línguas no Novo Testamento. Como vimos, para os eleitos de Deus, mesmo sendo eles de todas as partes do império romano, o Espírito os fez ouvir as grandezas de Deus, o que resultou em um conversão numerosa no sermão de Pedro pregado no dia de Pentecostes. Para os demais, as línguas só serviram como sinal de juízo, deixando-os em confusão e sem entendimento.

Diante disso é que Paulo escreveu aos coríntios:

20 Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos. 21 Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. 22 De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, e sim para os que crêem. 23Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos? 24 Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e por todos julgado; 25 tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós” (1 Coríntios 14:20-25 RA).

Paulo chama a atenção dos coríntios para que eles não fossem meninos no juízo, mas sim na malícia. Diante dessa sua repreensão é que ele cita o profeta Isaías: “Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor”. Reitero que, apesar de o apóstolo haver falado de que na lei estava escrito o que escreveu, na verdade, sua citação é do profeta Isaías, capítulo 28: 11-12.

Contudo, a citação do profeta Isaías já encontrava apoio no Livro da Lei, haja vista que Moisés já profetizara: “O SENHOR levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra virá, como o vôo impetuoso da águia, nação cuja língua não entenderás” (Deuteronômio 28:49 RA).

Portanto, os judeus entenderiam muito bem quando outras línguas estivessem sendo faladas na terra de Israel, mormente nas dependências do Templo.

E Paulo apelou que seus leitores coríntios também entendessem isso, que as línguas serviam de sinal de juízo para os incrédulos (judeus), pois toda vez que elas eram faladas e eles não a entendiam, assim como as parábolas, atestavam que o reino lhes fora arrebatado e entregue aos gentios, que, agora, em conjunção com o remanescente de Israel, compunham a família de Deus.

Então, era a mais absurda das meninices que os coríntios insistissem em falar entre eles em línguas não interpretadas, haja vista que elas jamais foram para servir de sinais para crentes, mas sim para descrentes. A busca deveria ser pela profecia que a todos edificava, pois trazia a comunicação clara, e em língua local, da mensagem divina.

É esta mensagem clara, inteligível pelos que ouvem que levaria os descrentes eleitos ao arrependimento, e à adoração a Deus, e ao reconhecimento pelos judeus de que Deus, estava, de fato, no meio da igreja gentílica dos coríntios.

É a lei de Deus, a sua Palavra, o instrumento que o Espírito utiliza para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo, por isso Paulo fala que os segredos do coração estariam revelados, pois pelo padrão da justiça os homens seriam avaliados e veriam a sua miséria. Se interpretadas, as línguas cumpririam a mesma função da profecia, o que atesta o caráter revelacional daquelas.

Logo, também nessa sua função, verifica-se a inutilidade das línguas nos dias atuais, visto estar amplamente estabelecido que os gentios fazem parte do povo de Deus. Deve-se se lembrar que a distribuição dos dons espirituais levava em conta a utilidade: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (1 Coríntios 12:7 RA).

A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS

Tendo em vista o que acabei de afirmar, que os dons visavam um fim proveitoso, aproveito o ensejo para afiançar que a Escritura Sagrada é suficiente para o exercício de qualquer ministério dentro da igreja, pois o próprio Paulo afirmou: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16-17 RA).

Paulo assevera que a Escritura é inspirada por Deus, o que garante a sua infalibilidade, a sua inerrância, a sua autoridade. Além disso, essa Escritura, por ser inspirada, é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça, de modo que “o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. O apóstolo escreve, explicitamente, que a Escritura contém toda a instrumentação necessária para que “o homem de Deus” desempenhe o seu ministério.

E não só isso, a Escritura é suficiente porque nela está contida tudo aquilo que é necessário para a fé, para a vida e para a adoração dos servos de Cristo. É exatamente isso o que preconiza a Confissão de Fé de Westminster (CFW), em seu capítulo I, item VI: “Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela”.

Por causa dessa suficiência, a mesma Confissão declara como artigo de fé dos cristãos reformados e, assim, da igreja histórica de Cristo, que cessaram todos os outros modos de Deus falar a seu povo:

Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providencia manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos, e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isso torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo (CFW, I, I).

“A Confissão Belga” que, juntamente com “Os Cânones de Dort” e “O Catecismo de Heidelberg”, compõe a chamada “três formas de unidade”, não destoa da CFW, haja vista que reza em seu artigo 7: “Cremos que a Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e, suficientemente, ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo. Nela, Deus descreveu por extenso, toda a maneira de servi-lo”.

É uma crença substancial da fé reformada, pois, que aqueles antigos e diferentes modos, em diferentes tempos, através dos quais Deus revelou a sua vontade a seu povo, cessaram.

Consequentemente, é uma contrariedade à fé reformada a alegação da atualidade de determinados dons revelacionais, como o de profecia e línguas. Todavia, muitos, no Brasil e no exterior, dizendo-se reformados, destroem o princípio da sola Scriptura, e edificam em cima de fundamento estranho ao dos reformadores e dos seus legítimos sucessores.

É uma tristeza que tais pessoas tenham sido infectadas pela doutrina antiblíblica do pentecostalismo, e por não terem coragem e conhecimento para refutar esses erros fazem “política de boa vizinhança”, procurando conformar à fé reformada aquilo que lhe é absolutamente antagônico.

Esses tais não se lembram do duro combate de Lutero e Calvino contra a chamada ala radical da Reforma, a qual, de certa forma, colocou o fundamento do pentecostalismo do século XX.

CONCLUSÃO

O fenômeno glossolálico ocorrido no dia de Pentecostes e em épocas imediatamente posteriores não surgiu em um vácuo, mas como demonstrei foi algo anunciado, que se relaciona teologicamente com o evento da construção da cidade e da torre em Babel e com a aliança abraâmica e sua progressão revelatória.

Nessa sua conexão histórico-teológica, a glossolalia serviu tanto de sinal de que a benção de Abraão prometida a todas as nações estava, finalmente, realizando-se, bem como também que a descendência biológica deste, o Israel étnico, estava sendo rejeitado, sendo as línguas para ele um sinal de juízo, de maldição, conforme anunciado na Lei e nos Profetas. Porém, Deus reservou para si um remanescente desse Israel.

Ao expiar o pecado com o sangue da sua cruz, Jesus Cristo aboliu a inimizade de judeus e gentios com Deus, e tornou possível que ambos os povos, pelo Espírito, tenham acesso ao Pai, como um só corpo. Como todos, judeus e gentios, que fazem parte desse corpo tem o Espírito, foram nele batizados, compondo a família de Deus. Sendo assim, o batismo com o Espírito é a experiência inicial da vida cristã, e não uma segunda bênção como preconiza a teologia pentecostal.

Exteriormente a obra do Espírito é simbolizada pelo sacramento do batismo com água, rito introdutório do fiel na igreja visível, portanto selo/sinal do batismo com o Espírito Santo, o qual introduz o pecador redimido na igreja invisível.

Destarte, resulta ser uma distinção desautorizada pela Escritura a feita pelos pentecostais entre crentes batizados e crentes não batizados com o Espírito Santo. Esta distinção se efetua, de fato, entre aqueles que são salvos (batizados com o Espírito Santo) e aqueles que são perdidos (que não são batizados com o Espírito).

No Novo Testamento, as línguas como sinal exterior do batismo com o Espírito Santo, isto é, da salvação, sempre estiveram vinculadas ao ministério apostólico e à pregação do evangelho de Cristo, devido ao caráter revelacional delas.

Em todos os casos, salvo se alguém quiser contrariar a gramática grega, as línguas faladas no Novo Testamento sempre foram idiomas humanos, estrangeiros para aquele que falava sem prévio aprendizado, e isso ocorria sempre vinculado ao caráter revelacional das línguas bem como à sua função de sinal de bênção e/ou maldição, conforme longamente discutido acima.

Todavia, Deus não deixou seu povo sem compensação pela cessação de determinados dons, pelo contrário, Deus lhe deu algo bem mais grandioso, bem mais sólido, deu-lhe a Escritura Sagrada, que contém todo o conselho de Deus concernente à sua glória e à salvação e vida do homem.

Diante de tudo isso, do significado histórico-teológico das línguas, do seu caráter revelacional, da sua função sinalizadora durante o batismo com o Espírito Santo dos dois grandes grupos componentes da igreja, judeus e gentios, com o intuito de demonstração da obra unificadora do Espírito, e em face da suficiência da Escritura Sagrada, resta-me afirmar que as línguas hoje faladas não são as mesmas encontradas nas páginas do Novo Testamento, tendo-se em vista que estas cumpriram plenamente a sua destinação histórica, teológica e redentiva.

Não obstante, se as minhas afirmações terminassem no parágrafo imediatamente acima eu não passaria de um covarde, desprovido do verdadeiro amor bíblico, motivado pelo medo, pelo sentimentalismo ímpio e pela falsa piedade.

Se as línguas hodiernas não são as mesmas do Novo Testamento, então elas são um embuste, uma falsidade que tem origem não no Espírito de Deus, mas no pai da mentira, no diabo. Isso é uma questão de lógica: se algo não é verdadeiro, é falso. Se é falso, não pode ter origem no “... Espírito da verdade...” (João 14:17 RA).

Não querendo entrar em questões escatológicas em sentido estrito, mas colimando extrair um princípio bíblico, faço transcrição das palavras de Paulo contidas em sua segunda epístola aos Tessalonicenses:

9 Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, 10 e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. 11 É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, 12 a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça” (2 Ts 2:9-12 RA).

O princípio do qual falo é que sempre que os homens rejeitam a verdade, Deus lhes envia a operação do erro, como justo juízo por não acatarem a sua Palavra: “... não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça”.

E como vem a operação do erro? Segundo “... a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça...”.

Após um longo período de trevas, Deus trouxe sua maravilhosa luz novamente a brilhar bem forte no mundo ocidental, através do evento da Reforma. Não tardou para que os homens fossem pouco a pouco suprimindo as verdades trazidas novamente à lume. Foram sendo esquecidas as doutrinas da justificação pela fé, da soberania de Deus, da suficiência da Escritura, etc., até que no lugar delas prevaleceram as doutrinas arminiana e pentecostal, ambas estreitamente vinculadas, e ambas essencialmente antagônicas à fé reformada.

A prevalência dessas doutrinas é o justo juízo de Deus sobre a nossa geração e sobre outras que nos antecederam, que se cercaram de mestres segundo as suas próprias concupiscências.

O único remédio para essa situação é o sangue de Cristo, a graça divina. Por isso, conclamo aos que estão mergulhados no pecado da ignorância a respeito dos dons espirituais que verdadeiramente se arrependam, e que busquem de Deus o perdão e o gosto pela verdade, a fim de ver se Deus, em sua infinita bondade, os livra do laço ao qual estão presos.

Ao escrever esse artigo meu intento foi o de que ele contribua para corroborar a fé daqueles que já estão firmes na verdade, mas também o de abrir os olhos daqueles que estão escravizados pelo erro do pentecostalismo, os quais, assim como os judeus do primeiro século, de quem Paulo escreveu, têm escamas nos olhos e não conseguem enxergar verdades tão límpidas, tão nítidas, expostas na Escritura Sagrada.

Que Deus me conceda a graça de atingir o meu desígnio, que, em última instância, é o seu próprio desígnio instalado em meu coração pela sua santa Palavra e pelo seu Santo Espírito.

Por Célio Lima.

domingo, 26 de junho de 2011

100 anos da Assembléia de Deus no Brasil

Biblicamente não creio nem estou convencido que o culto cristão genuíno seja pentecostal. Se os 100 anos da Igreja Assembléia de Deus (AD) devem ser parabenizados, certamente tal denominação deverá ser parabenizada por seus feitos sociais polinizadores e ações sociais em geral, mas a bandeira do pentecostalismo em seu cerne é uma coletânea de erros doutrinários. A começar pela ênfase em supostos dons espiritual fundamentados em experiências. Sem falar do legalismo de uso e costumes. Tais coisas estranhas não honram o equilíbrio da sã doutrina.

Apesar de algumas mudanças positivas hoje, como por exemplo, uma maior preocupação da linha editorial de sua casa publicadora, as Assembléias de Deus, na prática, ainda são inventoras ativas de novas tradições humanas, em nome de uma “espiritualidade” e “unção”, e todo movimento contrário é taxado de frio e não-espiritual.

Muitas dessas igrejas não sobrevivem sem aquecer a lareira das pregações e cânticos triunfalistas. Nos cultos, há muito holofote para cantores, teatros, corais, testemunhos pessoais, profecias particulares e honras floridas às personalidades e autoridades presentes. Ou seja, princípio regulador de culto é algo desprezado e desconhecido.

A produção musical é pobre de doutrina apostólica e demasiadamente antropocêntrica. E muitos chamam tais movimentos de avivamentos e bênçãos. Pastores “intocáveis e ungidos” determinam o que é verdade e se blindam num tipo de imunidade em nome de Deus.

É certo que muitos irmãos dentro da AD estão inconformados com certos moveres anti-bíblicos, e estes merecem honra pelo esforço e batalha. Tais irmãos, que ao serem zelosos em erguer a bandeira da herança reformada, são perseguidos e classificados de hereges pelas lideranças da denominação, continuam inconformistas e realmente estão plantando uma semente de um novo mover de Deus genuíno.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Cântico dos Salmos, Exclusivamente!

O afastamento de diversas denominações presbiterianas do cântico exclusivo dos salmos (i.e, do culto bíblico) deveu-se basicamente a três razões.

(1) Diversas igrejas presbiterianas perderam o entendimento bíblico do princípio regulador do culto e por isso só o aplicavam ao ato de culto público. Reuniões “particulares”, culto familiar e particular eram consideradas áreas da vida que estavam fora alcance do rígido parâmetro da aprovação divina. Praticamente todas as inovações dos séculos dezoito e dezenove penetraram nas igrejas através de práticas que foram arbitrariamente colocadas para fora da “sola scriptura” (e.g., culto familiar, Escola Dominical, reuniões de avivamento, etc.).

(2) Muitos presbiterianos foram influenciados pelo sentimentalismo do reavivamento pietista que varreu as colônias durante o século dezoito. Ao longo desse período várias famílias e pastores começaram a usar a “Imitação dos Salmos de Davi” [Psalms of David Imitated, 1719] de Isaac Watts, em lugar do saltério (1650) cuidadosamente traduzido e empregado pelos presbiterianos daqueles dias. A versão dos salmos de Watts era um afastamento radical do cântico exclusivo de salmos, sendo muito mais que uma paráfrase dos salmos. Em muitas ocorrências equivalia a hinos não-inspirados vagamente baseado nos Salmos. Não se deve esquecer jamais que Isaac Watts, no prefácio de seu Hymns and Spiritual Songs [Hinos e Canções Espirituais, 1707], admitia abertamente que considerava os Salmos de Davi como falhos, “contrários ao evangelho” e capazes de fazer os crentes “falarem falsamente a Deus”. A versão dos Salmos de Watts foi aceita por muitas famílias e diversos ministros, e foi uma pedra de passagem para a clamorosa hinologia do hinário de Watts.

(3) As inovações do século dezoito não teriam se enraizado se os presbitérios das colônias tivessem feito seu trabalho e disciplinado os ministros que haviam corrompido o culto a Deus e se apartado da Escritura e dos Padrões de Westminster. Havia uma certa indisposição em fazer da pureza do culto uma questão de disciplina. Ocorreram várias disputas a respeito da versão de Watts de 1752 até 1780. O resultado, entretanto, era sempre o mesmo. O presbitério ou sínodo envolvido recusava tomar atitudes decisivas, permitindo, dessa forma, que as imitações de Watts permanecessem. Como resultado, os que não desejavam se contaminar separaram-se em grupos presbiterianos bíblicos menores. O declínio foi codificado em 1788 quando se adotou um novo diretório para o culto que modificava a declaração de “cântico de salmos” do diretório de 1644 para “por cântico de salmos e hinos”.


Brian M. Schwertley é Mestre em Divindade pelo Reformed Episcopal Seminary, Philadelphia, USA. Bacharel em Artes, com honras, pela Universidade Temple (Concentração em História), Philadelphia, USA. Pastor da Chalcedon Christian Church da Igreja Presbiteriana Reformada dos E.U.A., MI. Trabalhou como plantador de igrejas na Reformation Fellowship (RPCNA) Mission Church, Lansing, MI, de 1995 a 2000. Foi também palestrante no Simpósio Os Puritanos, em Junho de 2001, no Recife, e na Conferência sobre Adoração do Greenville Seminary (onde debateu sobre a Salmodia Exclusiva), em Março de 2003. Autor de vários artigos e livros teológicos, entre eles: “O Modernismo e a Inerrância Bíblica”; “O Movimento Carismático e as Novas Revelações do Espírito” e “Sola Scriptura e o Princípio Regulador do Culto”. Brian é casado com Andrea há 21 anos e têm cinco filhos, todos educados em sistema de homeschool (ensino doméstico).

E-mail: mbschertley@athena.com

Home page: http://www.reformedonline.com/

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Avalie o preço

Será que um homem que ama o seu Senhor estaria disposto a ver Jesus vestindo uma coroa de espinhos, enquanto ele mesmo almeja uma coroa de louros? Haveria Jesus de ascender ao trono por meio da cruz, enquanto nós esperamos ser conduzidos para lá nos ombros das multidões, em meio a aplausos? Não seja tão fútil em sua imaginação. Avalie o preço; e, se você não estiver disposto a carregar a cruz de Cristo, volte à sua fazenda ou ao seu negócio e tire deles o máximo que puder, mas permita-me sussurrar em seus ouvidos: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”
Charles Haddon Spurgeon

quinta-feira, 18 de março de 2010

Gola clerical

O uso de vestes especiais por parte dos oficiais da igreja serve para representar o seu ministério entre o povo. Entre estas vestes especiais se destaca o colarinho clerical. Este é normalmente o colarinho de uma camisa ou colete com uma aba branca destacável frente. Originalmente era feito de algodão ou linho, mas normalmente é feito hoje de plástico. Às vezes (especialmente na prática católica romana) a aba é fixa com um colarinho que cobre quase completamente, deixando um quadrado branco pequeno à base da garganta. Em muitas igrejas e em muitos locais, por não saberem da origem e do significado, não se aceita o uso de colarinho clerical. Com a devida orientação os cristãos passarão a entender a conveniência e a oportunidade do seu uso.

Origem e uso
O colarinho clerical é uma invenção bastante moderna (é provável que tenha sido inventado em 1827). Aparentemente, foi inventado pelo Rev. Dr. Donald McLeod, pastor anglicano. Foi desenvolvido para ser usado no trabalho cotidiano do ministro (mais prático que a batina). Hoje é usado por pastores nas diversas denominações Cristãs como presbiteriana (é dito que o colarinho clerical se originou na Escócia), luterana, metodista, pentecostais e, também, por ministros Cristãos não denominacionais.
Os católicos romanos passaram a usá-lo a partir do Concilio Vaticano II, em substituição a batina, em situações especiais, essa adoção deve-se aos padres Jesuítas. É usado por todos os graus de clero: bispos, presbiteros (padres) e diaconos, e também por seminaristas. Na tradição Oriental, às vezes, os subdiacono e leitores também o usam.

Significado
O colarinho clerical simboliza que quem o usa é um servo, pois este colarinho estava ao redor do pescoço dos escravos no mundo antigo. As pessoas que o usam servem como Ministros de sua Palavra. Toda a igreja tem compromisso com o testemunho de Cristo no mundo, no entanto, o pastor compromete-se de modo específico com o Ministério da Palavra. Assim, o colarinho clerical simboliza esse compromisso pastoral com o anúncio do Evangelho. O colarinho branco sobre fundo preto envolvendo a garganta é simbólico da Palavra de Deus proclamada.

Relevância
O uso de símbolos é um sinal e um testemunho vivo de Deus no mundo secularizado. Pois uma das características do movimento de secularização o desprezo por sinais e símbolos religiosos. Para as pessoas o fato de ver um ministro com o colarinho clerical já é um testemunho de fé. Assim como vendo um militar lembramos-nos da Lei, e vendo um enfermeiro (a) com seu uniforme branco lembramos o hospital. Igualmente é válido para os pastores que freqüentam lugares públicos usar o colarinho clerical.

Conclusão
O Revmº. Robinson Cavalcanti, Bispo anglicano, testemunha: “Sempre viajo, e me dirijo a eventos públicos, vestido de colarinho clerical (clergyman), sem vergonha de ser cristão e de ser ministro do Evangelho. Se pouquíssimas vezes fui por isso hostilizado na Universidade, perdi a conta das centenas de oportunidades para testemunhar de Cristo, a partir desse aspecto visual”. Em nosso mundo dessacralizado, os símbolos não podem ser esquecidos. Não podemos nos conformar com o século. O colarinho clerical é um símbolo importante. Sacraliza visivelmente o mundo sinalizando a dedicação ao ministério.

Recebi este texto através de e-mail pelo Rev. Jaziel Cunha, Igreja Presbiteriana Conservadora.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Presbiterato e vestes talares

Um presbítero da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil me mandou, recentemente, um scrap no Orkut, perguntando o seguinte:

Quanto às vestes talares de pastores e leigos, lembro-me (se não me falha a memória) que você indicou um "link" onde mostrava modelos das vestes. Minha pergunta é justamente o que foi discutido na comunidade "Liturgia" a respeito das vestes e o uso pelos Presbíteros, já que a vestimenta está associada ao título de quem a veste, ou seja, Reitor, Reverendo, Juiz, etc. e se para o presbítero poderia haver uma toga que diferenciasse das demais. Desde já, agradeço.



Bom, vamos por partes. O costume cristão bi-milenar é de que todos quantos tenham uma participação na condução do culto estejam trajados de modo a identificá-los como servos consagrados para essas tarefas. É por isso que em igrejas católicas romanas, ortodoxas orientais, anglicanas e luteranas, tanto os ministros como também o coro e os auxiliares (acólitos, ou "coroinhas") sempre tenham uniformes que os identifiquem como tal.

Para mim, isso não é clericalismo, ou uma negação do sacerdócio universal de todos os santos; é apenas um uniforme que identifica quem vai fazer o quê. Isso nivela os participantes, que não serão mais vistos ou identificados por seu gosto (bom ou mau) para roupas, ou pior, pelo seu nível social, perceptível nas marcas que se usa. Eu fiquei extremamente desconfortável na minha adolescência, quando participava do conjunto musical dos jovens, quando alguém da igreja comentou que parecia que só podia subir à frente e participar do conjunto quem vestisse roupas de griffe. E, se parecia, era porque era isso mesmo que se via; tirando eu, que, adolescente desleixado, só vestia calça jeans e camiseta Hering, o resto do povo (especialmente as meninas) parecia pronto para ir desfilar no shopping (que acontecia com freqüência depois do culto). Mas o que importa é que ninguém está ali para se mostrar, ou para ostentar seus gostos e posses pessoais. Por isso, o uniforme ajuda.

Mas tornemos à pergunta do amigo presbítero. Tecidas essas considerações sobre os uniformes dos servos que lideram o culto, isso fica ainda mais patente quanto aos presbíteros. Na minha infância, era comum que todos os presbíteros vestissem terno e gravata para a Santa Ceia. Até os anos 80, era uma coisa uniforme. Mas dos anos 90 para frente, quando mudou a moda no corte dos ternos, ficava aquela coisa ridícula (clique nas palavras para ver do que estou falando): ternos xadrez, quadriculados, gravatas berrantes que eram curtas demais ou compridas demais, com aquelas lapelas que chegavam nos ombros... Enfim, os presbíteros viraram motivo de riso, porque, fora de moda como estavam, pareciam palhaços! E por conta disso, abandonou-se completamente o uso do terno por eles, em todas as igrejas que eu conheço! O efeito disso é fazer parecer que os sacramentos não são mais tão importantes assim, pois para participar da sua ministração, eles estão vindo vestidos casualmente. Um presbítero (atualmente, pastor) que eu conheço, muito gente boa e cuja filha eu já paquerei (hehe), chegou ao ponto de ir de camisa havaiana florida. "Anunciais a morte do Senhor até que ele venha" passou longe desse dia...

Na minha opinião, é interessante que haja um uniforme também para os presbíteros regentes, que reflita que os sacramentos e ritos sacramentais dos quais eles participam (Sagrado Batismo, Sagrada Eucaristia, Profissão de Fé, Ordenação e, em alguns casos, a Unção dos Enfermos) são, em primeiro lugar, atos importantes na vida cristã e, em segundo lugar, atos da Igreja de Cristo (que têm o poder de ligar na terra e no céu, e desligar na terra e no céu).

Mas qual uniforme?

A toga preta no corte de Genebra tem sido reservada, como o amigo consulente mencionou, para aqueles que desempenham o papel de presidência: Reitores, Juízes e Ministros do Evangelho. Em algumas igrejas (sobretudo anglicanas reformadas), os Mestres-de-Capela, embora não sejam sempre ordenados, também a usam. Mas não tenho notícia de presbíteros regentes usando-a.

Vamos, então, nos voltar para a Igreja Cristã bi-milenar.

Na igreja dos primeiros séculos, criou-se o costume dos recém-batizados trajarem-se usando um talar branco, de mangas justas e gola redonda. Essa era a roupa mais formal em uso no Império Romano; em geral, usava-se togas mais curtas, às vezes mesmo sem mangas, como já cansamos de ver nos filmes. Essa túnica talar era especialmente formal, para uso em ocasiões especiais. Por isso, seu uso pelos recém-batizados: eles acabavam de ser incorporados à Igreja de Cristo, e isso, naqueles tempos de perseguição, parecia ter um significado bem mais forte do que hoje infelizmente se vê.

Esse traje foi uma das coisas que a Igreja Católica Romana conservou, apesar das mudanças da moda que as invasões bárbaras ocasionaram (uso de calças e calçados fechados, por exemplo...). É, ainda hoje, vestido nas igrejas (católicas e protestantes, indistintamente) que conservam a tradição cristã ocidental. É a chamada alba, ou alva (foto abaixo).



Ela não é de uso exclusivo de ministros ordenados, mas pode ser usada por todos aqueles que foram batizados em nome da SS. Trindade. Ela é, ainda hoje, usada como a primeira camada de pano dos padres católico-romanos, anglo-católicos e luteranos de high-church, e fica por baixo da casula, como eu já disse no primeiro post do blog.

Então eu creio que a alba é uma boa pedida para ser a base do uniforme dos presbíteros regentes. Mas não só ela.

Como a alba é de uso comum por todos os batizados (e eu acho curioso notar que, de todos os não-conformistas, justamente os batistas conservem o seu uso original, como roupa batismal!), talvez seja interessante adicionar um elemento distintivo, que indique à primeira vista qual a função do servo que a está usando.

Aqui, eu sou a favor do uso da estola de presbítero. Explico-me.

Na tradição da igreja ocidental, geralmente se reconhecem dois ofícios ordenados (diácono e presbítero) e um ofício consagrado (bispo hierárquico). Cada um deles tem a alba como vestimenta-base, mas cada um tem, também, acessórios que permitem identificar prontamente quem é o quê.

O bispo, por exemplo, por cima da alba veste casula e copa (uma espécie de capa), usa um chapéu conhecido como mitra e carrega na mão um cajado chamado báculo. Abaixo, uma foto do Bispo Diocesano de Paisley, na Inglaterra, e seu filho, que é deão da mesma catedral (obviamente, na Igreja Anglicana).


O diácono, por cima da alba veste a sua estola, que tem um design próprio, pendendo de um dos ombros e presa à ponta do lado oposto. Usada deste jeito, ela representa o serviço, lembrando a toalha de que o Senhor Jesus se cingiu para lavar os pés dos Apóstolos (foto abaixo).


Já a estola do presbítero (até a Reforma Protestante, não existia a diferenciação entre presbítero docente e regente) pende livremente, pendurada pelo pescoço. Ela representa o jugo do Senhor Jesus, que é suave (relembrando que "jugo" é sinônimo de canga, a peça que prende o boi para puxar o carro ou o arado). Serve também para lembrar o seu usuário de que ele é servo, e não senhor. Por isso, também prefiro as estolas simples, de tecido liso e bordado discreto, aos festivais de fios de ouro e brocados que se viam na Idade Média.

Interesante notar que, mesmo na conservadoríssima Presbyterian Church of America, muitos ministros têm trocado a toga genebrina pela alba, mantendo a estola. Abaixo, foto de dois ministros da PCA (no púlpito, o Rev. Jeff Meyers, de cujo site tenho tirado muita, mas muita coisa boa, confiram!).


Pois a minha proposta, para os presbíteros que estão a fim de adotar um uniforme, tanto para destacar a natureza eclesiástica da sua função (não é um casamento de cartório, não é uma audiência no fórum, para se usar terno e gravata) como para ressaltar a sua importância (porque não se vai de calça jeans e camiseta pólo para nada importante), é justamente essa: a alba com estola. Não está invadindo a prerrogativa exclusiva de ninguém (como seria se eles resolvessem vestir a toga de Genebra) e ainda respeita 2000 anos de tradição cristã!

Fonte: http://liturgiareformada.blogspot.com/2008/07/presbiterato-e-vestes-talares.html

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A subutilização do Evangelho gera o arminianismo e o pentecostalismo (Parte II)

Infelizmente as velhas e novas heresias são atraentes pelo seu poder em priorizar as questões de “poderes, cura e mercado”. A formação lobo-pastoral prioriza a “inovação” como um ingrediente vital para o sucesso de uma igreja, como se fosse um negócio. Se o povo está sedento por “milagres econômicos” ou curas, os lobos identificam a oportunidade e realizam uma estratégia de marketing religioso. Se uma igreja consegue lotar galpões de “fiéis”, outros lobos analisam o “produto” da concorrência e propõe novos “produtos” para captar mais fiéis. E assim vira uma bola de neve, sem trocadilho. Tal mentalidade eclesiástica é fundamental para lidar com a concorrência religiosa. Sob este viés a igreja é pensada como uma estratégia empresarial. Agem como cães que não temem o que está escrito em Gálatas 6.7: Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.

Seguindo o planejamento estratégico diabólico de crescimento de “igreja-negócio” a oportunidade atual identificada para explorar os fiéis é o neopentecostalismo , o pentecostalismo e o arminianismo, alguns são mais fervorosos que outros, mas todos, em certa medida, não fazem bom uso da prudência cristã bíblico-doutrinária e detêm a verdade. -- Ó homens, até quando tornareis a minha glória em vexame, e amareis a vaidade, e buscareis a mentira? (Salmos 4:2).

A teologia contemporânea acabou com as confissões de fé, com os cânones, com a boa exegese, com a interpretação histórico-gramatical, com o Princípio Regulador de Culto, os valores tradicionais bíblicos, a teologia clássica e perene. O que vale é a “teologia de liquefação”, instantânea fusão, efêmera, mutante, customizada ao sabor dos infiéis. As igrejas querem ser agradáveis a todo custo, tornam-se personalizadas, cada um crê de um jeito diferente e ao seu modo e gosto. Tudo é válido e espirituoso. É muito provável que, Deus, segundo os exemplos da história da Igreja, manifeste uma reação à altura dessa inquietação efêmera revertendo todo esse cenário para a Sua glória. Oremos por um avivamento genuíno! -- Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento? (Provérbios 1:22).

Deus certamente acabará com os excessos e o “algo mais” dessa geração incrédula. Sua poderosa mão abolirá os ruídos e interferência de Sua majestosa Palavra. Deus pode e varrerá essa instabilidade, porque a boca do SENHOR o disse. Saberemos quando entrarmos num verdadeiro avivamento quando o SENHOR varrer o arminianismo, pentecostalismo e neo-pentecostalismo da face da terra, pois, [Deus] destróis os que proferem mentira (Salmos 5:6).

O certo é que a igreja Atual passa por um momento sem precedentes na sua história devido a pluralidade e o caos das teologias. Mas graças ao Eterno que essa “sujeira evangélica” não encobriu a visão de toda igreja, -- Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal (Romanos 11:4), -- há pregadores, teólogos, escritores e irmãos multiplicadores que não se deixaram contaminar ao ponto de perder o foco da mensagem que impacta e muda a vida dos eleitos. Os propagadores da boa teologia e do bom caminho, antes de tudo, são formadores de conceitos e opiniões.

Faz parte da competência da boa teologia, reconhecer e combater os modismos, as tendências antibíblicas, comparar os pontos de vista histórico, cultural e social das gerações. As velhas heresias vão ganhando novas roupagens, e a atual geração de evangélicos vêm reproduzindo formas de misticismos e arminianismo, que sem dúvida prevalecem. Hoje em dia, raramente se busca produzir pregações e estudos bem estruturados exegeticamente, ricos em doutrinas fundamentais da fé cristã, “tal coisa é trivial”, pensa a massa evangélica. O que eles não sabem é que estão apenas reproduzindo heresias já condenadas por cânones bíblicos. A teologia pós-moderna não passa de rebelião, negando a Suficiência das Escrituras. Nesse momento, a teologia sólida e perene passa a ser ignorada como algo estranho e transforma-se em interpretações aleatórias e independentes, porém ao mesmo tempo dependente do repertório e do gosto da massa evangélica confiante. Tais não ouvem Jeremias 7.4 que diz: Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este.

A Igreja não precisa de uma teologia baseada na desordem, na irracionalidade e falta de coerência, ele não precisa de pastores psicólogos que pregam de forma intuitiva e comunicam somente amenidades aos ouvintes. Deus requer de seus profetas que quebrem muitos paradigmas CONTRA O MUNDO e não que inovem em sua Palavra. Não precisamos de um novo Evangelho. O respeito, a reverência e o temor ao estudar e propagar o Evangelho é a marca característica dos genuínos pregadores.



Frases para meditar:

“Tão grande é a depravação do homem não-regenerado que, embora não
haja nada que ele necessite mais do que o evangelho,
não há nada que ele deseje menos”.
R. B. Kuiper



“Se você crê somente no que gosta do evangelho e rejeita o que não gosta,
não é no evangelho que você crê, mas, sim, em si mesmo”.
Agostinho

A subutilização do Evangelho gera o arminianismo e o pentecostalismo (Parte I)

Assim diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos.
(Jeremias 6:16)

Não esperamos nenhum novo mundo em nossa astronomia nem nenhuma nova Bíblia em nossa teologia.
Augustus H. Strong


O cenário evangélico atual é algo bem distinto da herança da Reforma Protestante. Hoje se fala muito em “poder, cura, batalha espiritual e vitória financeira”, mas na verdade é ínfimo o potencial que se está utilizando das Escrituras nas igrejas contemporâneas, em sua maioria. Quase toda pregação no presente é subjetiva, superficial e ilusória, mas não por isso impopular. Pelo contrário, de tão pop influencia as igrejas antes tradicionais -- presbiterianas, congregacionais e batistas. -- O arminianismo e o pentecostalismo com seus tentáculos midiáticos e seu forte sectarismo abraçam praticamente todos os pontos de pregação. O que muitos não atentam é que nem sempre foi assim e que é preciso retornar às antigas veredas em busca de obediência e temor.

Não precisa ir muito longe para captar bons exemplos de igrejas. Décadas atrás a sistematização doutrinária pregada nos púlpitos era mais harmoniosa doutrinariamente, simples e prática. Porém a condição pós-moderna impôs uma convivência com a pluralidade, a fragmentação, a heterogeneidade e contradições sem igual. De tempos em tempos nasce um novo modismo, transitório como fogo de palha. Muitos pregadores que seguiram ou seguem este “fogo estranho” exalam sua fumaça presentemente, e os “adoradores” em “carne e em mentira” amam aspirá-la.

A variedade de estilos das manifestações doutrinárias mina a harmonia doutrinária ortodoxa e confessional do protestantismo histórico. A bandeira evangélica contemporânea para um observador externo é complexa, cheia de contradições, incertezas e simulações inquietantes. Os evangélicos ironizam e rejeitam suas próprias raízes. As premissas sólidas são simplesmente jogadas no lixo como algo não prioritário. O espírito antidogmático reina e todos adormecem na sonolência da irracionalidade. Doutrinas apostólicas perenes e universais são consideradas heresias pelos seguidores de “novos apóstolos” e suas seitas. Há quase 500 anos Lutero já dizia: “Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”, hoje se diz o inverso e com “autoridade”.

Nunca foi tão válida a expressão “os fins justificam os meios”, a igreja pós-moderna focaliza-se nos modos e meios de representações que provêm das experiências subjetivas dos evangélicos e fazem disso sua formação “doutrinária”. A teologia de hoje não tem uma estrutura sólida e bem construída, ela é muito mais uma “demolidora irresponsável” e desconstrucionista. A identidade evangélica é fluida, plural, paródia e fragmentação dos antigos cristãos, apoiada em fundamento de areia das novas roupagens das velhas heresias. O protestantismo histórico deve retomar seu protesto contra tais coisas pensando na Igreja da próxima geração, como frisou Francis Schaeffer: “Se não tornarmos clara nossa posição, com palavras e obras, em favor da verdade e contra as falsas doutrinas, estaremos edificando um muro entre a próxima geração e o evangelho”.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal


Por Rev. Brian Schwertley


Traduzido por Rogério Portella


O Princípio Regulador do Culto possui implicações claras para quem deseja promover a celebração do Natal. Ele obriga quem deseja comemorar essa data a provar, a partir das Escrituras, que Deus a autorizou. Isso, na verdade, é impossível. Além do mais, a celebração do Natal viola outros princípios bíblicos.


O Natal é um monumento à idolatria passada e presente


O dia em que o Natal é celebrado (25 de dezembro) e quase todos os costumes associados a ele têm origem na adoração pagã de ídolos. “Muitos habitantes da Terra eram adoradores do Sol porque o curso de sua vida dependia da rotação desse astro nos céus, e festas eram celebradas para auxiliá-lo no retorno de viagens distantes. No sul da Europa, no Egito e na Pérsia, as divindades representantes do Sol eram adoradas com cerimônias elaboradas no solstício de inverno —como o tempo adequado para render tributo ao deus benigno da fartura—, enquanto em Roma as saturnais duravam uma semana. Nas terras do norte, o tempo exato era por volta do dia 15 do mês de dezembro, pois os dias se tornavam mais curtos e o Sol estava fraco e distante. Dessa forma, esses povos antigos festejavam no mesmo período em que o Natal é observado hoje.”a Durante o solstício de inverno os babilônios adoravam Tamuz,b os gregos e romanos adoravam Júpiter, Mitra, Saturno, Hércules, Baco e Adônis; os egípcios adoravam Osíris e Hórus; os escandinavos adoravam Odim (ou Vodã). “Entre as tribos germânicas e celtas o solstício de inverno era considerado um importante ponto do ano, e eles celebravam o festival de Yul —o mais importante— para comemorar o retorno da ‘roda flamejante’. O azevinho, o visco, a fogueira de Yule e os filós são relíquias de eras pré-cristãs.”


O Natal nunca foi celebrado pela igreja apostólica. Tampouco foi festejado durante os primeiros três séculos da Igreja. Por volta de 245 d.C., Orígenes (na Oitava Homilia sobre Levítico) repudiou a idéia da celebração do nascimento de Cristo “como se ele fosse um faraó”.d Em meados do século IV, várias igrejas ocidentais de língua latina passaram a celebrar o Natal. Durante o século V, essa festividade se tornou um dia santo da Igreja Católica Romana incipiente. No ano 534, o Natal foi reconhecido feriado oficial pelo Estado romano.


A razão para o Natal ter se tornado um dia santo não diz respeito à Bíblia. A Escritura não explicita a data do nascimento de Cristo. Em nenhum lugar da Bíblia somos incentivados a celebrar o nascimento de Jesus. O Natal (bem como outras práticas pagãs) foi adotado pela Igreja de Roma como estratégia missionária.


A fusão com o paganismo como estratégia missionária foi claramente revelada pelas instruções do papa Gregório Magno aos missionários no ano 601: “Pelo fato de eles [ospagãos] sacrificarem bois a demônios, alguma celebração deve lhes ser dada em troca dessa [...] eles devem celebrar uma festa religiosa e adorar a Deus mediante sua celebração, de forma a manterem os prazeres externos e poderem, rapidamente, receber alegrias espirituais”.


Esse sincretismo explica a razão dos costumes do Natal serem completamente pagãos. A árvore de Natal era usada porque árvores sagradas tinham um papel importante na adoração pagã durante o solstício de inverno. Na Babilônia, a sempre-verde representava Ninrode voltando à vida como Tamuz, supostamente nascido de uma virgem, Semíramis. Em Roma, decoravam-se pinheiros com frutinhas vermelhas para celebrar as saturnais.f Os escandinavos colocavam pinheiros em suas casas em honra ao deus Odim. “Quando os pagãos do norte da Europa se tornaram cristãos, transformaram suas sempre-verdes sagradas em parte da festividade cristã, e decoravam árvores com nozes douradas, velas (remanescente da adoração ao Sol) e maçãs para representar as estrelas, a Lua e o Sol.”

O acendimento de fogueiras especiais e de velas em 24 e 25 de dezembro origina-se no culto ao Sol. O uso de fogueiras tem sua origem provável no culto prestado a ele pelos druidas. Não se permitia que a madeira fosse totalmente queimada, parte dela seria usada para iniciar o fogo do ano seguinte (possivelmente, símbolo do renascimento do astro). “Os romanos ornamentavam seus templos e suas casas com galhos verdes e flores para as saturnais, a estação do contentamento e da troca de presentes; os druidas juntavam visco com uma grande cerimônia e o penduravam em suas casas; os saxões faziam uso do azevinho, da hera e de louros.”
O fato de o Natal estar repleto de práticas pagãs é universalmente reconhecido: “Contudo, muitos cristãos alegam que essas práticas não mais possuem conotações pagãs, e crêem que a celebração do Natal oferece uma oportunidade para culto e testemunho”. Os cristãos dizem não adorar a árvore de Natal, e que as origens pagãs jazem no passado remoto e tornaram-se inofensivas. Entretanto, esse conceito, apesar de comum em nossos dias, demonstra a total desconsideração do ensino bíblico concernente aos ídolos, à parafernália associada à idolatria, e aos monumentos idolátricos.


Deus odeia tanto a idolatria que Israel não foi ordenado apenas a evitar o culto aos ídolos. Ordenou-se especificamente que Israel destruísse todas as coisas associadas com a idolatria.

Totalmente destruireis todos os lugares, onde as nações que possuireis serviram os seus deuses, sobre as altas montanhas, e sobre os outeiros, e debaixo de toda árvore frondosa; e derrubareis os seus altares, e quebrareis as suas estátuas, e os seus bosques queimareis a fogo, e destruireis as imagens esculpidas dos seus deuses, e apagareis o seu nome daquele lugar. [...] e que não perguntes acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram essas nações os seus deuses, do mesmo modo também farei eu. Assim não farás ao SENHOR teu Deus… (Dt 12.2-4,30,31).


Quando Jacó saiu para purificar o campo (i.e., sua casa e seus serviçais) os brincos foram retirados bem como seus deuses estrangeiros (Gn 35.4), porque os brincos deles estavam associados com seus falsos deuses. Eles eram sinais de superstição. Quando Elias foi oferecer seu sacrifício, em uma disputa com os profetas de Baal, ele não usou o altar pagão, algo criado para os ídolos (p.ex., as saturnais), e tentou santificá-lo para o serviço de Deus (p.ex., Natal); em vez disso, ele reconstruiu o altar do Senhor. Os cristãos não deveriam tomar emprestado o festival pagão de Yule ou as saturnais e vesti-los com roupagem cristã; deveriam, em vez disso, santificar o dia do Senhor como fizeram os apóstolos. Quando Jeú se levantou contra os adoradores de Baal e seu templo, ele porventura poupou o templo e o separou para Deus? Não! Ele matou os adoradores de Baal: “Também quebraram a estátua de Baal; e derrubaram a casa de Baal, e fizeram dela latrinas, até ao dia de hoje” (2Rs 10.27).


Além disso, temos o exemplo do bom Josias (2Rs 23), porque ele não apenas destruiu as casas e os altos de Baal, mas também seus utensílios, bosque e altares; sim, os cavalos e os carros dados ao sol. Também o exemplo do penitente Manassés, que não apenas destruiu os deuses estrangeiros, mas também seus altares (2Cr 23.15). E de Moisés, o homem de Deus, que não se contentou apenas em executar vingança contra os israelitas idólatras, a menos que ele pudesse também destruir totalmente o monumento de sua idolatria.
Deus não deseja que sua Igreja use festividades e cerimônias pagãs e papistas, além de sua parafernália, e as separe para o uso cristão. Ele nos ordena de forma direta a extinguilas totalmente da face da terra, para sempre. Talvez você não se ofenda com a fogueira, a árvore de Natal, o visco, as frutinhas vermelhas e a escolha de uma data pagã para celebrar o nascimento de Cristo, mas Deus se ofende. Ele ordena que evitemos qualquer contato com os monumentos e com a parafernália do paganismo.


Caso sua mulher tivesse levado uma vida promíscua antes de você se casar com ela, você se ofenderia se ela mantivesse fotos de seus ex-namorados em sua penteadeira? Você se incomodaria se ela celebrasse os diversos aniversários relativos aos relacionamentos do passado? Você se ofenderia se ela guardasse e demonstrasse apreço por anéis, jóias e presentinhos dados a ela por seus antigos namorados? Logicamente você se ofenderia! O Senhor Deus é infinitamente mais zeloso de sua honra que você: ele é o Deus zeloso. Israel poderia usar os dias festivos de Baal, Astarote, Dagom e Moloque para agradar a Deus? De forma nenhuma! A Bíblia deixa muito claro quais reis de Judá agradaram mais a Deus. Ele é servido quando ídolos, seus templos, suas vestes religiosas, brincos, casas consagradas, árvores sagradas, postes, ornamentos, ritos, nomes e dias são eliminados da face da terra, para nunca mais serem restaurados. Deus deseja que sua noiva elimine para sempre os monumentos, dias, a parafernália e as recordações da idolatria: “Não aprendais o caminho dos gentios, nem vos espanteis dos sinais dos céus; porque com eles se atemorizam as nações. Porque os costumes dos povos são vaidade” (Jr 10.2,3). “Assim não farás ao SENHOR teu Deus; porque tudo o que é abominável ao SENHOR, e que o aborrece, fizeram eles a seus deuses” (Dt 12.31).


Os cristãos não devem se desvencilhar apenas dos monumentos idolátricos do passado, mas também de todas as coisas associadas à idolatria presente. O Natal é o dia santo mais importante do catolicismo romano. O nome Natal* provém do romanismo: Christmass — a “missa de Cristo”. O nome christmas [Natal] une o título de nosso glorioso Deus e Salvador com a idolátrica e blasfema missa do papado. Dessa forma, o Natal [christmas] é uma mistura de idolatria pagã e invenções papistas.


A Igreja Católica Romana odeia o Evangelho de Jesus Cristo. Ela se vale de artifícios humanos, como o Natal, para manter milhões de pessoas em trevas. O fato de muitos milhares de protestantes que dizem crer na Bíblia observarem o dia santo católico romano —sem qualquer mandamento explícito da Palavra de Deus— revela o triste estado do evangelicalismo moderno. “Não podemos nos conformar, comungar e nos identificar com os papistas idólatras, ao usar os mesmos [símbolos], sem nos tornarmos a nós mesmos idólatras mediante nossa participação.” Nossa atitude deve ser a do reformador protestante Martin Bucer, que disse:


Desejo do fundo do meu coração que todos os dias santos, com exceção do dia do Senhor, sejam abolidos. O zelo com o qual foram inventados, sem qualquer garantia da Palavra, e seguidos pela razão corrompida, certamente para eliminar os dias santos dos pagãos… Esses dias santos foram tão conspurcados pelas superstições que me espanto pelo fato de não estremecermos por ouvir-lhes o nome.


A objeção comum contrária ao argumento da abolição desses monumentos pagãos é que esses fatos ocorreram há tanto tempo que se tornaram inofensíveis para nós. Todavia, essa alegação é totalmente falsa. Não existe apenas a idolatria do catolicismo romano, há também o ressurgimento das antigas religiões pagãs tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. O movimento feminista radical revive no presente as deusas da fertilidade e do Oriente Próximo. A Lei-Palavra de Deus nos diz para tomarmos cuidado com os monumentos idolátricos. A lei de Deus não perde sua força com o passar do tempo.


O Natal desonra o dia de Cristo


O dia que Deus separou para sua Igreja celebrar em comunidade a pessoa e obra de Cristo é o “dia” denominado “do Senhor”, o primeiro dia da semana, o sábado cristão. O primeiro dia da semana é o dia em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos. É o dia da vitória de Cristo sobre o pecado, Satanás e a morte. A humilhação de Jesus e sua morte sacrificial foram completadas. Ele ressuscitou e será exaltado nos céus para sempre como Senhor do céu e da terra. “… Ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo” (2Co 5.16). “O dia do Senhor nos foi dado em memória de toda a obra da redenção”. A idéia de honrar a vida de alguém de modo gradual (este acontecimento, aquele acontecimento) não procede da Bíblia, mas da adoração pagã ao imperador. De fato, as únicas celebrações de aniversário registradas em toda a Bíblia são as do faraó (Gn 40.20) e do rei Herodes (Mt 14.6; Mc 6.21). As duas festas de aniversário terminaram com assassinatos: a de Herodes com morte de João Batista.


Deus foi muito generoso para com seu povo, concedendo-lhe 52 dias santos por ano. Quando os homens adicionam outros dias (p.ex., Natal, Páscoa etc.), eles tiram algo, maculam ou até deixam de lado o dia do Senhor. As pessoas preferem e dão mais atenção ao Natal que ao dia do Senhor. Muitos cristãos passam quase todo o mês de dezembro se preparando para o Natal, decorando suas casas, escritórios e igrejas, comprando presentes, assando tortas e bolos, ensaiando e memorizando cantigas, peças teatrais, recitais de música etc. Muitas pessoas que raramente entram em uma igreja vão ao culto de Natal. As pessoas normalmente nem piscam por violar o dia do descanso, fornicar, adulterar e se embriagar; mas consideram fanáticos alucinados os cristãos que não celebram o Natal.


O que Jesus deseja de nós não é a observância de algo que ele não mandou, mas sim do que ele ordenou: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.19,20). Isto é o que os apóstolos fizeram. Eles ensinaram todo o conselho de Deus (At 20.27), o que não incluía o Natal, a sexta-feira santa ou a Páscoa, porque essas não eram parte das coisas ordenadas por Cristo. Portanto, aquele que entende “o verdadeiro significado do Natal” (ou da sexta-feira santa ou da Páscoa) é precisamente quem percebe que essas datas são invenções humanas. E para honrar a Cristo como único Rei e cabeça da Igreja, essa pessoa não observará essas adições feitas por seres humanos ao que nosso Senhor ordenou. Tal pessoa deverá evitar esse costume bastante popular. O mais importante é que ela estará ao lado de Cristo e dos apóstolos.
O único dia autorizado por Deus como dia santo é o dia do Senhor. Se a Igreja deseja agradar a Jesus Cristo e honrá-lo, deverá fazê-lo guardando seu dia e sendo exemplo para o mundo não-cristão. Quando os cristãos tornam o Natal mais especial que o dia do Senhor, desobedecem aos ensinos de Cristo e desonram seu dia.
O Natal é uma mentira


O cristianismo é a religião da verdade. Deus não pode mentir. Toda a verdade e todo o conhecimento procedem de Deus. Jesus Cristo é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). O Espírito Santo é chamado “o Espírito da verdade” (Jo 16.13). O Evangelho é chamado “a palavra da verdade” (Ef 1.13). Deus ordena: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.16). Paulo nos diz para “segui[r] a verdade em amor” (Ef 4.15), deixar a mentira e falar a verdade com o próximo para não entristecermos o Espírito Santo (Ef 4.25,30). Jesus Cristo nos diz que “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24). Os cristãos devem ser sal e luz do mundo (Mt 5.13,16); devem testemunhar ao mundo falando e vivendo a verdade. A celebração do Natal é compatível com nossa responsabilidade de falar e viver a verdade perante o mundo? Não, porque o Natal é uma mentira.


A data usada para celebrar o nascimento do Cristo, 25 de dezembro, é uma mentira. Segundo a Bíblia, Jesus não nasceu nesse dia: “Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho” (Lc 2.8). É de conhecimento público que os pastores na Palestina voltavam dos campos antes do inverno. A estação chuvosa na Judéia começa no fim de outubro ou no início de novembro. Os pastores já teriam voltado com seus rebanhos para as aldeias antes do início da estação de chuvas. Portanto, Jesus nasceu antes da primeira semana de novembro.


É evidente que Cristo não nasceu no meio da estação do inverno. Mas, as Escrituras nos dizem em que estação do ano ele nasceu? Sim, as Escrituras indicam que ele nasceu no outono. O ministério público de nosso Senhor durou três anos e meio (Dn 9.27). Seu ministério teve fim no tempo da Páscoa (Jo 18.39), que ocorre durante a primavera. Portanto, três anos e meio antes marcariam o início do ministério no outono daquele ano. Quando Jesus começou seu ministério, ele contava 30 anos de idade (Lv 3.23). Esta era a idade para o sacerdote começar a exercer seu ministério sob o Antigo Testamento (Nm 4.3).


Se os cristãos estão desejosos de celebrar uma mentira e lotar o falso dia do aniversário de Cristo com mitologia papista e pagã (p.ex., papai-noel, árvore de Natal, visco, fogueira, sempre-verde etc.), por que, então, o mundo deveria acreditar na Igreja quando ela realmente diz a verdade? Se você mente a respeito do nascimento de Cristo e faz vistas grossa em relação à mitologia pagã, quando você disser a seu vizinho sobre a ressurreição de Jesus, por que ele deveria acreditar em você? Ao celebrar o Natal, você põe uma pedra de tropeço diante de seu vizinho incrédulo. Ele poderia raciocinar com toda a razão: visto que você fala e vive uma mentira acerca do nascimento de Cristo, você não é confiável para falar sobre a ressurreição dele. Alguns intelectuais já me disseram, depois de ter argumentado com eles a respeito da morte e ressurreição de Cristo, que essas doutrinas eram mitos propagados por pessoas simples da mesma forma que o papai-noel e o coelhinho da Páscoa (é claro que a mentira sobre o Natal dura há tanto tempo que a maior parte das pessoas a aceita como verdade). A Igreja deve parar de macular a Palavra de Deus inspirada e infalível ao posicionar fantasias humanas ao lado da revelação divina. O Natal contradiz a narrativa bíblica do nascimento de Jesus.


O mundo ama o Natal


“… Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4).
“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há” (1Jo 2.15).


Quem é o verdadeiro guia? Não deve a Igreja do Senhor Jesus Cristo servir de exemplo para o mundo? Não é ela o sal e a luz das nações? É correto que ela siga o modelo pagão? O Natal não se origina na Bíblia nem na igreja apostólica; é totalmente pagão. O dia, a árvore, a troca de presentes, o visco, as frutas vermelhas sagradas — tudo isso tem origem nas festividades pagãs idolátricas do solstício de inverno. A Igreja de Roma comprometida e apostatada tomou as práticas pagãs e tentou cristianizá-las. Todos os transgressores da lei, as pessoas que odeiam a Cristo, os adoradores de ídolos e incrédulos pagãos amam o Natal. Por quê? Porque o Natal não é bíblico, não procede de Deus, é uma mentira. Satanás, seu mestre, é o pai da mentira. Ateus, homossexuais, feministas, políticos ímpios, assassinos, molestadores de crianças e idólatras —todos— amam o Natal. Se essa fosse uma data bíblica, e sua observância uma ordenança, o mundo o amaria? Com toda certeza: não! O mundo odiaria o Natal. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura” (1Co 2.14). Por acaso o mundo ama o dia do Senhor, o sábado cristão? Claro que não. O mundo o odeia. O mundo ama e obedece ao Rei dos reis e Senhor dos senhores ressurreto? Não! O mundo odeia Jesus. O mundo é capaz de amar um bebezinho de plástico ou de barro em uma manjedoura. Um bebezinho de plástico não é muito ameaçador. Entretanto, Jesus não é mais um bebezinho. Ele é o rei glorificado que se assenta à destra do Pai. “… Ainda que também tenhamos onhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo” (2Co 5.16).


A Bíblia ensina que “a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (1Co 3.19). “Assim diz o SENHOR: Não aprendais o caminho dos gentios… Porque os costumes dos povos são vaidade” (Jr 10.2,3). O apóstolo Paulo tinha em mente uma aplicação bem mais ampla que apenas ao casamento quando disse, “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? [...] Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei” (2Co 6.14-17). Quando a Igreja possui algo em comum relacionado à adoração e à religião com o mundo pagão incrédulo, ela, nessa área, jaz sob o mesmo jugo que os incrédulos. A Igreja não deve celebrar um feriado pagão com o mundo pagão. Quanta hipocrisia e impiedade!


Não seja enganado


Paulo nos adverte que “Satanás se transfigura em anjo de luz” (2Co 11.14). Essa é a razão pela qual os festivais pagãos em todo o mundo são dias de diversão, dias de comidas especiais, festas, desfiles, reuniões familiares e de troca de presentes. O objetivo de Satanás não é simplesmente escravizar indivíduos, mas também controlar instituições, culturas e nações. O calendário pagão de “dias santos”, nos quais os festivais pagãos são celebrados no tempo exato a cada ano, é um recurso inspirado por Satanás para envolver culturas inteiras na rebelião contra a aliança divina. Ele deseja que pessoas e países sejam escravizados por rituais pagãos e pelas trevas. Uma cultura está saturada de satanismo quando festivais, ritos e cerimônias pagãs se tornam tão naturais que não são mais questionados em determinada sociedade.


Como puderam os cristãos ser enganados a ponto de celebrar um dia festivo pagão? O dia foi transformado de um período de trevas em um dia de luz. Como isso aconteceu? É muito simples: a primeira coisa a ser feita é mentir. Ensine que esse dia é o aniversário de Cristo. O fato de Jesus não ter nascido nesse dia não importa. Pouquíssimas pessoas averiguarão os fatos. E quem o fizer será considerado fanático, pessoas indesejadas como Scrooges* modernos. A seguir, transforme a data em um dia de reunião familiar, com presença obrigatória de todos. Que coisa maravilhosa: um dia para a família toda jantar junta e apreciar seus valores. Faça-o também um dia de presentes e de caridade, um dia de se preocupar com o próximo e de partilhar. Quem se oporia a isso? A seguir, dedique-o a todas as crianças do mundo, um dia repleto de lembranças agradáveis. É um dia de sentimentalismo intenso. Não corre uma pequena lágrima de seu olho quando você pensa em pais e irmãos reunidos perto da árvore? Certifique-se de que todas as cidades (independentemente do tamanho) estejam decoradas a caráter. Mantenha a indústria do entretenimento a todo o vapor com artigos especiais, filmes, espetáculos e recitais. Exerça pressão em sua comunidade, local de trabalho, igreja e família sobre quem não celebra o dia para que seja considerado perversor da verdade ou desconectado da realidade.


Essa estratégia tem sido efetiva? Sim, e muito. Houve um tempo quando presbiterianos e congregacionais disciplinavam irmãos pela celebração do Natal. Para os protestantes da ala calvinista da Reforma, a celebração desse dia foi impensável durante quase 300 anos. Agora se você for presbiteriano e não celebrar o Natal, irmãos da mesma denominação pensarão que você é fanático. Os protestantes têm sido enganados, iludidos, ludibriados e tapeados por terem esquecido o Princípio Regulador do Culto a Deus: “Toda a Palavra de Deus é pura: escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Pv 30.5,6). Haveria apenas uma razão aceitável para o cristão celebrar o Natal, e ela seria uma ordem direta da Palavra de Deus para assim proceder. Visto que não há uma instrução implícita ou explícita para agir dessa forma, sua celebração é proibida.


Fonte: http://www.iphr.org.br/2008/09/o-natal/

Natal - Nascimento do centro comercial

Uma coisa que é engraçado, mas que nunca entendi bem é como é que no Brasil se caracteriza o Pai Natal como roupas quentes, longas barbas, com frio, renas neve etc, e depois se anda com 30 graus na rua, de t-shirt hehe; deve ser confuso.

Aqui em Lisboa na época do natal não Neva, mas faz muito frio, mas com sorte talvez tenhamos alguma. É que natal com neve é mais bonito.

Outra característica, esta bem menos agradável, é o facto de à semelhança com todo o mundo ocidental, o natal está a passar de festa religiosa Cristã, para uma festa pagã, do consumo. Celebra-se não o nascimento de Jesus, mas o centro comercial, é vergonhoso. Isto é uma pequena parte, vontade das pessoas, que preferem o apelo ao consumo que a festa Cristã, mas é na sua esmagadora maior parte, culpa dos comerciantes, que não tem qualquer problema em transformar as tradições das pessoas no que lhes dá jeito. Fazendo uso de uma publicidade nojenta, agressiva e em dose industrial alteram tudo. Quem é que na televisão fala de Jesus? Fala-se é de prendas, cultiva-se a imagem do pai natal em detrimento de Jesus (claro, é o pai natal que dá lucro), ou seja, tudo em nome do lucro. Até a páscoa, que tem resistido melhor à ganância dos comerciantes, está a sucumbir. Estamos a passar da ressurreição de Cristo, para a festa das amêndoas, coelhos de pelúcia (claro, interessa aos comerciantes isso, pois a ressurreição de Jesus não dá lucro). Enfim, é com tristeza que assisto a isto impotente. A ganância dos comerciantes que não respeitam nada e alteram tudo. Não se coíbem de alterar os valores da nossa sociedade em busca de lucro e mais lucro.

Deveríamos fazer uma coisa. Fazer um presépio gigante e deitar na manjedoura, um centro comercial e uma nota de 500 euros; é isso que celebramos e não Jesus.

Boas Festas!

Autor: Luan Marçal

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O que Seria Necessário para Provar Eleição e Reprovação?



Rev. Angus Stewart

Algumas pessoas perguntam se a Bíblia ensina a predestinação absoluta: a eleição incondicional de Deus de alguns pecadores para a salvação eterna em Jesus Cristo e Sua reprovação incondicional dos outros pecadores para destruição eterna no caminho de seus pecados.

O que seria necessário para provar isto? E se Deus em Sua Palavra nos contasse de meninos gémeos no ventre de sua mãe, e dissesse que eles eram antes mesmo de nascerem - e, portanto, antes que eles pudessem crer ou não crer, ou fazer boas obras ou más obras – que um era o objecto do amor de Deus e eleição, enquanto o outro era odiado?

E se um apóstolo, antecipando objecções a isto, negasse enfaticamente que Deus é injusto ao fazê-lo, e citou Antigo Testamento para provar a soberania absoluta da misericórdia e compaixão de Deus, e afirmasse que a salvação não é do livre arbítrio do homem ou dos esforços do homem mas unicamente da misericórdia divina?

E se o Espírito Santo, sabendo muito bem as objecções do homem caído a este ensino, passasse a dar um conhecido exemplo do Antigo Testamento de um homem a quem Deus endureceu e destruiu a fim de mostrar a força do seu nome glorioso? E se Ele, então, afirmasse a soberania absoluta do endurecimento divino e, repreendendo aqueles que acham falhas nos caminhos de Deus, ensinasse que Deus é o grande oleiro que pode fazer o que Ele quer com os vasos Ele faz, destruindo alguns e trazendo outros à glória?

Este é exactamente o que nós temos em Romanos 9:10-24. Se alguém quer saber se a Bíblia ensina a eleição incondicional e reprovação incondicional, deveriam olhar e ler esta passagem.


http://soberanagraca.blogspot.com

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Gangrena Preterista - Parte I (Martyn McGeown)


Conteúdo:
I. Introdução
II. Diagnóstico: Gangrena!
III. Prognóstico
IV. Cura
V. Conclusão

I. Introdução
O Apóstolo Paulo alerta em II Timóteo 2:17-18 acerca de dois falsos mestres na igreja em Éfeso. Estes dois heréticos, Himeneu e Fileto, eram preteristas. Eles ensinavam que o grande evento escatológico da ressurreição dos mortos já tinha acontecido. Ao fazer isto eles perverteram a fé de alguns na igreja (v. 18). Paulo avisa Timóteo que a heresia, e esta heresia preterista em particular, iria roer “como um canker” (v. 17). A palavra "canker" significa gangrena. O aviso é claro. A heresia alastra-se. Alastra-se como uma gangrena, a morte de tecidos mortos resultando em carne negra, putrefacta e mal-cheirosa. A gangrena sem tratamento espalha-se ao longo do membro afectado e leva à morte do corpo. Normalmente o único remédio é o amputar da área morta.

O preterismo é a heresia que sustenta que grande parte ou todos os eventos escatológicos profetizados na Escritura foram já realizados no passado. Pós-milenistas, que vislumbram uma "Era Dourada" para a Igreja na qual o mundo é Cristianizado, relegam as profecias do Novo Testamento a respeito da Grande Tribulação e perseguição da Igreja, a ameaçadora e generalizada apostasia da verdade, e o aparecimento do Anticristo ao passado. Estes eventos foram cumpridos, dizem os pós-milenistas, em 70 dc, quando Jerusalém e o Templo foram destruídos pelos romanos. Alguns são preteristas moderados, parciais e inconsistentes. Completos, extremistas, consistentes ou hiper-preteristas relegam não só aquelas profecias ao passado, mas também ensinam que todas as profecias do Novo Testamento, incluindo a ressurreição dos mortos (que eles, como Himeneu e Fileto, espiritualizam), o julgamento final e até a Segundo Advento de Jesus Cristo ocorreu em 70 DC. Não há portanto nenhuma futura vinda de Cristo no fim do mundo. Nós estamos já nos novos céus e na nova terra na qual os justos habitam (2 Pedro 3:13). Este mundo irá provavelmente existir para sempre, ou, se não durar eternamente, a Bíblia não tem nada a nos dizer acerca do futuro.

Como o preterismo e a gangrena estão relacionados? Este texto irá expor o preterismo dos modernos pós-milenistas, especialmente os reconstrucionistas. Vamos concentrar nossa atenção no movimento Reconstrucionista porque os homens desse movimento são os autores mais prolíficos no campo do Pós-milenismo e os maiores opositores do Amilenismo Reformado, que eles ridicularizam como escatologia pessimista ou "pessimilenialismo". Figuras representativas nesse movimento são Gary North, Gary DeMar, Kenneth L. Gentry, Jr., e David Chilton. Este artigo vai argumentar que o seu preterismo está se espalhando como uma gangrena através do corpo da verdade Reformada, devorando doutrinas vitais e textos-chave, levando eventualmente e, inexoravelmente, a um explosivo hiper-preterismo. Por agora os pós-milenistas modernos estão resistindo ao hiper-preterismo, mas este texto irá defender que eventualmente o seu sistema deve entrar em colapso sob a sua própria inconsistência. Ele deve sucumbir à gangrena da heresia de Fileto e Himeneu.

domingo, 1 de novembro de 2009

Mais 10 objeções contra 10 razões do testemunho do convertimento de Dave Armstrong ao catolicismo romano. (Continua na próxima postagem)

Baseado no artigo “150 RAZÕES PORQUE ME TORNEI UM CATÓLICO, Testemunho de Conversão de Dave Armstrong”.

O artigo inicia assim:

Depois de se enveredar na busca pela verdade, Dave Armstrong é recebido na Igreja Católica, em 1992 junto com sua esposa Judy. Eis alguns motivos porque deixou o protestantismo.

CONTINUAÇÃO de 11 a 20:


11. O Catolicismo rejeita a “Igreja Estatal” que conduziu os governos a dominar politicamente o Cristianismo.

Objeção 11. Não existe igreja mais estatal em essência do que a Igreja Romana, o Vaticano é uma cidade-estado. Os papas reinavam sobre a maioria dos Estados da Europa. Enquanto as Igrejas Nacionais Protestantes (consideradas estatais) sempre lutaram pela conservação de independência da Igreja perante a política. O Estado Laico foi defendido por muitos protestantes.

O capítulo 23, seção 3, da Confissão de Fé de Westminster, afirma:

Os magistrados civis não podem tomar sobre si a administração da palavra e dos sacramentos ou o poder das chaves do Reino do Céu, nem de modo algum intervir em matéria de fé; contudo, como pais solícitos, devem proteger a Igreja do nosso comum Senhor, sem dar preferência a qualquer denominação cristã sobre as outras, para que todos os eclesiásticos sem distinção gozem plena, livre e indisputada liberdade de cumprir todas as partes das suas sagradas funções, sem violência ou perigo. Como Jesus Cristo constituiu em sua Igreja um governo regular e uma disciplina, nenhuma lei de qualquer Estado deve proibir, impedir ou embaraçar o seu devido exercício entre os membros voluntários de qualquer denominação cristã, segundo a profissão e crença de cada uma. E é dever dos magistrados civis proteger a pessoa e o bom nome de cada um dos seus jurisdicionados, de modo que a ninguém seja permitido, sob pretexto de religião ou de incredulidade, ofender, perseguir, maltratar ou injuriar qualquer outra pessoa; e bem assim providenciar para que todas as assembléias religiosas e eclesiásticas possam reunir-se sem ser perturbadas ou molestadas.
Heb. 5:4; II Cron. 26:18; Mat. 16:19; I Cor. 4:1-2; João 15:36; At. 5:29; Ef. 4:11-12; Isa. 49:23; Sal. 105:15; 11 Sam.23:3


12. Protestantes de Igrejas Estatais influenciaram a elevação do nacionalismo que mitigou contra a igualdade e o Cristianismo universal.

Objeção 12. As Igrejas Estatais tornaram-se uma forma imediata de salvaguardar as doutrinas fundamentais da Reforma Protestante, pois de outro modo as Igrejas Protestantes seriam esmagadas pelo poder político-religioso da Igreja Romana, assim como perseguiram e exterminaram os Valdenses, Albigenses, Hussitas, Huguenotes e outros antes das Igrejas Estatais.

A sangrenta Guerra dos 30 Anos (1618-1648) é prova que os territórios divididos entre católicos romanos e protestantes necessitavam tornar-se estatais. Com o passar do tempo e com uma maior liberdade religiosa (conquistada pelos protestantes) o erro em considerar todo cidadão de um Estado um membro da Igreja de Cristo foi sendo corrigido por muitos grupos protestantes, a exemplo dos Puritanos não-conformistas na Inglaterra.

O Cristianismo Universal é concretizado pela crença em Jesus Cristo através do Sola Scriptura, não através da Igreja como uma “grande arca”. A Palavra de Deus está acima da Igreja.



13. A Cristandade católica unificada – antes do século XVI não tinha sido infestada pelas trágicas guerras religiosas.

Objeção 13. Obviamente seu poder era maior e seu foco era as Cruzadas contra os Muçulmanos. Qualquer um dentro da “arca da igreja romana” que se atrevesse a dizer a verdade bíblica era imediatamente sufocado, caso de John Huss, Tomas Cramer, John Wycliffe, Latimer e outros anônimos martirizados. O Massacre de São Bartolomeu em 1572 fora fruto de uma traição maquinada por Católicos Romanos, o que poderiam fazer os Huguenotes (calvinistas franceses) sobreviventes a não ser buscar refúgio em igrejas protestantes protegidas por Estados?


14. O Catolicismo retém os elementos do mistério, do sobrenatural e do sagrado no Cristianismo, se opondo assim à secularização onde a esfera do religioso em vida se torna muito limitada.

Objeção 14. O Protestantismo Ortodoxo perde seu significado se retirar o sobrenatural e o sagrado do Cristianismo. Se tirarmos o sobrenatural do Cristianismo este se desfaz. O cristianismo liberal fez uma tentativa de eliminar a intervenção sobrenatural da religião cristã por influência do Iluminismo, mas NUNCA o protestantismo histórico! Sem o sobrenatural o cristianismo morre, pois a centralidade da mensagem apostólica está na morte e no milagre da ressurreição de Cristo.

Quanto ao sagrado, o conceito teológico de dicotomia sagrado-secular é antibíblico. Os reformadores derrubaram a noção de que sacerdotes romanos exerciam um trabalho mais santo do que um trabalhador comum. Todos os aspectos da vida são de Deus. “A ação de um pastor em guardar ovelhas... é um trabalho tão bom diante de Deus como a ação de um juiz ao sentenciar, ou um magistrado ao regulamentar, ou de um ministro ao pregar”. (William Perkins)

O Protestantismo Ortodoxo reconhece Deus no mundo, deve haver um desejo de servir Deus no mundo, em cada posição da vida.


15. O individualismo protestante conduziu à privatização do Cristianismo, por meio do que é pouco respeitado em vida de sociedade e política, deixando o “quadro público” estéril de influência Cristã.

Objeção 15. Sem o Protestantismo o livre desenvolvimento das nações, como visto na Europa e América do Norte, teria sido impedido. A velha hierarquia romanista não foi páreo para o reavivamento da ciência e da arte promovido pelo Protestantismo da Europa Ocidental. A influência Calvinista produziu filantropia e engrandeceu os valores morais na sociedade e na política do Ocidente.

O Protestantismo Calvinista influenciou poderosamente a civilização Ocidental. A fundamentação dos estados liberais modernos que sustentam a economia mundial é derivada do Protestantismo. O princípio da autoridade estatal descentralizada, educação pública gratuita, governo representativo e economia capitalista de livre mercado.

O pensamento calvinista é também uma das bases do estilo de vida pós-medieval. Valorização do trabalho, modelo de organização com poder descentralizado, valores cristãos e sacerdotais na vida comum, valorização do indivíduo e políticas anti-clericais são encontradas em seu pensamento e estão muito presentes no estilo ocidental moderno e atual. [http://cowboypopgun.web.br.com/2009/07/07/joao-calvino-500-anos/]

No cenário de formação do Novo Mundo, o Calvinismo é responsável pela fundação dos EUA, um país que foi construído essencialmente por calvinistas.
O calvinismo também é conhecido pela ênfase na educação. A Genebra influenciada por Calvino foi pioneira em iniciativas de educação universal. Calvino foi fundador da Universidade de Genebra e os calvinistas pelo mundo fundaram muitas outras universidades de prestígio, entre elas a Universidade de Princeton, a Universidade de Harvard e a Universidade de Yale.



16. A falsa dicotomia secular protestante conduziu cristãos a se comprometerem, em geral, com políticas vazias. O Catolicismo oferece um vigamento no qual chega a responsabilidade estatal e cívica.

Objeção 16. Responsabilidade estatal e cívica não é privilégio nem exclusividade do Catolicismo Romano. O Protestantismo Ortodoxo exalta a Liberdade Cristã e a Liberdade de Consciência. Isto implica em dizer o que assevera a Confissão de Fé de Westminster (cap. 20, § 2,4):

Só Deus é senhor da consciência, e ele deixou livre das doutrinas e mandamentos humanos que em qualquer coisa, sejam contrários à sua palavra ou que, em matéria de fé ou de culto estejam fora dela. Assim crer tais doutrinas ou obedecer a tais mandamentos como coisa de consciência é trair a verdadeira liberdade de consciência; e requerer para elas fé implícita e obediência cega e absoluta é destruir a liberdade de consciência e a mesma razão.
Rom. 14:4, 10; Tiago 4:12; At. 4:19, e 5:29; Mat. 28:8-10; Col. 2:20-23; Gal. 1: 10, e 2:4-5, e 4:9-10, e 5: 1;. Rom, 14:23; At. 17:11; João 4:22; Jer. 8:9; I Ped. 3: 15.

Visto que os poderes que Deus ordenou, e a liberdade que Cristo comprou, não foram por Deus designados para destruir, mas para que mutuamente nos apoiemos e preservemos uns aos outros, resistem à ordenança de Deus os que, sob pretexto de liberdade cristã, se opõem a qualquer poder legítimo, civil ou religioso, ou ao exercício dele. Se publicarem opiniões ou mantiverem práticas contrárias à luz da natureza ou aos reconhecidos princípios do Cristianismo concernentes à fé, ao culto ou ao procedimento; se publicarem opiniões, ou mantiverem práticas contrárias ao poder da piedade ou que, por sua própria natureza ou pelo modo de publicá-las e mantê-las, são destrutivas da paz externa da Igreja e da ordem que Cristo estabeleceu nela, podem, de justiça ser processados e visitados com as censuras eclesiásticas.
I Ped. 2:13-16; Heb. 13:17; Mat. 18:15-17; II Tess.3:14; Tito3:10; I Cor. 5:11-13; Rom. 16:17; II Tess. 3:6.



17. O Protestantismo se apóia muito em meras tradições de homens (toda denominação origina da visão de um fundador. Assim que dois ou mais destes se contradizem um ao outro, o erro está presente).

Objeção 17. Por princípio o Protestantismo não apoia-se em meras tradições de homens. A autoridade deriva das Escrituras e não depende nem de homens nem da Igreja, assim observa a CFW, cap. 1, § 4, 10:

A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus.

II Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.

X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.
Mat. 22:29, 3 1; At. 28:25; Gal. 1: 10.


18. Igrejas protestantes, de um modo geral, são culpadas em colocar os pastores num pedestal muito alto. Por causa disso, congregações evangélicas experimentam uma severa crise, dividindo-se em outras quando um pastor vai embora, provando-se que suas filosofias e doutrinas são centradas no homem, em lugar de Deus.

Objeção 18. Não há pedestal mais alto do que o do Papa da igreja romana. O endeusamento do homem é um erro condenado pelo Protestantismo Ortodoxo. A Ética Protestante não apoia a exaltação de pastores, e sim a humildade do serviço e toda glória somente a Deus.


19. O Protestantismo, devido à falta da real autoridade e estrutura dogmática, vem se diluindo a cada dia, surgindo então milhares e milhares de denominações. Existem hoje, 33.800 denominações religiosas, cada uma ensinando coisas opostas às outras.

Objeção 19. Este é o preço da liberdade do livre-exame. A Igreja não só é uma instituição, mas como assevera a CFW cap. 25, § 1:

I. A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas.
Ef. 1: 10, 22-23; Col. 1: 18.

Nem todas as chamadas igrejas cristãs são de Cristo, pois a verdadeira Igreja tem suas marcas características, que são: a pregação fiel da Palavra, a correta ministração dos sacramentos e a disciplina eclesiástica. Este é o dogma da Igreja visível.

Como tal, a Igreja se apresenta sobre a terra como Congregações Locais de Crentes; grupos de Confessores vivendo em obediência a Cristo e não ao Papa, usurpador dos atributos de Cristo.



20. O Catolicismo retém a Sucessão Apostólica, necessária para saber o que é a verdadeira Tradição Apostólica. Era o critério da verdade usado pelos primeiros Cristãos.

Objeção 20. A Igreja Católica Romana não pode apoderar-se do que chama de verdadeira Tradição Apostólica quando a sua doutrina está crivada de erros grosseiros. Não há Primazia de Pedro como Papa, isto é um erro exegético primário. Pedro nunca foi Papa, nem este é o representante de Cristo na terra.

CFW, 25.6. Não há outro Cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo; em sentido algum pode ser o Papa de Roma o cabeça dela, mas ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus.
Col. 1:18; Ef. 1:22; Mat. 23:8-10; I Ped. 5:2-4; II Tess. 2:3-4.


Por Raniere Menezes

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Deus odeia o pecado, mas ama ao pecador! É isso mesmo?

Postado por Solano Portela

Podemos aceitar que existe um sentido genérico do amor de Deus. Ele demonstra e fala de amor ao mundo, à humanidade, à sua criação. Como calvinista, não tenho nenhuma dificuldade em aceitar isso. Temos que entender, porém, que no sentido salvífico (a salvação eterna da perdição e condenação do pecado) o amor de Deus é derramado exclusivamente sobre o seu povo e, individualmente, sobre os que ele eficazmente chama para si. Sobre aqueles que responderão, ao chamado eficaz, abraçando a Cristo como único e suficiente Salvador.
A frase "Deus odeia o pecado, mas ama ao pecador", entretanto, por mais que seja proferida e repetida, é uma forma simplista de expressar uma situação complexa, pois realmente é impossível separar o pecado do pecador, como se o pecado fosse uma entidade com vida independente, que apenas se utiliza do corpo e da mente do praticante.Tiago (1.12-15) nos ensina que o pecado é gerado dentro das pessoas, partindo da própria concupiscência, externando sua prática em um relacionamento "simbiótico" (de dependência mútua) com o praticante. Sem barreiras e controles, enfim, sem a redenção, leva à morte.
O pecado é algo odioso em suas manifestações. Estas são verificáveis nas pessoas, pecadoras, sem as quais ele é indescritível e amorfo.
Em Romanos 9.11-18 a Bíblia fala do "aborrecimento" (ódio) de Deus contra Esaú, contrastando com o amor derramado sobre Jacó. Mas a Palavra de Deus expressa em outras ocasiões (além desse caso específico, de Esaú e Jacó) o ódio ("aborrecimento") de Deus a pecadores. Isso ocorre, porque ele é tanto JUSTIÇA como AMOR.Por exemplo, no Salmo 11.5, lemos "O Senhor prova o justo e o ímpio; a sua alma odeia ao que ama a violência". Veja que ele não odeia somente a violência (inexistente, sem o praticante), mas "ao que ama a violência" - uma pessoa, o pecador.
Em Pv. 6.16-18 lemos sobre sete coisas que o senhor abomina (odeia): olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contenda entre irmãos. Quando lemos essa descrição das "coisas" que o Senhor odeia, vemos que elas não são especificamente "coisas", mas são pessoas que realizam certas ações; a descrição é a de pessoas que Deus abomina. Isso fica bem claro nas duas últimas "coisas" - uma pessoa, ou outra, que é: "testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos".
Não resta dúvida, portanto, que pelo menos nessas instâncias específicas Deus odeia pecadores. Consequentemente, isso deve nos fazer cautelosos de dar uma declaração genérica e abrangente de que ele não odeia pecadores, pois esse ensinamento não pode ser atribuído, dessa maneira, à Bíblia e carece de inúmeras qualificações.

Solano Portela

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

BABEL E PENTECOSTES


Uma questão que incomoda muitos cristãos mundo afora é a das “línguas estranhas”, defendidas pelos pentecostais como sinal, como evidência exterior do batismo com o Espírito Santo.

Esse incômodo advém do fato de que é impossível negar a experiência do “falar em línguas”, comum à milhões de pessoas rotuladas de evangélicas e espalhadas pelo planeta.

Diante disso, o cerne do problema reside não na negação da realidade atual de algum fenômeno atinente às “línguas”, mas, com efeito, no ser essas “línguas”, ou não, as mesmas encontradas nas páginas do Novo Testamento.

Uma resposta bíblica definitiva para a problemática apresentada deve passar, creio, pela determinação da natureza e função das “línguas” neotestamentárias, assim como pelo estabelecimento escriturístico do conceito do batismo com o Espírito Santo. Assim procedido, o fenômeno da glossolalia atual pode ser julgado à luz das Escrituras.

BABEL – A ORIGEM DA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA HUMANA

A revelação do Deus Altíssimo, a Escritura Sagrada, mostra-nos que a origem da diversidade linguística se encontra vinculada à construção da torre de Babel, um monumento à glória, ao poder e à autonomia humanas. Além disso, tal construção tinha como fim o não espalhamento humano sobre a terra, contrariamente ao mandato divino de que o homem se multiplicasse e a subjugasse. Eis a revelação infalível da verdade:

1 Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar. 2Sucedeu que, partindo eles do Oriente, deram com uma planície na terra de Sinar; e habitaram ali. 3 E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem. Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa. 4 Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gênesis 11:1-4 RA).

Salienta-se de maneira explícita a unidade de linguagem a essa altura do desenvolvimento humano: “... em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar”. Também, evidencia-se o desejo pela glória humana e a flagrante desobediência aos mandatos da Criação, o da multiplicação da espécie humana e o da subjugação de toda a terra: “... edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra”.

Certamente, o propósito (ou propósitos) humano acima especificado entrava em conflito com o desígnio divino de ter o seu reino espalhado sobre toda a superfície da terra. Aliás, visando isso é que Deus deliberara criar e, de fato, criara o homem: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gênesis 1:26 RA).

Tendo em vista a concretização desse seu desígnio, de que seu domínio através da instrumentalidade humana se espraiasse sobre toda a terra, Deus deu mandatos bem específicos à humanidade: “27 Criou Deus (…) o homem à sua imagem (...). 28 E (…) os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a...” (Gênesis 1:27-28 RA).

Logo, a intenção humana demonstrada na construção da cidade e da torre em Babel colidia diretamente com o propósito divino de que seu reino, seu domínio, exercido através do homem, estivesse difundido sobre todo o planeta criado.

Por tal motivo, Deus deliberou, assim como na criação do homem, impedir o progresso da empresa humana contrária à sua vontade revelada, e fez isso confundindo a linguagem dos homens envolvidos no “projeto Babel”, originando a multiplicidade de línguas, e, assim também, de nações, conforme, igualmente, a revelação infalível da verdade:

5 Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam; 6 e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. 7 Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro. 8 Destarte, o SENHOR os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade. 9 Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o SENHOR a linguagem de toda a terra e dali o SENHOR os dispersou por toda a superfície dela” (Gênesis 11:5-9 RA).

Destaque-se que Deus viu que “... o povo é um...” e que tinham “... todos (…) a mesma linguagem...”. Então, Yahweh decidiu confundi-los, de modo que cada um não entendesse a linguagem do outro, e assim a construção da cidade e da torre fosse interrompida, e os homens fossem dispersos pela superfície da terra: Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o SENHOR a linguagem de toda a terra e dali o SENHOR os dispersou por toda a superfície dela”.

Deus pôs fim, portanto, ao reino humano absolutamente unificado, e com a dispersão dos homens por toda a superfície da terra manteve vivo o seu desígnio de ter um povo e seu reino estabelecido em todos os cantos do planeta.

Porém, homens pecadores não redimidos não poderiam fazer parte do reino de Deus, nem dominar a terra e sujeitá-la em nome de Yahweh. Essa realidade levou Deus a revelar um pouco mais do seu propósito redentivo, tendo em vista o estabelecimento, ou restabelecimento, de seu reino conforme originalmente pretendido com a criação do homem. A solução do problema, portanto, deveria passar pela redenção dos homens espalhados pela terra e organizados em nações distintas.

O ANÚNCIO DA CONVERGÊNCIA DAS NAÇÕES EM UM SÓ CORPO

Chamou Deus, então, a Abraão e estabeleceu uma aliança redentora com ele, na qual lhe fez a seguinte promessa: “... de ti farei uma grande nação (...); em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:2-3 RA).

De forma mais explícita, Yahweh demonstrou que a aliança estabelecida com Abraão era redentora porque tinha a finalidade da restauração da comunhão de homens pecadores com Ele: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência” (Gênesis 17:7 RA). Ser o Deus de Abraão e da descendência deste era o fim da aliança.

Deus já deu claras indicações que a descendência de Abraão, a nação que dele brotaria, seria um tronco no qual seriam enxertadas as nações (as famílias da terra). A junção desse tronco com as nações formaria a grande e verdadeira nação da qual Abraão seria o pai.

Na instituição da circuncisão, Deus revelou que mesmo os que não fossem da estirpe de Abraão poderiam fazer parte do povo, desde que recebessem o “sinal da aliança”, que Paulo chamou de “... selo da justiça da fé...” (Romanos 4:11 RA): “O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua” (Gênesis 17:12-13 RA).

Sendo a circuncisão o “selo da justiça da fé”, pois, ela era o selo da própria redenção, e simbolizava esta, indicando que até mesmo os estrangeiros seriam aceitos na família de Abraão, em seu povo, pela demonstração de fé de serem incluídos no pacto, por representação, no caso dos infantes, ou pela demonstração de arrependimento e fé, no caso dos adultos, expressos pelo corte no prepúcio da sua carne, que indicava o recebimento do Deus de Abraão como o seu Deus.

Desse modo, a circuncisão além de simbolizar e selar a redenção servia como sinal exterior de pertinência à descendência prometida à Abraão. Porém, não se pode olvidar que, por natureza, a circuncisão era “selo da justiça da fé”, o que implica que ela era o selo exterior de uma obra interior do Espírito Santo no coração do homem pecador, do homem incrédulo, impenitente, “incircunciso”.

Ao contrário do que muita gente pensa, pois, a circuncisão era um rito que exigia prévio arrependimento e fé. Não era um simples corte com o intuito da dar identidades étnica, religiosa e nacional.

Logo, desde o início, Deus não deixou de revelar que a descendência verdadeira de Abraão seria uma descendência piedosa, redimida, regenerada pelo Espírito Santo, e que esses redimidos seriam compostos tanto dos descendentes biológicos do pai da fé quanto de pessoas oriundas das demais nações da terra.

A posterior revelação do Antigo Testamento é a expansão, a progressão da revelação da aliança abraâmica, e, nesse sentido, foi erigida em cima do fundamento acima exposto. Por exemplo, ainda na Lei, no Pentateuco, na instituição da páscoa, quando da libertação de Israel do Egito, foi dito por Moisés ao povo, como ordenança do Senhor:

43 Disse mais o SENHOR a Moisés e a Arão: Esta é a ordenança da Páscoa: nenhum estrangeiro comerá dela. 44 Porém todo escravo comprado por dinheiro, depois de o teres circuncidado, comerá dela. 45 O estrangeiro e o assalariado não comerão dela.46 O cordeiro há de ser comido numa só casa; da sua carne não levareis fora da casa, nem lhe quebrareis osso nenhum. 47 Toda a congregação de Israel o fará. 48 Porém, se algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser celebrar a Páscoa do SENHOR, seja-lhe circuncidado todo macho; e, então, se chegará, e a observará, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela. 49 A mesma lei haja para o natural e para o forasteiro que peregrinar entre vós” (Êxodo 12:43-49 RA).

Como se vê, há uma proibição de que qualquer estrangeiro participasse da celebração da páscoa, contudo, se tal estrangeiro recebesse o sacramento da circuncisão, que, como vimos, exigia prévia regeneração, prévio arrependimento e fé, poderia participar da páscoa, como “... o natural da terra...”. Nesse caso, o estrangeiro participava da mesma redenção gozada por Israel, simbolizada pela páscoa.

Nos Salmos também encontramos referências à conversão das nações ao Deus de Israel. Neles é dito a respeito do Messias: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão” (Salmos 2:8 RA). Também é preconizada a conversão dos gentios a Yahweh: “Lembrar-se-ão do SENHOR e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias das nações” (Salmos 22:27 RA).

Os profetas, igualmente, falaram do que até aqui foi exposto a respeito do propósito divino de integrar no tronco criado a partir de Abraão, Israel, as nações. Por exemplo, no profeta Oséias isso é dito de maneira inequívoca: “Semearei Israel para mim na terra e compadecer-me-ei da Desfavorecida; e a Não-Meu-Povo direi: Tu és o meu povo! Ele dirá: Tu és o meu Deus!” (Oséias 2:23 RA).

Diante de tudo isso, resta claro que Deus revelou, desde os primórdios de sua igreja na terra, que à nação estabelecida na “... terra de Canaã...” (Gênesis 17:8 RA), que falava a “... língua de Canaã...” (Isaías 19:18 RA), seriam enxertadas muitas outras nações, que falavam muitas outras línguas.

A INCOMPREENSÃO JUDAICA DO PROPÓSITO REDENTOR UNIVERSAL DE YAHWEH

Não obstante toda essa revelação do Antigo Testamento sobre a inclusão das gentes no tronco Israel, os judeus, os descendentes segundo a carne de Abraão, não a compreenderam, e desenvolveram um nacionalismo extremado, de forma que se julgavam os únicos objetos do amor, eletivo/redentivo, divino.

Grande parte da energia do labor apostólico foi gasta em derrubar esse nacionalismo judaico. As Escrituras inspiradas do Novo Testamento dedicam uma grande parte dos seus escritos na explicação do propósito divino que incluía os gentios em seu plano redentor.

O prólogo do evangelho de João é um golpe mortal no nacionalismo judaico. Nele, João afiança a divindade de Cristo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus” (João 1:1-2 RA). Após isso, João assevera ser Cristo o Mediador de toda a Criação: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. (…) O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu” (João 1:3;10 RA).

Somente após fincar esse fundamento é que o apóstolo expôs a essência do evangelho: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16 RA).

Por que João teria todo esse trabalho de destruir o nacionalismo dos judeus, se esses não fossem absolutamente preconceituosos, julgando-se serem os únicos alvos da redenção do Deus altíssimo?

Paulo, outro judeu, e também apóstolo, enfrentou o mesmo problema. Teve que argumentar muitas vezes para convencer os preconceituosos judeus de que os gentios faziam parte do plano redentor de Deus, e isso segundo as Escrituras do Antigo Testamento. Por exemplo, o apóstolo teve de indagar claramente, e responder também claramente: “É, porventura, Deus somente dos judeus? Não o é também dos gentios? Sim, também dos gentios” (Romanos 3:29 RA).

O desprezo dos judeus pelos gentios era tanto que alcançava até seus vizinhos mais próximos, os samaritanos, pelo fato destes serem oriundos de miscigenação entre judeus e gentios que habitavam a região de Samaria.

Vê-se claramente isso na conversa de Jesus com a mulher samaritana: “Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)?” (João 4:9 RA)

Os judeus, procurando desacreditar e ofender Jesus, disseram a respeito Dele: “... Porventura, não temos razão em dizer que és samaritano e tens demônio?” (João 8:48 RA)

Mesmo os discípulos de Cristo não escapavam desse tipo de preconceito. Pedro, para exemplificar, precisou ser convencido por Deus a ir à casa do gentio Cornélio. A visão dada ao apóstolo de um lençol contendo toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu, e ainda a ordenação de uma voz para que ele comesse essas coisas, ao que ele resistiu por três vezes, dizendo que jamais comera coisa alguma comum e imunda, foi uma preparação para o encontro dele com Cornélio, pois comuns e imundos eram como os gentios eram considerados pelos judeus (cf. Atos 10:12-33).

Somente após tudo isso é que Pedro pôde exclamar: “Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas” (Atos 10:34 RA). Não obstante, algum tempo depois teve de ser repreendido por Paulo, por haver se afastado dos gentios, ocasião em que comia com eles, porque temeu os judeus que andavam com Tiago (cf. Gálatas 2:11-14).

Muito mais poderia ser escrito, mas creio que o que escrevi é suficiente para dar uma ideia da mentalidade judaica a respeito do preconceito que os descendentes biológicos de Abraão nutriam em relação às nações, aos não-judeus.

Tudo isso demonstra o quão equivocados estavam os intérpretes judeus das Escrituras a respeito da revelação divina do Antigo Testamento. Não é sem razão que Jesus lhes disse: “... Errais, não conhecendo as Escrituras...” (Mateus 22:29 RA).

Todas essas coisas, tanto o propósito de Deus de ter seu povo e seu reino estabelecidos em toda a terra, bem como o errôneo entendimento judaico de seu exclusivismo redentivo não podem ser desprezados no tratamento bíblico do fenômeno glossolálico ocorrido a partir do pentecostes.

Como, então, Deus faria para que os preconceituosos judeus, o tronco do seu povo, compreendessem que os gentios também faziam parte de seu plano redentivo? O evento de pentecostes e o seu posterior desdobramento nos dão a resposta.

PENTECOSTES – CUMPRIMENTO PROFÉTICO

Lucas, em seu segundo livro dirigido a Teófilo, Atos dos Apóstolos, narrou, após acurada investigação histórica, e isso é o que se infere de seu primeiro livro, o segundo evangelho, que Jesus, após a sua ressurreição, aos seus apóstolos “... se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus” (Atos 1:3 RA).

Durante esse período de aparição aos seus apóstolos, Lucas nos diz que Jesus lhes deu “... mandamentos por intermédio do Espírito Santo...” (Atos 1:2 RA). Entre esses mandamentos, certamente, estava este: “E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes” (Atos 1:4 RA).

Por promessa do Pai, referia-se Jesus ao derramamento do Espírito Santo, conforme Lucas esclarece imediatamente à frente: “Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (Atos 1:5 RA).

Qualquer mente honesta não deixará de perceber a vinculação, feita pelo próprio João Batista nos evangelhos, que há entre o batismo com o Espírito Santo e o batismo com água, indicando ser este último um símbolo/selo externo do primeiro. Doutro modo, não haveria nenhum sentido nessas palavras de João, o Batista: “Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mateus 3:11 RA). Em outras palavras, é como se João estivesse dizendo: “eu vos aplico o símbolo, o quem vem após mim vos aplicará a realidade”.

Mas Lucas foi além, e registrou que esse batismo com o Espírito Santo se atava, inexoravelmente, à pregação do evangelho à todas as nações, em cumprimento ao propósito universalista (em contraposição ao nacionalismo judaico) de Yahweh, já discutido acima: “... recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8 RA). Seja qual for o significado do batismo com o Espírito Santo, que discutiremos mais abaixo, até aqui já há indícios de que ele também tem a ver com a unidade de Jerusalém, e Judeia, e Samaria, e confins da terra.

Em busca de resposta à nossa indagação, de como Deus demonstraria aos judeus a inclusão dos gentios em seu povo, continuemos na narração lucana a respeito do derramamento do Espírito Santo, o que ocorreu no dia de Pentecostes:

1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; 2 de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. 3 E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. 4 Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem. 5Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu. 6 Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. 7Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? 8 E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? 9 Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, 10 da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, 11 tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus? 12 Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer?” (Atos 2:1-12 RA).

Tem-se que se extrair coisas importantes, fundamentais dessa passagem. Primeiramente, é-nos dito que “... estavam todos reunidos no mesmo lugar...”. Depois, que esses tais, todos, “.... ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” [και επλησθησαν παντες πνευματος αγιου και ηρξαντο λαλειν ετεραις γλωσσαις καθως το πνευμα εδιδου αποφθεγγεσθαι αυτοις (Atos, WH 2:4)] .

A expressão grega “ετεραις γλωσσαις” (heterais glossais), “outras línguas”, indica que lhes foi concedida a faculdade, o poder, de falar, sem prévio aprendizado, em idiomas humanos distintos daquele que era a língua materna deles. O vocábulo grego “γλωσσα” (glossa) tem o significado de “língua como membro do corpo, órgão da fala; língua, idioma ou dialeto usado por um grupo particular de pessoas, diferente dos usados por outras nações” (Léxico de Strongs). E o termo “ετερος” (heteros) traduz-se por “o outro, próximo, diferente” (Strongs). Tratando-se da qualidade de uma coisa, essa palavra significa “outro: isto é, alguém que não é da mesma natureza, forma, classe, tipo” (Strongs).

Logo, as línguas faladas em Pentecostes foram idiomas humanos, concedidos pelo Espírito aos discípulos de Cristo de forma sobrenatural, ou seja, sem que eles tivessem aprendido tais idiomas.

Outra coisa importante que se deve extrair do derramamento do Espírito, e que se conecta estreitamente ao que acabei de expor, é o fato de que a audiência dos discípulos de Cristo foi constituída de homens de todas as nações da terra, de todas as províncias do império romano, do chamado “mundo habitado”: “Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu”. Lucas os descreve como sendo “... partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos (…), tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios”.

Esses homens, judeus e prosélitos dessas nações, ficaram admirados com o que presenciaram, e indagaram: “... Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? (…) Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?”

Eles perceberam que, apesar de os discípulos de Cristo serem todos galileus, como disseram, os ouviam falar em suas “próprias línguas as grandezas de Deus” (“ακουομεν λαλουντων αυτων ταις ημετεραις γλωσσαις τα μεγαλεια του θεου”).

As línguas que ouviram foram, segundo disseram, “nossas próprias línguas” (“ημετεραις γλωσσαις”), e o conteúdo ouvido nessas línguas foi: “as grandezas de Deus” (“τα μεγαλεια του θεου”). Embora muitas línguas fossem faladas, ouviram a mesma mensagem.

Qualquer bom observador não deixará de notar as correlações e contrastes desse evento com o de Babel. Neste, os homens buscaram fazer célebre a grandeza humana: “... tornemos célebre o nosso nome...”. No Pentecostes, o próprio Espírito procurou fazer célebre o nome de Deus, proclamando “as grandezas de Deus”.

Em Babel, os homens estavam todos em um mesmo lugar, e falavam a mesma língua. Em Pentecostes, havia homens representando todas as nações, e os discípulos de Cristo, que falavam a mesma língua, estavam todos reunidos no mesmo lugar.

Deus, em Babel, de forma supernatural, distribuiu línguas distintas aos que não a aprenderam tendo em vista frustrá-los em seus propósitos de autoglorificação, tornando impossível a comunicação entre eles. Em Pentecostes, o Cristo exaltado distribuiu línguas aos Seus discípulos, que também não as aprenderam, colimando a exaltação do Deus Altíssimo, fazendo com que homens de diversas nações e idiomas entendessem a mesma mensagem. Em suma, em Babel as línguas foram para juízo, confusão e divisão; em Pentecostes, foram para a graça, ordem e união.

Sem sombra de dúvida, Deus esperava que os judeus, depositários da revelação divina do Antigo Testamento, fossem capazes de relacionar Pentecostes a Babel, e entender as distinções entre cada acontecimento.

Desse modo, as línguas em Pentecostes serviram como sinal do propósito universalista de Deus, de ter um povo, cumprindo a Sua promessa a Abraão, dentre todas as famílias da terra.

Contudo, a audiência dos discípulos de Cristo ficou atônita e perplexa, ao ponto de indagar: ”... Que quer isto dizer?”

Pedro respondeu a essa indagação fazendo uma exposição das Escrituras e afirmando a ressurreição e a exaltação de Jesus como o Messias prometido a Israel. Referiu-se também o apóstolo à profecia de Joel:

16 Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: 17 E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; 18 até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. 19 Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. 20 O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor. 21 E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Atos 2:16-21 RA).

O apóstolo, inspirado pelo Espírito, compreendeu que os últimos dias falados pelo profeta Joel haviam chegado e que o derramamento do Espírito marcava a inauguração desses dias. Também, compreendeu que esse derramamento viria acompanhado de dons espetaculares: “... vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos...”. Com certeza Pedro aplicou as palavras de Joel, o qual utilizou os dons que conhecia em sua época, ligados ao ministério profético (profetizar, sonhar e ter visões), ao fenômeno das línguas que ocorreram naquele dia, ainda mais que elas foram instrumentos de proclamação das grandezas de Deus, transmitindo conhecimento Dele, sendo colocadas diretamente por Ele na boca de seus servos, e entendidas por todos os que as ouviram, o que indica claramente a natureza revelacional desse fenômeno.

Além disso, ao aplicar toda a profecia de Joel ao evento Pedro utilizou uma linguagem típica de juízo: Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor”. Isso é indicativo de que as línguas também serviram de sinal de juízo.

O ápice, porém, da aplicação da profecia de Joel por parte de Pedro ao evento de Pentecostes é que tudo o que ele explanara convergia para a salvação de pecadores de qualquer nacionalidade, conforme as suas próprias afirmações: “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Toda aquela manifestação visível do Espírito colimava a salvação de almas de todas as nacionalidades. Um pouco mais à frente em seu discurso, Pedro deixou isso mais explícito: “… para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos 2:39 RA).

Como resultado da revelação inspirada, tanto das línguas concedidas pelo Espírito, como da pregação apostólica de Pedro, houve uma conversão em massa naquele dia, que a Escritura chama de acréscimo à igreja que acabara de receber o batismo com o Espírito: “Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas” (Atos 2:41 RA).

O evento de Pentecostes criara uma igreja unida no Espírito, e a essa igreja o Cristo exaltado batizou (enxertou) cerca de três mil pessoas de várias nações da terra em um só dia, as quais passaram a fazer parte da igreja visível pelo recebimento do batismo com água.

Para quem trata a Escritura com a devida seriedade, não resta nenhuma dúvida a respeito da função sinalizadora, inclusive de cumprimento profético, das línguas ocorridas no dia de Pentecostes.

PENTECOSTES E SEUS DESDOBRAMENTOS

Com o intuito de deixar bem claras as posições até aqui defendidas, analisarei, ainda no livro de Atos dos Apóstolos, três outros acontecimentos vinculados ao derramamento do Espírito Santo.

O primeiro deles está no contexto da obra evangelística entre os samaritanos. Deixou-nos relatado o médico Lucas que “Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo” (Atos 8:5 RA). Informou-nos também o mesmo escritor que “Quando (…) deram crédito a Filipe, que os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, assim homens como mulheres” (Atos 8:12 RA).

É interessante observar que o conteúdo da pregação de Filipe era Cristo e o reino de Deus, e os que foram batizados o foram porque creram nessa mensagem do evangelista. Por si só, isso já indica que o batismo em água tem o significado de inclusão no corpo de Cristo, a igreja, além do perdão dos pecados e da obra interior do Espírito.

Contudo, apesar de os samaritanos já haverem recebido o evangelho, demonstrando a fé pelo recebimento do sacramento do batismo, ao saberem desse fato os apóstolos, que estavam em Jerusalém, enviaram Pedro e João a Samaria:

14 Ouvindo os apóstolos, que estavam em Jerusalém, que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João; 15 os quais, descendo para lá, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo; 16 porquanto não havia ainda descido sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em o nome do Senhor Jesus. 17 Então, lhes impunham as mãos, e recebiam estes o Espírito Santo” (Atos 8:14-17 RA).

Mister se faz relembrar que no derramamento do Espírito em Pentecostes não estão relacionados os samaritanos, e aqui é uma situação totalmente nova, e que se vincula ao que já afirmei acima: “Seja qual for o significado do batismo com o Espírito Santo (…) já há indícios de que ele também tem a ver com a unidade de Jerusalém, e Judeia, e Samaria, e confins da terra”.

Isso explica o fato de que, apesar de já haverem recebido o batismo em nome de Cristo, que, conforme já adiantei é símbolo/selo do batismo com o Espírito, ainda não haviam recebido o Espírito Santo. Então, houve a necessidade do envio de dois apóstolos para Samaria, a fim de que, ao orarem e imporem aos mãos sobre os samaritanos estes recebessem o Espírito Santo de forma visível, como ocorrera no dia do Pentecostes.

Que esse recebimento veio de forma visível, identificável externamente, é comprovado pelo depoimento de Lucas sobre Simão, o mágico: “ Vendo, porém, Simão que, pelo fato de imporem os apóstolos as mãos, era concedido o Espírito [Santo] , ofereceu-lhes dinheiro, propondo: Concedei-me também a mim este poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo” (Atos 8:18-19 RA).

A única explicação para que o derramamento do Espírito tenha sido retardado entre os samaritanos até à chegada dos apóstolos é a de que eles, como fundamentos da igreja, necessitavam legitimar a obra do Espírito entre os Samaritanos, e dessa forma o nacionalismo judaico fosse pouco a pouco sendo destruído pela pregação do evangelho universalista de Cristo.

De forma clara e sucinta, na medida em que o evangelho saiu de Jerusalém e Judeia para Samaria foi necessária a autoridade apostólica para atestar a obra regeneradora do Espírito, aplicando a redenção de Cristo entre os não-judeus. Visto por outro prisma, na verdade, foi o Espírito quem corroborou a autoridade apostólica, fazendo deles, como já disse, o fundamento da igreja, testemunhando sobre a autoridade que Cristo lhes delegou, e somente a eles, através dos sinais e milagres que através deles operava, como nos legou o autor da carta aos Hebreus: “dando Deus testemunho juntamente com eles (os apóstolos), por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade” (Hebreus 2:4 RA).

O segundo evento que pretendo tratar sobre o derramamento do Espírito é o ocorrido na casa do gentio Cornélio.

Após ser convencido por Deus a ir à casa do centurião, conforme já fiz alusão, Pedro expõe a Palavra de Deus, enfatizando a ressurreição de Cristo, e termina com essas palavras: “Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” (Atos 10:43 RA).

Então, o que ocorreu na ocasião dessa pregação de Pedro? Que a própria Palavra de Deus nos diga:

44 Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. 45 E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; 46 pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro: 47 Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? 48 E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então, lhe pediram que permanecesse com eles por alguns dias” (Atos 10:44-48 RA).

Houve, nessa ocasião, um visível derramamento do Espírito sobre os gentios. E como se prova isso? Pelo fato de que os judeus, “os fiéis que eram da circuncisão”, “... admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus”.

Os judeus reconheceram que os gentios haviam recebido o Espírito Santo porque “... os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus”. Assim como no dia de Pentecostes, o derramamento do Espírito sobre os gentios veio acompanhado de um sinal visível, as línguas, e isso atestava a inclusão dos gentios no povo de Deus, pois foi por isso que os judeus reconheceram que aos gentios também foi concedido o dom do Espírito. Mais uma comprovação de que as línguas serviram como sinal de graça, de inclusão das nações no tronco que é Israel, fazendo-as participantes da benção de Abraão. Também como em pentecostes, os judeus ouviram línguas e a compreenderam e o conteúdo da mensagem era: “as grandezas de Deus”, pois ouviam os gentios “falando em línguas e engrandecendo a Deus”.

Então, Pedro argumentou com seus consortes judeus: “Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo”? O apóstolo estava arrazoando com seus companheiros: podemos recusar o símbolo àqueles que já receberam a realidade? Podemos negar a inclusão dos gentios à igreja visível, se o próprio Deus já os inclui na igreja invisível? Incontinenti, Pedro “... ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo...”. Agora os gentios faziam parte da igreja de Cristo, tanto invisível quanto visível, pelo recebimento do batismo. As línguas serviram de sinal dessa inclusão, e como o conteúdo delas foram as grandezas de Deus, seu conhecimento, há clara indicação de seu caráter revelacional.

Todavia, ainda foi preciso Pedro fazer uma defesa dessa inclusão dos gentios no povo de Deus perante os apóstolos e irmãos que se encontravam na Judeia. Eis o final da sua defesa:

15 Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. 16 Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. 17Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?” (Atos 11:15-17 RA)

Nessa sua defesa Pedro vincula o batismo com o Espírito Santo com o batismo com água, ao lembrar-se das palavras de Jesus: “... João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo”.

Então, termina sua explanação da seguinte forma: “Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus”? O argumento de Pedro é muito claro: se Deus havia dado a realidade, o batismo com o Espírito Santo, a regeneração, o perdão dos pecados, a inclusão dos gentios no povo de Deus, na igreja invisível, quem era ele para resistir a Deus e não batizá-los com água, haja vista que eles receberam o Espírito, fato corroborado pelas línguas que falaram? A vinculação do batismo com água, mais uma vez, ao batismo com o Espírito Santo desmente a tese pentecostal de ser este uma segunda bênção, e claramente a Escritura do Novo Testamento ensina ser tal batismo o início da experiência cristã.

Deve-se perceber que em todos esses casos até aqui tratados o batismo com o Espírito está sempre relacionado com a salvação, com o perdão dos pecados e com a inclusão de pessoas no corpo de Cristo, na igreja de Deus. Em relação aos gentios não foi diferente, pois foi exatamente assim que os judeus entenderam: “E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida” (Atos 11:18 RA).

Tanto os demais apóstolos quanto os outros discípulos que ficaram na Judeia entenderam que “... também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida”. Compreenderam que o derramamento do Espírito foi uma obra salvadora de Deus, que causou arrependimento e fé no evangelho. As línguas, pois, foram apenas um sinal visível da inclusão dos não-judeus no povo de Deus, um meio visível para quebrar o preconceito dos judeus.

Por fim, tratarei do terceiro caso, o do derramamento do Espírito sobre os discípulos de João Batista em Éfeso, pela imposição de mãos de Paulo:

1 Aconteceu que, estando Apolo em Corinto, Paulo, tendo passado pelas regiões mais altas, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos, 2 perguntou-lhes: Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes? Ao que lhe responderam: Pelo contrário, nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo. 3 Então, Paulo perguntou: Em que, pois, fostes batizados? Responderam: No batismo de João. 4Disse-lhes Paulo: João realizou batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que vinha depois dele, a saber, em Jesus. 5 Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus. 6 E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam” (Atos 19:1-6 RA).

Destaca-se, nesse acontecimento, de imediato, o fato de que o padrão para o recebimento do Espírito é simultâneo à obra da regeneração, de produção de fé e arrependimento: “Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes?”

Embora a indagação paulina acima seja, no grego, a seguinte, ειπεν τε προς αυτους ει πνευμα αγιον ελαβετε πιστευσαντες, em que o verbo receber está no 2 aoristo ativo do indicativo, ελαβετε, e o particípio πιστευσαντες é um aoristo ativo, o que poderia indicar uma ação de crer anterior ao recebimento do Espírito, todavia o particípio aoristo pode e é usado no Novo Testamento para indicar uma ação concomitante com a do verbo principal, que faz parte da ação do verbo principal, segundo lição de William D. Mounce:

“O grego coinê frequentemente emprega o particípio para expressar ação que faz parte da ação de um verbo finito aoristo, e esse é claramente o caso na pergunta de Paulo. Crer e receber o Espírito Santo fazem parte de uma só experiência” (Fundamentos do Grego Bíblico, São Paulo: Editora Vida, 2009, p. 309).

Ainda sobre a questão do tempo do particípio aoristo em relação ao verbo principal, o mesmo autor citado, na mesma obra, afirma:

“Enquanto o particípio presente indica uma ação que ocorre ao mesmo tempo que o verbo principal, o particípio aoristo geralmente indica uma ação que ocorre antes do tempo do verbo principal. Existem, no entanto, muitas exceções a essa regra geral. (É por isso que é apenas uma regra geral). Por exemplo, muitos particípios aoristos indicam uma ação que acontece no mesmo tempo que o do verbo principal” (p. 321).

Na minha opinião, julgo não ser impossível que o uso do particípio aoristo em um caso como o acima tratado tenha a intenção de apenas indicar uma precedência lógica, e não temporal, tendo-se em vista a experiência subjetiva do pecador, do crer em relação ao receber o Espírito Santo. Digo isso com base no ensino geral da Escritura sobre o assunto, que certamente preconiza serem essas ações simultâneas.

Algo que não pode ser olvidado no relato de Lucas sobre o evento envolvendo essas pessoas em Éfeso é que elas responderam a Paulo que nem sequer ouviram falar que existia o Espírito Santo, apesar de haverem sido batizadas no batismo de João Batista, o qual pregava que após ele viria aquele que batizaria com o Espírito Santo.

Mas, no que consiste a promessa do evangelho, conforme Pedro já expusera aos judeus no dia de Pentecostes? Deixemo-lo falar por si mesmo:

36 Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. 37 Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? 38 Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. 39 Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos 2:36-39 RA).

Após ouvirem a pregação de Pedro, os judeus ficaram com os corações compungidos, e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: “Que faremos, irmãos?” À isso Pedro respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” .

Vejamos que a promessa do evangelho, para os judeus (“para vós outros”) e para os gentios (“os que ainda estão longe”) é o perdão dos pecados e o dom do Espírito Santo. A pregação do evangelho não pode separar essas duas coisas, pois elas são intrinsecamente ligadas, e simbolizadas pelo batismo com água.

Não é de admirar, pois, que as pessoas em Éfeso nem fossem ainda convertidas, pois ainda não conheciam esta mensagem, havendo a necessidade de que Paulo as ensinasse que o batismo de João foi um batismo de arrependimento, mas que esse arrependimento deveria levar à fé naquele que haveria de vir. Somente após entenderem isso é que foram batizadas em Cristo e receberam o Espírito Santo: “Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam”.

Mais uma vez aqui a concessão do Espírito, de forma visível, acompanhada de línguas, está ligada à pregação do evangelho e ao ministério apostólico, nesse caso específico o de Paulo, que se tornara, já nessa ocasião, o apóstolo aos gentios, haja vista o conflito que ocorre entre ele e Barnabé e os judeus em Antioquia: “Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios” (Atos 13:46 RA).

O derramamento do Espírito sobre esses discípulos em Éfeso veio acompanhado de línguas como confirmação do ministério apostólico de Paulo entre os gentios, certamente. Ademais, ainda corroborando o indício do qual falei de serem as línguas de natureza revelacional, é-nos ditos que os discípulos em Éfeso “... tanto falavam em línguas como profetizavam”.

Convém-me, pois, sumariar as conclusões até aqui tiradas a respeito do derramamento do Espírito em Pentecostes e seus desdobramentos posteriores, narrados no livro de Atos.

BREVE SUMÁRIO

O dom do Espírito em Pentecostes veio acompanhado de glossolalia, isto é, do fenômeno de outras línguas humanas como sinal de inclusão das nações no tronco do povo de Deus, Israel. Tal fato contrasta com o evento ocorrido em Babel, quando a glossolalia visou a desunião humana, enquanto em Pentecostes visou a unidade da raça no Espírito.

Esse derramar do Espírito sempre esteve vinculado à obra redentora de Cristo, à obra da salvação, em nenhum lugar indicando ser algo distinto da obra salvadora de Deus em Cristo, contrariando a doutrina carismática da “segunda bênção”, do “revestimento”.

As línguas, nesse contexto, apenas serviram de sinal de bênção e maldição. Benção para as nações, que agora, ao contrário de Babel, estavam sendo enxertadas no povo de Deus, Israel, e, para o Israel incrédulo, sinal de maldição, haja vista que estava sendo rejeitado como nação, por não haver dado crédito ao Messias que lhe havia sido enviado.

A mensagem que acompanhou as línguas sempre foi a das “grandezas de Deus”, ou seja, a de sempre revelar os seus atributos, a sua obra, o seu conhecimento, demonstrando serem elas de natureza revelacional.

Em todas as vezes o fenômeno glossolálico esteve inexoravelmente vinculado ao ministério apostólico, corroborando o fato de que as línguas serviram mesmo de sinal de expansão do Reino de Deus entre as nações, haja vista que os apóstolos constituem os fundamentos da igreja, assim como os doze filhos de Jacó constituíram o fundamento das tribos de Israel.

As línguas só serviram de sinal exterior do batismo com o Espírito Santo na medida em que esse significa a própria obra da regeneração, a inclusão de pecadores mortos em seus delitos e pecados no corpo de Cristo, na igreja. Nesse sentido, o batismo com o Espírito Santo tem um significado que vai desde o perdão dos pecados até à pertinência ao povo de Deus. Envolve, pois, justificação, perdão, arrependimento, fé e inclusão no corpo místico de Jesus Cristo. Todas essas coisas sobre o batismo com o Espírito podem ser ditas pela simples vinculação, que a Escritura faz, dele com o batismo com água, estabelecendo entre eles uma relação, respectivamente, de realidade e símbolo.

Porém, pela simples evidência de ser o livro de Atos um livro histórico, necessário se faz a comprovação de todas essas conclusões pela exposição doutrinária apostólica, que buscarei nas cartas paulinas.

SOBRE O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO

Sobre a inclusão dos gentios no povo de Deus há farta literatura paulina, mostrando o seu pensamento sobre esse evento, sobre esse desígnio redentor de Deus.

Por exemplo, na carta aos Efésios Paulo nos deixou escrito:

11 Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas,12 naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. 13Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. 14 Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, 15 aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, 16 e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. 17 E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; 18 porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. 19 Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus,20 edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Efésios 2:11-20 RA).

Paulo expõe aos crentes da cidade de Éfeso que antes da conversão deles eles estavam “sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa...”. Porém, eles, que antes estavam longe, foram “... aproximados pelo sangue de Cristo...”.

Essa aproximação fez com que ele dissesse aos efésios que eles já não eram mais “... estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, (...) da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”.

A obra de Cristo, assim, incluíra os gentios no povo de Deus, fazendo-os parte da “família de Deus”. Porém, essa obra foi uma reconciliação não somente dos gentios com Deus, mas também dos próprios judeus, pois ela, a obra de Cristo, reconciliou “... ambos (judeus e gentios) em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade”.

Justamente porque judeus e gentios, por causa da obra expiatória de Cristo, estavam reconciliados com Deus, Paulo pôde escrever aos efésios: “E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito”. O Espírito, pois, é o elemento, se que assim podemos falar, que dá a unidade do corpo e que torna possível o acesso ao Pai de judeus e gentios. A obra expiatória de Cristo é o fundamento dessa unidade, mas a sua concretização é realizada pelo Espírito.

E fica mais fácil entender o que Paulo quer dizer com isso ao lembrarmos das suas palavras em outra carta, dirigindo-se aos crentes de Roma: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Romanos 8:9 RA). Ter o Espírito de Cristo faz de alguém participante de seu corpo, independentemente de ser judeu ou gentio, haja vista que o mesmo Paulo afiançou:

26 Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; 27 porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. 28 Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. 29 E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3:26-29 RA).

Para Paulo, qualquer um, judeu ou gentio, que houvesse sido batizado em Cristo, de Cristo havia sido revestido, a ele pertencia, e assim era descendente de Abraão e herdeiro segundo a promessa. Obviamente, à luz do que ele escreveu e que transcrevi acima, essa unidade judaico-gentílica era dada pelo Espírito Santo, que congregava todos, judeu, grego, escravo, liberto, homem e mulher, em um só corpo.

E em nenhum lugar, creio, Paulo deixou esse seu pensamento mais claro do que na primeira epístola aos Coríntios:

12 Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. 13 Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1 Coríntios 12:12-13 RA).

Tal afirmação de Paulo está no contexto de seu ensino sobre a variedade de dons e ministérios na igreja. A respeito disso, dessa diversidade, Paulo acabara de afirmar: “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente” (1 Coríntios 12:11 RA).

Contudo, ele vai além da operação do Espírito distribuindo individualmente dons. O apóstolo apela, em seu argumento, para o fato de que todos, judeus ou gregos, escravos ou livres, foram batizados em um corpo, sendo-lhes “... dado beber de um só Espírito”.

Resta mais do que óbvio, pois, que o batismo com o Espírito Santo é a própria obra pela qual Deus introduz cada membro, seja quem for, no corpo de Cristo, e assim une cada um ao outro pela pertinência a esse corpo.

Não resta lugar para a crença pentecostal para o batismo com o Espírito Santo como uma segunda bênção, pois é ensinado claramente nas Escrituras ser ele a experiência inicial da fé cristã. Como escreveu John Stott, “... o dom do Espírito Santo é uma experiência cristã universal, por ser uma experiência crista inicial. Todos os cristãos recebem o Espírito no momento em que começam as suas vidas cristãs” (Batismo e Plenitude do Espírito Santo, São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 38). Destaque-se que para Stott, dom do Espírito Santo e batismo com o Espírito Santo são a mesma coisa, conforme suas próprias palavras: “... será que este “dom” do Espírito prometido é a mesma coisa que o “batismo” do Espírito Santo? [...] Esta é a minha convicção...” (Op.cit. p. 23).

Não sendo o batismo com o Espírito Santo uma segunda bênção, segue-se que também as línguas não podem ser um sinal externo perene dessa benção, conforme igualmente advoga a equivocada teologia pentecostal.

O CARÁTER REVELACIONAL DAS LÍNGUAS NEOTESTAMENTÁRIAS

Após um capítulo explanatório sobre o amor, Paulo passou a expor sobre o dom de profecia e línguas, e fez isso escrevendo aos coríntios da seguinte forma:

1 Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis. 2 Pois quem fala em outra língua (ο γαρ λαλων γλωσση) não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios (πνευματι δε λαλει μυστηρια). 3 Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando. 4 O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja. 5 Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação” (1 Coríntios 14:1-5 RA).

Desejo evocar à lembrança que, no livro de Atos, todas as abordagens sobre o conteúdo da mensagem das línguas nos mostraram ser ele a mesma e única coisa, tratando-se das “grandezas de Deus”, e isso eu apontei como indício do caráter revelacional das línguas, haja vista que traziam conhecimento de Deus, e amplio para dizer que este conhecimento era controlado pelo Espírito, de modo que este conhecimento era absolutamente verdadeiro, ou seja, equivalente ao conhecimento inspirado, profético.

Ao tratar da questão na igreja coríntia, Paulo também assumiu o caráter revelacional das línguas, posto que disse aos membros dessa igreja: “Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios” [ο γαρ λαλων γλωσση ουκ ανθρωποις λαλει αλλα θεω ουδεις γαρ ακουει πνευματι δε λαλει μυστηρια].

O apóstolo disse que o que fala em língua fala em mistérios, e isso dá ocasião para os pentecostais afirmarem que as línguas de que Paulo trata são línguas incompreensíveis, idiomas não humanos, são línguas dos anjos, etc. Todavia, basta um simples estudo do uso das palavras gregas γλωσσα (glossa) e μυστηριον (musterion) no Novo Testamento para se derrubar a tese pentecostal.

Concernentemente à palavra γλωσσα (glossa) não há necessidade de repetirmos o que já estabelecemos alhures, indicando se tratar, semanticamente, de idiomas humanos. Na passagem em questão de 1 Coríntios, haja vista não haver nenhum qualificativo para o termo que leve à outra conclusão, reafirmamos o que foi dito em relação ao vocábulo também utilizado em Atos dos Apóstolos. Se alguma diferença há aqui é a falta de um qualificativo para o vocábulo γλωσσα, visto que até mesmo a expressão “Pois quem fala em outra língua…”, que começa o versículo 2, por exemplo, a qual traduz a frase grega “ο γαρ λαλων γλωσση…” (que literalmente se traduz “o, pois, que fala em língua…”), mostra-nos que o termo “outra” foi introduzido na tradução portuguesa, não fazendo parte do original grego. Seria de se esperar que o Espírito ao inspirar um apóstolo a escrever para a igreja de todos os tempos o tivesse movido a qualificar o termo de modo que as gerações futuras entendessem que essas línguas faziam parte de uma categoria especial, e eram distintas dos idiomas humanos.

Continuando a argumentação, agora em relação à palavra μυστηριον (misterion), Jesus, por exemplo, elevou-se em louvor ao Pai pela sua soberana escolha de revelar o evangelho àqueles que não eram sábios aos olhos do mundo, enquanto o ocultava dos sábios e entendidos: “Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Mateus 11:25-26 RA).

Após escutarem a parábola do semeador, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram por que falava por parábolas, “Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido” [ο δε αποκριθεις ειπεν οτι υμιν δεδοται γνωναι τα μυστηρια της βασιλειας των ουρανων εκεινοις δε ου δεδοται] (Mateus 13:11).

Não é difícil chegar à conclusão de que os “mistérios do reino dos céus” (τα μυστηρια της βασιλειας των ουρανων) são exatamente as coisas ocultadas aos sábios e instruídos e reveladas aos pequeninos (discípulos). A palavra “mistério” é usada por Jesus, portanto, como sinônima da vontade revelada de Deus, e não como significando algo incompreensível, ininteligível, a não ser para aqueles a quem Deus continua ocultando deles, não porque elas não estejam agora reveladas, mas porque a eles não foi concedido conhecer (compreender) esses mistérios.

No mesmo sentido Paulo também utilizou a palavra “mistério” (gr. μυστηριον). Na carta aos Efésios, Paulo escreveu que Deus predestinou seus eleitos para serem filhos de adoção por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito da sua vontade, para louvor da sua graça, que Ele derramou abundantemente sobre eles (os eleitos), “desvendando-nos o mistério da sua vontade [το μυστηριον του θεληματος αυτου], segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo” (Efésios 1:9 RA).

Como se vê, aqui também a palavra “mistério” está vinculada com aquilo que antes era desconhecido e agora estava revelado, manifesto, dado a conhecer. A graça de Deus havia sido derramada pela revelação do seu propósito antes oculto, mas agora dado a conhecer em Cristo.

Na carta que escreveu aos romanos Paulo disse: “ Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações” (Romanos 16:25-26 RA).

Aqui também o “mistério” é o que esteve “... guardado em silêncio nos tempos eternos, e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas...”.

Em vão há de se procurar outro sentido da palavra μυστηριον no Novo Testamento. Por pura questão de extensão me contentarei apenas com os poucos exemplos que transcrevi. Mas, como escreveu O. Palmer Robertson, “O termo ‘mistério’ é usado vinte e oito vezes no Novo Testamento. Se descartarmos por um instante a ocorrência em 1 Coríntios 14, presentemente em consideração, vinte e sete casos falam do ‘mistério’ como sendo algo que outrora esteve oculto, mas que agora foi revelado” (Línguas Hoje? www.monergismo.com/textos/pentecostalismo/Palmer_Linguas_Hoje.pdf>acessado em 11.10.2009).

Por que apenas na passagem de 1 Co 14:2 o termo “mistério” haveria de adquirir outra significação, distinta de todo o Novo Testamento, sem nenhum fundamento para isso? Os pentecostais preferem satisfazer seus próprios caprichos a dar ouvidos à voz da Escritura.

Se levarmos em conta que o conteúdo das línguas, segundo o livro de Atos, eram as grandezas de Deus, e o fato de que as línguas faladas eram idiomas distintos do que aqueles que falam estavam acostumados a falar, não há nenhuma dificuldade em entender porque o que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus, porque no Espírito ele fala das grandezas de Deus, e por nenhum dos presentes é entendido, senão pelo próprio Deus.

Mas Paulo estabeleceu, no contexto, uma relação mais clara e direta entre as línguas e seu caráter revelacional: “Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação”.

Nessa passagem específica, Paulo iguala as línguas interpretadas à profecia, haja vista que nesse caso há edificação de toda a igreja, pois há comunicação da revelação divina de modo compreensível a todos, e é essa revelação que traz edificação. O motivo porque o profeta era considerado por Paulo superior ao que falava em línguas não interpretadas é que este demonstrava uma imaturidade espiritual, buscando apenas o seu próprio proveito, e não o de todos. Isso é entendido à luz do que o apóstolo escrevera sobre o amor, o qual “... não procura os seus interesses...” (1 Coríntios 13:5 RA). O que busca o interesse da congregação, a sua edificação, dá clara demonstração de estar amplamente dotado do dom supremo, o amor, pois apesar de restar a fé, a esperança e o amor, este último é o maior de todos, e os que seguem o seu caminho se mostram superiores aos demais, que buscam apenas a sua própria satisfação.

Mas resta, ainda, uma complicação nessa passagem. Como alguém que não interpretava as línguas poderia ser edificado por elas? Será se tal pessoa, mesmo sem interpretá-las, compreendia o que falava?

Creio não haver como negar que mesmo sem interpretação aquele que falava as línguas compreendia a mensagem que elas lhe transmitiam, sofrendo com isso edificação. Porém, se compreendia, por que simplesmente não repassava à congregação aquilo que entendeu? É justamente por causa do caráter revelacional das línguas. A profecia sempre foi a comunicação inspirada de Deus, e Paulo igualou as línguas interpretadas à profecia. Isso quer dizer que a interpretação cuidava da “qualidade” da mensagem, isto é, garantia, por obra sobrenatural do Espírito que a mensagem tinha origem divina e era a Palavra de Deus revelada e normativa para aquele tempo em que o cânon do Novo Testamento não estava acabado. À parte do dom interpretativo, não haveria nenhuma garantia de que a Palavra de Deus, ligada à comunicação do mistério do evangelho, estivesse sendo corretamente transmitida à congregação.

Logo, era necessária a operação sobrenatural do Espírito, através do dom da interpretação, para que as línguas se igualassem à profecia, no sentido de comunicação da revelação de forma segura e verdadeira, pois, de outra forma, as línguas sempre traziam revelação, nem sempre inteligíveis quando não pudessem ser interpretadas.

AS LÍNGUAS COMO SINAL DE MALDIÇÃO

Creio ser desnecessário rediscutir o papel das línguas como sinal de inclusão das nações no tronco do povo de Deus, Israel, fenômeno espiritual distinto do ocorrido em Babel, haja vista que foi suficientemente tratado acima, quando da exposição de passagens do livro de Atos dos Apóstolos.

Não obstante, naquela ocasião também aludi serem as línguas sinal de juízo, inclusive citando o fato de que Pedro usou toda a linguagem do profeta Joel ao evento do Pentecostes: Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor”.

Segundo o evangelista Mateus, João Batista pregava: “Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível” (Mateus 3:11-12 RA).

João demonstrava, assim, que a obra do Messias seria dupla: batismo com o Espírito Santo e batismo com fogo. Usando do paralelismo típico do pensamento hebraico, João, o Batista, explicava que a obra do Messias do batismo com o Espírito Santo corresponderia ao recolher o trigo no celeiro, enquanto que o batismo com fogo consistiria em queimar a palha em fogo inextinguível.

Ao contrário do que muitos pensam, essa obra do Messias ocorreria de forma simultânea, pois ao mesmo tempo em que daria vida aos seus escolhidos e revelaria o Pai a eles, deixaria os demais na morte espiritual e ignorantes a respeito daquele que lhe havia enviado. Grande parte de Israel seria rejeitada e endurecida. Este é o batismo com fogo. Outra parte seria atraída a Cristo. Este é o batismo com o Espírito Santo.

Na explicação da parábola do semeador, Jesus fez alusão ao endurecimento de parte de Israel, ao citar as Escrituras do Antigo Testamento: “... A vós outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles” (Marcos 4:11-12 RA).

Desse modo, as parábolas serviam de instrumento de revelação para uns, mas de ocultação para outros. Para estes últimos, pois, as parábolas eram um claro sinal de juízo, de Deus estar ocultando de parte de Israel o seu desígnio redentor, de modo que não viessem “.. a converter-se...”, e houvesse “... perdão para eles”.

De igual forma funcionaram as línguas no Novo Testamento. Como vimos, para os eleitos de Deus, mesmo sendo eles de todas as partes do império romano, o Espírito os fez ouvir as grandezas de Deus, o que resultou em um conversão numerosa no sermão de Pedro pregado no dia de Pentecostes. Para os demais, as línguas só serviram como sinal de juízo, deixando-os em confusão e sem entendimento.

Diante disso é que Paulo escreveu aos coríntios:

20 Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos. 21 Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. 22 De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, e sim para os que crêem. 23Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos? 24 Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e por todos julgado; 25 tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós” (1 Coríntios 14:20-25 RA).

Paulo chama a atenção dos coríntios para que eles não fossem meninos no juízo, mas sim na malícia. Diante dessa sua repreensão é que ele cita o profeta Isaías: “Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor”. Reitero que, apesar de o apóstolo haver falado de que na lei estava escrito o que escreveu, na verdade, sua citação é do profeta Isaías, capítulo 28: 11-12.

Contudo, a citação do profeta Isaías já encontrava apoio no Livro da Lei, haja vista que Moisés já profetizara: “O SENHOR levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra virá, como o vôo impetuoso da águia, nação cuja língua não entenderás” (Deuteronômio 28:49 RA).

Portanto, os judeus entenderiam muito bem quando outras línguas estivessem sendo faladas na terra de Israel, mormente nas dependências do Templo.

E Paulo apelou que seus leitores coríntios também entendessem isso, que as línguas serviam de sinal de juízo para os incrédulos (judeus), pois toda vez que elas eram faladas e eles não a entendiam, assim como as parábolas, atestavam que o reino lhes fora arrebatado e entregue aos gentios, que, agora, em conjunção com o remanescente de Israel, compunham a família de Deus.

Então, era a mais absurda das meninices que os coríntios insistissem em falar entre eles em línguas não interpretadas, haja vista que elas jamais foram para servir de sinais para crentes, mas sim para descrentes. A busca deveria ser pela profecia que a todos edificava, pois trazia a comunicação clara, e em língua local, da mensagem divina.

É esta mensagem clara, inteligível pelos que ouvem que levaria os descrentes eleitos ao arrependimento, e à adoração a Deus, e ao reconhecimento pelos judeus de que Deus, estava, de fato, no meio da igreja gentílica dos coríntios.

É a lei de Deus, a sua Palavra, o instrumento que o Espírito utiliza para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo, por isso Paulo fala que os segredos do coração estariam revelados, pois pelo padrão da justiça os homens seriam avaliados e veriam a sua miséria. Se interpretadas, as línguas cumpririam a mesma função da profecia, o que atesta o caráter revelacional daquelas.

Logo, também nessa sua função, verifica-se a inutilidade das línguas nos dias atuais, visto estar amplamente estabelecido que os gentios fazem parte do povo de Deus. Deve-se se lembrar que a distribuição dos dons espirituais levava em conta a utilidade: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (1 Coríntios 12:7 RA).

A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS

Tendo em vista o que acabei de afirmar, que os dons visavam um fim proveitoso, aproveito o ensejo para afiançar que a Escritura Sagrada é suficiente para o exercício de qualquer ministério dentro da igreja, pois o próprio Paulo afirmou: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16-17 RA).

Paulo assevera que a Escritura é inspirada por Deus, o que garante a sua infalibilidade, a sua inerrância, a sua autoridade. Além disso, essa Escritura, por ser inspirada, é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça, de modo que “o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. O apóstolo escreve, explicitamente, que a Escritura contém toda a instrumentação necessária para que “o homem de Deus” desempenhe o seu ministério.

E não só isso, a Escritura é suficiente porque nela está contida tudo aquilo que é necessário para a fé, para a vida e para a adoração dos servos de Cristo. É exatamente isso o que preconiza a Confissão de Fé de Westminster (CFW), em seu capítulo I, item VI: “Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela”.

Por causa dessa suficiência, a mesma Confissão declara como artigo de fé dos cristãos reformados e, assim, da igreja histórica de Cristo, que cessaram todos os outros modos de Deus falar a seu povo:

Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providencia manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos, e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isso torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo (CFW, I, I).

“A Confissão Belga” que, juntamente com “Os Cânones de Dort” e “O Catecismo de Heidelberg”, compõe a chamada “três formas de unidade”, não destoa da CFW, haja vista que reza em seu artigo 7: “Cremos que a Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e, suficientemente, ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo. Nela, Deus descreveu por extenso, toda a maneira de servi-lo”.

É uma crença substancial da fé reformada, pois, que aqueles antigos e diferentes modos, em diferentes tempos, através dos quais Deus revelou a sua vontade a seu povo, cessaram.

Consequentemente, é uma contrariedade à fé reformada a alegação da atualidade de determinados dons revelacionais, como o de profecia e línguas. Todavia, muitos, no Brasil e no exterior, dizendo-se reformados, destroem o princípio da sola Scriptura, e edificam em cima de fundamento estranho ao dos reformadores e dos seus legítimos sucessores.

É uma tristeza que tais pessoas tenham sido infectadas pela doutrina antiblíblica do pentecostalismo, e por não terem coragem e conhecimento para refutar esses erros fazem “política de boa vizinhança”, procurando conformar à fé reformada aquilo que lhe é absolutamente antagônico.

Esses tais não se lembram do duro combate de Lutero e Calvino contra a chamada ala radical da Reforma, a qual, de certa forma, colocou o fundamento do pentecostalismo do século XX.

CONCLUSÃO

O fenômeno glossolálico ocorrido no dia de Pentecostes e em épocas imediatamente posteriores não surgiu em um vácuo, mas como demonstrei foi algo anunciado, que se relaciona teologicamente com o evento da construção da cidade e da torre em Babel e com a aliança abraâmica e sua progressão revelatória.

Nessa sua conexão histórico-teológica, a glossolalia serviu tanto de sinal de que a benção de Abraão prometida a todas as nações estava, finalmente, realizando-se, bem como também que a descendência biológica deste, o Israel étnico, estava sendo rejeitado, sendo as línguas para ele um sinal de juízo, de maldição, conforme anunciado na Lei e nos Profetas. Porém, Deus reservou para si um remanescente desse Israel.

Ao expiar o pecado com o sangue da sua cruz, Jesus Cristo aboliu a inimizade de judeus e gentios com Deus, e tornou possível que ambos os povos, pelo Espírito, tenham acesso ao Pai, como um só corpo. Como todos, judeus e gentios, que fazem parte desse corpo tem o Espírito, foram nele batizados, compondo a família de Deus. Sendo assim, o batismo com o Espírito é a experiência inicial da vida cristã, e não uma segunda bênção como preconiza a teologia pentecostal.

Exteriormente a obra do Espírito é simbolizada pelo sacramento do batismo com água, rito introdutório do fiel na igreja visível, portanto selo/sinal do batismo com o Espírito Santo, o qual introduz o pecador redimido na igreja invisível.

Destarte, resulta ser uma distinção desautorizada pela Escritura a feita pelos pentecostais entre crentes batizados e crentes não batizados com o Espírito Santo. Esta distinção se efetua, de fato, entre aqueles que são salvos (batizados com o Espírito Santo) e aqueles que são perdidos (que não são batizados com o Espírito).

No Novo Testamento, as línguas como sinal exterior do batismo com o Espírito Santo, isto é, da salvação, sempre estiveram vinculadas ao ministério apostólico e à pregação do evangelho de Cristo, devido ao caráter revelacional delas.

Em todos os casos, salvo se alguém quiser contrariar a gramática grega, as línguas faladas no Novo Testamento sempre foram idiomas humanos, estrangeiros para aquele que falava sem prévio aprendizado, e isso ocorria sempre vinculado ao caráter revelacional das línguas bem como à sua função de sinal de bênção e/ou maldição, conforme longamente discutido acima.

Todavia, Deus não deixou seu povo sem compensação pela cessação de determinados dons, pelo contrário, Deus lhe deu algo bem mais grandioso, bem mais sólido, deu-lhe a Escritura Sagrada, que contém todo o conselho de Deus concernente à sua glória e à salvação e vida do homem.

Diante de tudo isso, do significado histórico-teológico das línguas, do seu caráter revelacional, da sua função sinalizadora durante o batismo com o Espírito Santo dos dois grandes grupos componentes da igreja, judeus e gentios, com o intuito de demonstração da obra unificadora do Espírito, e em face da suficiência da Escritura Sagrada, resta-me afirmar que as línguas hoje faladas não são as mesmas encontradas nas páginas do Novo Testamento, tendo-se em vista que estas cumpriram plenamente a sua destinação histórica, teológica e redentiva.

Não obstante, se as minhas afirmações terminassem no parágrafo imediatamente acima eu não passaria de um covarde, desprovido do verdadeiro amor bíblico, motivado pelo medo, pelo sentimentalismo ímpio e pela falsa piedade.

Se as línguas hodiernas não são as mesmas do Novo Testamento, então elas são um embuste, uma falsidade que tem origem não no Espírito de Deus, mas no pai da mentira, no diabo. Isso é uma questão de lógica: se algo não é verdadeiro, é falso. Se é falso, não pode ter origem no “... Espírito da verdade...” (João 14:17 RA).

Não querendo entrar em questões escatológicas em sentido estrito, mas colimando extrair um princípio bíblico, faço transcrição das palavras de Paulo contidas em sua segunda epístola aos Tessalonicenses:

9 Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, 10 e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. 11 É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, 12 a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça” (2 Ts 2:9-12 RA).

O princípio do qual falo é que sempre que os homens rejeitam a verdade, Deus lhes envia a operação do erro, como justo juízo por não acatarem a sua Palavra: “... não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça”.

E como vem a operação do erro? Segundo “... a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça...”.

Após um longo período de trevas, Deus trouxe sua maravilhosa luz novamente a brilhar bem forte no mundo ocidental, através do evento da Reforma. Não tardou para que os homens fossem pouco a pouco suprimindo as verdades trazidas novamente à lume. Foram sendo esquecidas as doutrinas da justificação pela fé, da soberania de Deus, da suficiência da Escritura, etc., até que no lugar delas prevaleceram as doutrinas arminiana e pentecostal, ambas estreitamente vinculadas, e ambas essencialmente antagônicas à fé reformada.

A prevalência dessas doutrinas é o justo juízo de Deus sobre a nossa geração e sobre outras que nos antecederam, que se cercaram de mestres segundo as suas próprias concupiscências.

O único remédio para essa situação é o sangue de Cristo, a graça divina. Por isso, conclamo aos que estão mergulhados no pecado da ignorância a respeito dos dons espirituais que verdadeiramente se arrependam, e que busquem de Deus o perdão e o gosto pela verdade, a fim de ver se Deus, em sua infinita bondade, os livra do laço ao qual estão presos.

Ao escrever esse artigo meu intento foi o de que ele contribua para corroborar a fé daqueles que já estão firmes na verdade, mas também o de abrir os olhos daqueles que estão escravizados pelo erro do pentecostalismo, os quais, assim como os judeus do primeiro século, de quem Paulo escreveu, têm escamas nos olhos e não conseguem enxergar verdades tão límpidas, tão nítidas, expostas na Escritura Sagrada.

Que Deus me conceda a graça de atingir o meu desígnio, que, em última instância, é o seu próprio desígnio instalado em meu coração pela sua santa Palavra e pelo seu Santo Espírito.

Por Célio Lima.